Imortalizada por Amália Rodrigues, a popular canção que o fascismo instrumentalizou para passar a imagem de um povo pobre, mas feliz, é da autoria do luso-catalão Reinaldo Edgar de Azevedo e Silva Ferreira (1922-1959), natural de Barcelona, e foi interpretada pela primeira vez por Sara Chaves, cantora portuguesa de origem angolana. O poeta, que Óscar Lopes compara a Fernando Pessoa, viveu toda a sua curta vida em Moçambique e nunca viu a sua obra publicada. É filho do jornalista, dramaturgo e realizador de cinema português Reinaldo Ferreira, o Repórter X, que na segunda década do século passado trabalhava como correspondente em Barcelona, onde se separa da mulher, já grávida, Lucília Ferreira. A alcunha de Repórter X vem de ser essa a forma como assinava as críticas à ditadura militar de Primo Rivera, fundador do partido fascista espanhol, a Falange. Reinaldo Ferreira filho é também o autor do poema «Menina dos olhos tristes», imortalizado por Adriano Correia de Oliveira e proibido pelo fascismo. Da sua obra destaca-se ainda os poemas «Receita para fazer um herói» e «A que morreu às portas de Madrid», alusivo à guerra civil espanhola. Injustamente esquecido, deixou-nos a sua genialidade: «Mínimo sou, / Mas quando ao Nada empresto / A minha elementar realidade, / O Nada é só o resto.»