Eleição de Lula da Silva é vitória das forças democráticas
O povo brasileiro elegeu Lula da Silva presidente da República. Apoiado por uma frente ampla de forças políticas e sociais, entre as quais o PT e o PCdoB, Lula da Silva derrotou no domingo, 30, o actual chefe de Estado, Jair Bolsonaro, de extrema-direita.
Votação em Lula da Silva foi a maior obtida por um candidato presidencial no Brasil
Lusa
De acordo com os resultados proclamados pelo Tribunal Superior Eleitoral, no dia 30 de Outubro, na segunda volta da eleição presidencial, Lula da Silva conquistou nas urnas 60.345.999 votos (50,9 por cento dos votos válidos). O seu adversário, o presidente cessante Jair Bolsonaro, conseguiu 58.206.354 votos (49,1 por cento). A vantagem foi superior a dois milhões e 100 mil votos.
Estavam inscritos mais de 156 milhões de eleitores e votaram mais de 124 milhões. A abstenção foi de 20,59 por cento. Portugal foi um dos países onde os eleitores brasileiros a viver no estrangeiro puderam votar. Nas três secções de voto, instaladas em Lisboa, Porto e Faro, Lula da Silva derrotou Bolsonaro.
O presidente eleito da República Federativa do Brasil, Lula da Silva, toma posse no dia 1 de Janeiro para um período de quatro anos, de 2023 a 2027. Será o seu terceiro mandato presidencial, depois de ter vencido as eleições presidenciais de 2002 e 2006.
Na noite eleitoral, em São Paulo, juntando-se às centenas de milhares de apoiantes que festejavam o triunfo, enchendo a Avenida Paulista, Lula da Silva disse que esta foi uma vitória do povo brasileiro. «A maioria do povo brasileiro deixou bem claro que deseja mais, e não menos, democracia. Deseja mais, e não menos, inclusão social e oportunidades para todos. Deseja mais, e não menos, respeito e entendimento entre os brasileiros. Em suma, deseja mais, e não menos, liberdade, igualdade e fraternidade», enfatizou.
Garantindo que vai governar para os 215 milhões de brasileiros e não apenas para aqueles que votaram em si, Lula da Silva reconheceu que tem pela frente «um desafio imenso». E insistiu que o seu compromisso mais urgente «é acabar outra vez com a fome».
No plano internacional, prometeu «trazer o Brasil de volta», aquele «Brasil soberano que falava de igual para igual com os países mais ricos e poderosos e que ao mesmo tempo contribuía para o desenvolvimento dos países mais pobres».
Também na noite eleitoral, a presidente do Partido Comunista do Brasil (PCdoB), Luciana Santos, destacou que «o Brasil vai ser feliz de novo». O povo elegeu Lula da Silva presidente para que «a gente possa voltar a ter paz, ter dignidade, ter comida no prato. É dia de festa da democracia. Venceu a razão, a verdade, o compromisso com o povo e com um projecto inclusivo de país», acrescentou a dirigente comunista.
Mundo felicita presidente eleito
Desde que foram conhecidos os resultados, na noite de domingo, Lula da Silva recebeu, de dirigentes de todo o mundo, mensagens de felicitações pela sua eleição.
O presidente de Cuba, Miguel Díaz-Canel, felicitou-o pela sua «grande vitória a favor da unidade, paz e integração latino-americana e caribenha». O chefe do Estado da Venezuela, Nicolás Maduro, considerou que «no Brasil, triunfou a democracia».
Da Bolívia, o presidente Luís Arce e o líder do Movimento ao Socialismo, Evo Morales, manifestaram a certeza de que Lula conduzirá o povo brasileiro «pelo caminho da paz, do progresso e da justiça social».
O presidente da Nicarágua, Daniel Ortega, expressou a sua «grande alegria» pela merecida vitória de Lula da Silva. O presidente da Colômbia, Gustavo Petro, também felicitou o presidente eleito, tal como fez o presidente da Argentina, Alberto Fernández, que viajou de Buenos Aires para São Paulo, na segunda-feira, 31, e encontrou-se com Lula da Silva.
A presidente das Honduras, Xiomara Castro, os chefes de Estado do México, Lopez Obrador, do Chile, Gabriel Boric, do Peru, Pedro Castillo, e de Moçambique, Filipe Nyusi,
foram outras das personalidades a felicitar Lula da Silva, tal como fez o ex-presidente do Equador, Rafael Correa. De igual modo, os presidentes da China, Xi Jinping, da Rússia, Vladímir Putin, saudaram a vitória de Lula da Silva. De Angola, África do Sul, Canadá, Egipto, EUA, Índia, Japão, Reino Unido e diversos países da União Europeia chegaram mensagens de saudação.
PCP e Jerónimo de Sousa reafirmam solidariedade
O PCP saudou a eleição de Lula da Silva como presidente do Brasil e sublinhou a grande importância e significado político da derrota do candidato da extrema-direita para o desenvolvimento da luta do povo brasileiro e dos povos da América Latina e de todo o mundo pela democracia, o progresso social e a paz.
«Alcançada no quadro de uma campanha em que Bolsonaro e os seus apoiantes, desde a utilização dos fundos públicos, coacção nos locais de trabalho, manipulação da religião, violência armada, recorreram a tudo para se manter no poder, a vitória de Lula da Silva constitui uma grande vitória das forças democráticas e abre caminho à satisfação das mais sentidas aspirações populares», destaca em nota divulgada no dia 31.
Esta vitória, acrescenta o PCP, «significa um importante revés para o crescimento da extrema-direita e do fascismo, nomeadamente nos EUA e na Europa», e aponta para a «recuperação do papel positivo do Brasil nas relações internacionais».
Felicitando o presidente Lula da Silva pela sua eleição e saudando o PT, o PCdoB e demais forças democráticas e progressistas pela importante vitória alcançada, o PCP assegura-lhes «a sua firme e empenhada solidariedade, numa luta que continua».
Mobilização popular
Também Jerónimo de Sousa enviou uma mensagem a Lula da Silva em que lhe transmite «calorosas felicitações» pela eleição e votos dos «melhores sucessos no exercício das suas altas responsabilidades». O Secretário-geral do PCP destaca o apoio de um «amplo leque de forças democráticas e progressistas, expressão da profunda vontade de mudança do povo brasileiro», e considera o desfecho da eleição uma «importante vitória da democracia sobre a reacção e o fascismo».
Referindo-se às «justificadas esperanças e expectativas» que a eleição de Lula da Silva suscita no povo brasileiro, que espera respostas às suas «aspirações mais sentidas e mais urgentes reivindicações de justiça social», o dirigente comunista alertou para as forças que se lhe opõem que «são poderosas». Sublinha, porém, que «com o apoio e a mobilização popular que caracterizou a sua campanha, será possível frustrar previsíveis tentativas revanchistas e assegurar a concretização das mudanças necessárias».
É importante que a imensa força popular não desmobilize
Integrando uma delegação do Grupo Confederal Esquerda Unitária Europeia/ Esquerda Verde Nórdica – A Esquerda no Parlamento Europeu, Sandra Pereira, deputada do PCP no PE, acompanhou as eleições no Brasil e participou nas comemorações populares da vitória de Lula da Silva.
Depois de teres tido a oportunidade de acompanhar a primeira volta das eleições presidenciais no Brasil, como decorreu agora esta segunda volta?
Nas mesas eleitorais que visitei, o acto eleitoral decorreu com normalidade. Havia eleitores identificados como apoiantes quer da candidatura de Lula da Silva quer da de Bolsonaro e todos puderam exercer livremente este acto soberano. No entanto, ao longo do dia, foram chegando notícias de que, no Nordeste do Brasil, uma região onde Lula da Silva é tradicionalmente vencedor, a Polícia Rodoviária Federal estava intencionalmente a bloquear autocarros, dificultando o transporte de eleitores.
Mas, apesar disso e de tantas outras manobras que a candidatura de Bolsonaro promoveu ao longo da campanha, como o recurso à calúnia, à coação económica, à manipulação de sentimentos religiosos, ao fomento da insegurança e do medo, ao recurso à violência e à utilização de meios do Estado, a candidatura de Lula da Silva foi vitoriosa.
E como foi sentida e festejada essa importante vitória?
A vitória de Lula da Silva, o candidato apoiado pela coligação eleitoral «Vamos juntos pelo Brasil», tem um grande significado político e é uma vitória da democracia. Expressa a vontade de uma viragem face à política desastrosa de Bolsonaro, incluindo durante a pandemia, que provocou mais desigualdade na sociedade brasileira, mais fome, mais desemprego, e constantes ataques aos direitos e à democracia. A maioria do povo brasileiro utilizou esta oportunidade para o afastar e com ele a sua política e projectos anti-democráticos e fascizantes.
A candidatura de Lula da Silva corporizou esse profundo anseio de mudança, essa esperança de retomar um caminho de progresso social, de desenvolvimento, de soberania, de cooperação e de paz para o povo brasileiro. A vitória de Lula da Silva cria assim melhores condições para dar continuidade à luta dos trabalhadores e do povo brasileiro pela efectiva concretização dessa aspiração e caminho. O importante é que a imensa força popular não desmobilize perante os embates imediatos e os muitos outros que se avizinham.
A festa da vitória já se anunciava no sábado, na Caminhada pela Vitória, em São Paulo, que contou com a participação de centenas de milhares de brasileiros. À medida que, no domingo, iam sendo anunciados os resultados, os brasileiros foram enchendo de novo a Avenida Paulista e, quando Lula da Silva aí se dirigiu ao país, eram já milhares e milhares em festa a comemorar o regresso do presidente e o afastamento de Bolsonaro. Muita alegria, com algumas lágrimas de felicidade à mistura, muita música e convívio caracterizaram a festa popular, que decorreu pela noite dentro.
E qual o impacto desta vitória no plano internacional?
Pela importância que o Brasil tem no plano internacional, particularmente na América Latina, mas também no âmbito mundial, esta vitória também se reveste de uma grande importância.
Na noite das eleições, houve um momento em que Lula da Silva saudou os convidados internacionais e agradeceu a solidariedade demonstrada não só neste acto eleitoral, como durante o golpe institucional contra a Presidente Dilma Rousseff e também durante o período da sua prisão. Nesse discurso apontou como uma prioridade para os próximos quatros anos a reconstrução de relações de cooperação com os outros países da América Latina, realçando importantes vitórias que diversificadas forças progressistas têm alcançado, como nas Honduras, no Chile ou na Colômbia. Esta vitória de Lula da Silva apontará esse caminho de soberania e cooperação na América Latina e Caraíbas e, naturalmente, de uma ordem internacional mais justa e de paz no plano mundial.
Além disso, esta vitória contraria as intenções e ambições dos que fomentam e promovem a extrema-direita e o fascismo no plano mundial, que sofrem um importante abalo. Nesse sentido, o povo brasileiro, ao derrotar Bolsonaro, deu um grande sinal ao mundo.