Milhares em luta nas ruas exigem respostas imediatas

Na tarde de sá­bado, dia 15, nas ruas de Lisboa e do Porto, muitos mi­lhares de pes­soas deram corpo e voz à exi­gência de au­mento ime­diato dos sa­lá­rios e das pen­sões, como pri­meira me­dida para res­ponder à si­tu­ação de emer­gência na­ci­onal criada com a brutal su­bida do custo de vida e dos lu­cros, em res­posta ao apelo da CGTP-IN e no se­gui­mento de cen­tenas de ac­ções re­a­li­zadas desde 15 de Se­tembro.

«Os sa­lá­rios e as pen­sões não podem ser a única coisa que não au­menta»


A manifestação em Lisboa terminou no Rossio, onde intervieram Rita Branco, da Interjovem, e Isabel Camarinha, Secretária-geral da CGTP-IN (na foto)

 

No Porto, os ma­ni­fes­tantes con­cen­traram-se na Ave­nida dos Ali­ados, onde usaram da pa­lavra Inês Branco, da In­ter­jovem, e Tiago Oli­veira, da Co­missão Exe­cu­tiva da CGTP-IN

 

 

Na Re­so­lução, comum aos dois lo­cais desta jor­nada a que a CGTP-IN deu âm­bito na­ci­onal, foi su­bli­nhado que «tra­zemos à rua o nosso des­con­ten­ta­mento e a luta or­ga­ni­zada, vinda dos lo­cais de tra­balho, unidos e com a con­fi­ança de que é pos­sível, ur­gente e ne­ces­sário o au­mento geral dos sa­lá­rios e das pen­sões, como ele­mento de­ter­mi­nante para avançar na va­lo­ri­zação do tra­balho e dos tra­ba­lha­dores e na cons­trução de um novo mo­delo de de­sen­vol­vi­mento do País».

Na in­ter­venção da Se­cre­tária-geral da CGTP-IN, em Lisboa, ficou ex­pli­cado que «o brutal au­mento do custo de vida exige já o au­mento geral in­ter­calar dos sa­lá­rios e a ac­tu­a­li­zação ex­tra­or­di­nária e ime­diata do sa­lário mí­nimo na­ci­onal».

 

É agora!

Isabel Ca­ma­rinha, no Rossio – como, em termos se­me­lhantes, nos Ali­ados, Tiago Oli­veira, co­or­de­nador da União dos Sin­di­catos do Porto e membro da Co­missão Exe­cu­tiva da con­fe­de­ração –, sa­li­entou que se trata de «uma emer­gência na­ci­onal, porque é agora que falta o di­nheiro, porque é todos os meses, e não apenas em Ou­tubro, que os tra­ba­lha­dores, os pen­si­o­nistas e re­for­mados pre­cisam de mais sa­lário e pensão, para terem acesso aos bens e ser­viços es­sen­ciais».

«Os sa­lá­rios e as pen­sões não podem ser a única coisa que não au­menta», pro­testou a di­ri­gente, «quando tudo sobe, a carne e o peixe, o leite e o pão, a ha­bi­tação e os com­bus­tí­veis, a elec­tri­ci­dade e os ma­te­riais es­co­lares, quando sobem os lu­cros e a ri­queza criada pelos tra­ba­lha­dores».

Com a guerra e as san­ções, como antes com a COVID-19, alertou Isabel Ca­ma­rinha, «o ca­pital apro­veita para au­mentar a ex­plo­ração, para di­fundir os seus pro­jectos re­ac­ci­o­ná­rios, que têm no PSD, no CDS, na IL e no Chega os seus ins­tru­mentos e, nas op­ções po­lí­ticas do PS, o ter­reno fértil para avançar». É que o Go­verno «pode fazer inú­meras de­cla­ra­ções, falar de um con­junto de bon­dosas in­ten­ções», mas as suas me­didas «vão em sen­tido in­verso ao ca­minho ne­ces­sário».

Nas ma­ni­fes­ta­ções, sob o lema «Au­mentos do sa­lá­rios e pen­sões – emer­gência na­ci­onal! Contra o au­mento do custo de vida e o ataque aos di­reitos», in­te­graram-se tra­ba­lha­dores dos mais di­versos ramos de ac­ti­vi­dade, do sector pri­vado e da Ad­mi­nis­tração Pú­blica, bem como re­for­mados, jo­vens, mu­lheres, ac­ti­vistas do Con­selho Por­tu­guês para a Paz e a Co­o­pe­ração e do mo­vi­mento de utentes de ser­viços pú­blicos, bol­seiros de in­ves­ti­gação ci­en­tí­fica e muitas ou­tras pes­soas sem ele­mentos iden­ti­fi­ca­tivos.

Do Cais do Sodré para o Rossio, com o grupo de per­cussão Ba­tu­cando (Mon­tijo) na di­an­teira, des­fi­laram ma­ni­fes­tantes vindos dos dis­tritos de Leiria, Cas­telo Branco, San­tarém, Lisboa, Se­túbal, Por­ta­legre, Évora, Beja e Faro. Duas faixas as­si­na­lavam a par­ti­ci­pação sim­bó­lica de tra­ba­lha­dores das re­giões au­tó­nomas dos Açores e da Ma­deira.

No per­curso, pelas ruas do Ar­senal e Áurea, foram-se re­pe­tindo aplausos, por parte de quem as­sistia à pas­sagem da ma­ni­fes­tação, di­ri­gidos a um grupo de imi­grantes, na mai­oria in­di­anos e tra­ba­lha­dores da So­ci­e­dade Agrí­cola Vale da Rosa (Fer­reira do Alen­tejo), trans­por­tando uma faixa a exigir «tra­balho com di­reitos» e a con­testar «as po­lí­ticas de ex­plo­ração nos campos do Alen­tejo».

Do Campo 24 de Agosto, a ma­ni­fes­tação para que se mo­bi­li­zaram os dis­tritos de Viana do Cas­telo, Bra­gança, Vila Real, Braga, Porto, Aveiro, Viseu, Guarda e Coimbra, saiu em di­recção à Ave­nida dos Ali­ados, le­vando à frente os bombos dos Amigos d’A­reia (Darque).

Em ambas as ma­ni­fes­ta­ções, vá­rios nomes de em­presas, ser­viços e ins­ti­tui­ções re­me­tiam para lutas la­bo­rais re­centes ou ainda em curso.

Foi vi­sível a forte par­ti­ci­pação de jo­vens, em es­pe­cial nos grupos da In­ter­jovem, logo atrás dos di­ri­gentes da CGTP-IN, que en­ca­be­çaram os des­files. Nas ma­ni­fes­ta­ções in­te­graram-se di­ri­gentes da APG/​GNR e da ASPP/​PSP, so­li­dá­rios e com rei­vin­di­ca­ções pró­prias.

 

Pros­segue a luta

Em faixas, ban­deiras e car­tazes, tal como nas pa­la­vras de ordem gri­tadas ou quase-can­tadas, os ma­ni­fes­tantes fi­zeram saber de onde vi­nham e o que os trou­xera ali.

De­mons­traram também a de­ter­mi­nação de não aban­donar o com­bate, ex­pressa na re­so­lução que foi acla­mada após as in­ter­ven­ções sin­di­cais: «as­su­mimos o com­pro­misso de re­forçar a uni­dade e con­ti­nuar a in­ten­si­ficar a luta pela va­lo­ri­zação do tra­balho e dos tra­ba­lha­dores, pela res­posta aos pro­blemas do povo e do País, le­vando a cabo todas as formas de luta ne­ces­sá­rias para al­cançar os nossos ob­jec­tivos».

A Se­cre­tária-geral as­se­gurou que a luta «vai con­ti­nuar e in­ten­si­ficar-se nos lo­cais de tra­balho, nas em­presas e ser­viços, no sector pri­vado e pú­blico». Re­feriu al­guns exem­plos de greves já anun­ci­adas, para an­te­ontem e ontem (na Am­bi­lital e no Hos­pital Be­a­triz Ângelo), para amanhã, dia 21 (nas IPSS, mi­se­ri­cór­dias e mu­tu­a­li­dades), e para dia 25 (no Me­tro­po­li­tano de Lisboa). Citou também as greves na Eu­ro­re­sinas (desde dia 12 e até dia 26), na Do­ca­pesca (dia 31) e nos CTT (dias 31 de Ou­tubro e 2 de No­vembro).

Pros­segue igual­mente a luta, acres­centou a di­ri­gente, com o ple­nário da Frente Comum de Sin­di­catos, con­vo­cado para dia 27, em frente da As­sem­bleia da Re­pú­blica, e com a greve na­ci­onal da Ad­mi­nis­tração Pú­blica, agen­dada para 18 de No­vembro.

A luta dos tra­ba­lha­dores também vai «con­ti­nuar e au­mentar na rua, em ac­ções de con­ver­gência e uni­dade, porque o mo­mento exige uma res­posta a cada pro­blema con­creto, mas também uma res­posta comum aos pro­blemas que afectam todos».

 

A maior mo­bi­li­zação dos úl­timos dois anos

As ma­ni­fes­ta­ções de dia 15 «cor­res­pondem já à maior mo­bi­li­zação dos úl­timos dois anos», afirmou Fran­cisco Lopes, membro da Co­missão Po­lí­tica e do Se­cre­ta­riado do Co­mité Cen­tral do PCP, con­si­de­rando que elas «mos­tram que os tra­ba­lha­dores não aceitam a de­gra­dação dos sa­lá­rios, a de­gra­dação das pen­sões, o ataque aos ser­viços pú­blicos, ao mesmo tempo que se ve­ri­fica uma acu­mu­lação de mi­lhares de mi­lhões de euros nos lu­cros dos grupos eco­nó­micos e das mul­ti­na­ci­o­nais, com di­vi­dendos que, em grande parte, saem do País».

O PCP – acres­centou o di­ri­gente co­mu­nista, que prestou de­cla­ra­ções aos jor­na­listas du­rante a ma­ni­fes­tação, em Lisboa – «também não aceita esta de­gra­dação».

Im­punha-se e impõe-se o au­mento geral dos sa­lá­rios e das pen­sões, para repor o poder de compra e va­lo­rizar os sa­lá­rios e as pen­sões. Con­tudo, cri­ticou, «o que está aí co­lo­cado pelo grande ca­pital e pelo Go­verno PS, com o Or­ça­mento do Es­tado e com o acordo da Con­cer­tação So­cial» re­sul­tará em «mais agra­va­mento das con­di­ções de vida», «ataque aos ser­viços pú­blicos e, mais uma vez, de forma in­jus­ti­fi­cável e inad­mis­sível, mi­lhares de mi­lhões de euros de borlas fis­cais e in­cen­tivos ao ser­viço dos grandes grupos eco­nó­micos.

Fran­cisco Lopes ob­servou que «o au­mento dos preços não se es­fuma, esse di­nheiro vai exac­ta­mente para os grandes grupos eco­nó­micos e as mul­ti­na­ci­o­nais da ali­men­tação, da energia, da grande dis­tri­buição co­mer­cial».

A pre­sença da de­le­gação do PCP na ma­ni­fes­tação «é uma re­a­fir­mação do nosso com­pro­misso com os tra­ba­lha­dores e a sua luta» e também «de con­fi­ança que é pos­sível de­fender e me­lhorar as con­di­ções de vida, que é pos­sível, com isso, as­se­gurar um Por­tugal de­sen­vol­vido, um Por­tugal mais justo, um Por­tugal so­be­rano». Sendo esta «a men­sagem que aqui tra­zemos», «é so­bre­tudo essa men­sagem que estes mi­lhares tra­ba­lha­dores aqui nos trazem: um sinal de força e um sinal de es­pe­rança, neste tempo tão tur­bu­lento e com tantas di­fi­cul­dades».

Da de­le­gação do PCP que es­teve na ma­ni­fes­tação, em Lisboa, fi­zeram ainda parte Ri­cardo Costa e Paula Santos, mem­bros da Co­missão Po­lí­tica do CC, Ma­nuela Pinto Ângelo, do Se­cre­ta­riado do CC, e Sandra Pe­reira, de­pu­tada no Par­la­mento Eu­ropeu.

Na ma­ni­fes­tação que teve lugar no Porto, o Par­tido fez-se re­pre­sentar por uma de­le­gação que in­cluiu Paulo Rai­mundo, da Co­missão Po­lí­tica e do Se­cre­ta­riado do CC, Jaime Toga e Vla­di­miro Vale, da Co­missão Po­lí­tica, res­pon­sá­veis de or­ga­ni­za­ções re­gi­o­nais e Al­fredo Maia, de­pu­tado na As­sem­bleia da Re­pú­blica.

De­pois de sau­darem e aplau­direm, por al­guns mi­nutos, a pas­sagem das ma­ni­fes­ta­ções, os mem­bros das de­le­ga­ções do Par­tido in­te­graram-se nos des­files.

 

Sau­dação do PEV

No dia 14, o Par­tido Eco­lo­gista «Os Verdes» saudou a CGTP-IN pela re­a­li­zação das ma­ni­fes­ta­ções do dia se­guinte, con­si­de­rando-as «mo­mentos da maior im­por­tância na luta contra o au­mento do custo de vida e pelo justo au­mento dos sa­lá­rios e pen­sões, num mo­mento em que a pro­posta de Or­ça­mento do Es­tado para 2023 se re­vela cla­ra­mente in­su­fi­ci­ente para fazer face aos tempos de crise am­bi­ental, ener­gé­tica e so­cial que se vivem».

 

Ma­ni­fes­tação no Fun­chal

No âm­bito do «mês de mo­bi­li­zação e luta», que a CGTP-IN pro­moveu desde 15 de Se­tembro, a União dos Sin­di­catos da Ma­deira re­a­lizou uma ma­ni­fes­tação no Fun­chal, na manhã de sá­bado, 15 de Ou­tubro.
O pro­testo – em que se in­te­grou uma de­le­gação do PCP, com Edgar Silva, co­or­de­nador re­gi­onal, e Ri­cardo Lume, de­pu­tado na As­sem­bleia Le­gis­la­tiva da RA da Ma­deira – partiu da Casa Sin­dical e per­correu as prin­ci­pais ar­té­rias da ci­dade. No final, junto do par­la­mento re­gi­onal, foi apro­vada uma moção, com as prin­ci­pais rei­vin­di­ca­ções da CGTP-IN e dos tra­ba­lha­dores, di­ri­gida aos ór­gãos de so­be­rania da Re­gião.

 

Para res­ponder já!

As exi­gên­cias «no ime­diato», co­lo­cadas pela CGTP-IN «para dar res­posta, ao agra­va­mento da si­tu­ação dos tra­ba­lha­dores e re­for­mados, por via do brutal au­mento do custo vida», fi­caram ex­pressas na Re­so­lução, em oito pontos:

– Au­mento dos sa­lá­rios de todos os tra­ba­lha­dores em 90 euros;

– Au­mentos ex­tra­or­di­ná­rios dos sa­lá­rios que foram ac­tu­a­li­zados, mas cuja re­visão já foi ab­sor­vida pela in­flação;

– Au­mento ex­tra­or­di­nário do sa­lário mí­nimo na­ci­onal, fi­xando-o em 800 euros;

– Au­mento ex­tra­or­di­nário de todas as pen­sões e re­formas, para repor o poder de compra e as­se­gurar a sua va­lo­ri­zação;

– Au­mento das pres­ta­ções de apoio so­cial;

– Re­vo­gação das normas gra­vosas da le­gis­lação la­boral;

– Fi­xação de li­mites má­ximos nos preços dos bens e ser­viços es­sen­ciais;

– Apli­cação de um im­posto que in­cida sobre os lu­cros co­los­sais das grandes em­presas.