Ao longo de quatro dias (de 24 a 27 de Outubro), os deputados do PCP no Parlamento Europeu percorreram outras tantas ilhas do arquipélago. Começaram em São Jorge, onde constataram a prevalência da sazonalidade do emprego ligado ao turismo e a reprodução da pobreza entre gerações, os baixos salários e a intensidade laboral na fábrica de conservas Santa Catarina, e as dificuldades dos pequenos produtores que teimam na actividade.
No dia seguinte, no Faial, sobressaíram igualmente questões como o abandono escolar precoce como factor de perpetuação do ciclo de pobreza, ao que acresce a erosão acelerada do poder de compra, as dificuldades e desigualdades no apoio à produção de leite, mesmo entre ilhas, mas, sobretudo, o magno problema da carência e articulação dos transportes, quer dentro e entre ilhas, quer para fora do arquipélago. No contacto com bolseiros de investigação científica, João Pimenta Lopes e Sandra Pereira constataram obstáculos como a precariedade dos vínculos e a inexistência, na prática, de progressão nas carreiras.
Já na Terceira, dia 26, à denúncia dos baixos salários, os trabalhadores de uma empresa leiteira acrescentaram a tentativa do patronato, com a complacência da UGT, de impor um acordo de empresa que lhes é lesivo. Nos matadouros, os trabalhadores também lutam pela definição das carreiras e a progressão no quadro da Administração Pública, foi possível aquilatar. De resto, nesta ilha, os eleitos comunistas em Estrasburgo recolheram inúmeros testemunhos de comerciantes e populares que dão conta da urgência de aumentar rendimentos de trabalhadores e pensionistas, bem como os respectivos direitos, por forma a mitigar a degradação económico-social que é já indisfarçável nas ruas e lojas.
Na última jornada, em São Miguel, as questões da exiguidade e compressão salarial, das carreiras e progressão, também estiveram em destaque – nos contactos com trabalhadores dos sectores privado e público, nas fábricas de brita e conservas como nas escolas e serviços públicos diversos, tendo, depois, os pescadores insulares reclamado e dado exemplos acerca das normas e decisões absurdas impostas pela UE, salientando que pretendem trabalhar, e não viver de apoios.
Justas medidas
No final do périplo açoriano, João Pimenta Lopes e Sandra Pereira deixaram várias propostas. Entre estas estão aumentos de acréscimo regional ao salário mínimo em 2,5 pontos percentuais e da remuneração complementar, do abono de família e do complemento à reforma em 15%; de aumento e diversificação da produção regional e investimento no setor da transformação; de reforço da rede pública de creches para assegurar a cobertura das necessidades; de aumento dos recursos para o Serviço Regional de Saúde; de combate à desertificação e emigração através de políticas públicas; de criação e implementação de planos de requalificação urbana, combatendo a especulação imobiliária, e de combate à precariedade laboral.
Ao nível dos transportes, entre outras matérias, é urgente criar um passe intermodal para as ilhas do triângulo (Pico, São Jorge e Faial), bem como adquirir duas embarcações para transporte de passageiros, carga e viaturas que assegurem, durante todo o ano, as ligações marítimas entre todas as ilhas.