- Nº 2564 (2023/01/19)

Prioridade à acção e à luta

Editorial

Esta primeira quinzena de 2023 desmente cabalmente o ditado «ano novo, vida nova».

Aumentos de preços na alimentação, na energia, nos combustíveis prosseguem um caminho tortuoso que se iniciou lá atrás, no último trimestre de 2021.

Dificuldades sem fim no acesso à habitação, com as rendas cada vez mais caras e com as taxas de juro a crescer de forma galopante, colocando muitas famílias à beira do colapso financeiro.

Degradação dos serviços públicos, que, como se sabe, não começou com os alvores do novo ano, desde logo do Serviço Nacional de Saúde, mas também da Escola Pública, sem respostas aos seus profissionais e sem os investimentos necessários.

Contenção salarial que confirma, agora no sector privado, as opções que o Governo tomou, seja para os parcos aumentos na Administração Pública, condenando os trabalhadores, uma vez mais, a perderem poder de compra, seja para a actualização do Salário Mínimo Nacional.

Mas como a desgraça não toca a todos, o ano novo também trouxe lucros velhos para os grupos económicos, que crescem na exacta medida em que os trabalhadores e o povo vêem aumentar as suas dificuldades, e o Governo prossegue alegremente sem dar resposta às injustiças e desigualdades crescentes e aos problemas que se avolumam.

E não é a sucessão de casos mal explicados no Governo – inseparável da natureza, conteúdo e métodos do grande capital, da exploração, da política de direita e dos seus executantes e defensores, os sucessivos escândalos nos grupos económicos e financeiros, a promiscuidade entre o poder político e o poder económico, a corrupção destapada à medida dos interesses de tapar o sol com a peneira – que altera essa dura realidade.

O ano novo começa, de facto, com a velha política de direita imposta ao povo português, envolta na tão velha estratégia de prosseguir uma ofensiva ideológica para criar um ambiente mediático, político e ideológico propício a ataques ao regime democrático, ao papel do Estado na economia e mesmo na sociedade, à alienação e à promoção das agendas das forças reaccionárias.

 

Mas há ainda dois outros traços que estes dias confirmam.

Por um lado, que, independentemente dos esforços que o grande capital faz para alimentar válvulas de escape e canalizar justos descontentamentos para acções inconsequentes e divisionistas, alimentando falsas alternativas, o que marca os dias que passam é o prosseguimento da luta dos trabalhadores e das populações, que cresce – por melhores salários, pelos direitos, contra o aumento do custo de vida, pela reabertura de serviços públicos e na defesa de respostas de qualidade.

Luta que nas próximas semanas prosseguirá, seja em direcção ao Dia Nacional de Indignação, Protesto e Luta, a 9 de Fevereiro, com greves e paralisações já anunciadas em inúmeras empresas e locais de trabalho de todos os sectores, que terá expressão convergente nas Praças de Indignação; seja com o mês de esclarecimento e luta dos trabalhadores da Administração Local, que se iniciou esta semana; seja com a Greve Nacional de Professores por distritos, promovida pela FENPROF, e com a Manifestação Nacional de Professores a 11 de Fevereiro; seja na Jornada de luta dos Reformados que se concretizará a 24 de Janeiro; seja com novas acções contra o aumento do custo de vida; seja ainda nas acções em defesa da paz.

Luta em que o Movimento Sindical Unitário, nas suas diversas expressões, reafirma o seu papel central e determinante, confirmando que a sua força radica na sua natureza de classe e no respeito pelos seus princípios e características: organização de massas, unitária, democrática, independente e solidária.

Por outro lado, que é na acção, na intervenção e na iniciativa do PCP que se pode encontrar a alternativa de que o País precisa.

Uma acção próxima dos trabalhadores e do povo, auscultando os diversos sectores, como aconteceu num grande encontro do Secretário-geral do Partido com reformados ou na visita a uma esquadra de polícia e na audição com forças e serviços de segurança.

 

Um Partido que insiste na proposta alternativa para uma vida melhor para todos, ainda que ela encontre a barreira dos partidos do arco da política de direita, como aconteceu esta semana quando propusemos na Assembleia da República medidas para controlar os preços do cabaz alimentar, rejeitadas por PS, PSD, CH e IL.

Um Partido que, como o Secretário-geral deixou claro nos comícios em São João da Madeira e Tondela, luta todos os dias pela resolução dos problemas concretos, que não encontrarão resposta na alternância entre os partidos da política de direita, com a manutenção ou mesmo aprofundamento das políticas de exploração e empobrecimento, ao serviço dos interesses do grande capital, antes exigem uma política alternativa, patriótica e de esquerda, e uma alternativa política que lhe dê corpo.