- Nº 2556 (2022/11/24)

Defender os valores e projecto de Abril combater a desfiguração constitucional

PCP

«Tendo sido desencadeado o processo de revisão constitucional, o PCP intervirá no sentido de defender os valores de Abril e aprofundar o projecto de futuro que a Constituição comporta».

João Oliveira, membro da Comissão Política do PCP, reiterou, desta forma, o propósito dos comunistas portugueses na iniciativa promovida pelo Chega, mas secundada imediatamente por PSD, IL e PS.

Em conferência de imprensa realizada a semana passada, o dirigente comunista denunciou o contexto e objectivos que o processo aberto pretende cumprir (ver página 11), e assegurou que, além da intervenção com propósitos distintos, o Partido dará «firme combate a concepções antidemocráticas que visam a imposição de retrocessos e a liquidação de liberdades e direitos».

João Oliveira considerou, ainda, «significativo» que o PSD tenha apresentado um projecto de revisão constitucional como nunca antes, e notou que o facto de o PS admitir algumas daquelas propostas é «um prenúncio» da «base de um entendimento mais alargado» com o PSD.

O membro da Comissão Política explicou, depois, que «as opções de PSD, IL e Chega estão bem visíveis no texto dos projectos que apresentaram». Mais concretamente quando avançam propostas que branqueiam o fascismo e escancaram as portas aos seus herdeiros; limitam liberdades com o recurso ao estado de excepção; legalizam a devassa das comunicações dos cidadãos por parte dos serviços de informações; admitem o regresso da "fichagem" de pessoas e famílias; condicionam o pluralismo da expressão política democrática; reabilitam o recurso a penas perpétuas e tratamentos cruéis ou degradantes; recuperam os expedientes inquisitoriais de inversão do ónus da prova em matéria criminal».

«É o carácter reaccionário e retrógrado das opções de PSD, IL e Chega que sustenta propostas que eliminam direitos das comissões de trabalhadores; apagam as responsabilidades do Estado e liquidam direitos sociais na saúde, na educação ou na habitação, e condicionam os meios e recursos ao cumprimento das suas funções sociais; põem em conflito diferentes gerações de portugueses para justificar a negação de direitos», prosseguiu.

Sentido oposto

De carácter antagónico são as propostas que o PCP apresenta no actual processo de revisão constitucional, insistiu João Oliveira, cujas são:

O PCP pretende, ainda, fixar os mandatos do PGR, do Provedor de Justiça e do Presidente do Tribunal de Contas; repor a inviolabilidade do domicílio à noite, salvo em situação de flagrante delito; retomar a proibição da extradição de cidadãos nacionais, bem como de cidadãos estrangeiros, nos casos em que se apliquem nos países de destino penas de prisão perpétua ou de duração indeterminada; especificar garantias especiais da retribuição dos trabalhadores.

Nos propósitos do Partido estão, igualmente, atribuir ao Presidente competências na área dos serviços de informações; substituir a referência a «menores» por «crianças e jovens», de acordo com o direito internacional relativo à sua protecção; aumentar as matérias incluídas na reserva de competência da AR; elevar as leis das finanças locais e das finanças das regiões autónomas; acolher a audição dos partidos representados nas Assembleias Legislativas das regiões autónomas para a nomeação e exoneração do Representante da República; aplicar o regime de incompatibilidades e impedimentos da AR e do Governo às assembleias das regiões autónomas e aos governos regionais.