A experiência da Organização da Região Autónoma da Madeira do PCP

É na rua que estão as pessoas e é lá que tem de estar o Partido

Não é exagero dizer-se que na Região Autónoma da Madeira o Partido está todos os dias na rua, a contactar os trabalhadores e as populações: ouvindo os seus problemas e mobilizando para a luta pela sua resolução; dando a conhecer as suas propostas e iniciativas; convocando para o debate e a reflexão.

«Ir para a rua!» É este o mote dos comunistas madeirenses, que fazem do contacto directo com as pessoas um eixo central da sua intervenção: praticamente não há dia sem uma acção de contacto numa empresa, uma intervenção pública na rua, um encontro com moradores de um bairro ou uma iniciativa cultural no Centro de Trabalho do Funchal, situado numa zona central da cidade.

Por estes dias, contou o responsável pela organização partidária na região, Edgar Silva, este contacto regular com os trabalhadores e as populações faz-se em três direcções fundamentais: a divulgação pública das propostas apresentadas ou a apresentar na Assembleia Legislativa Regional, a campanha Viver melhor na nossa terra e o Centenário de José Saramago, a que acresce a actividade «normal» das células e organizações locais.

Mas nada disto é novo, lembra o membro do Comité Central: mesmo nos primeiros anos após o 25 de Abril, quando o anticomunismo assumia na região expressões particularmente violentas, «nunca nos enconchámos». Pelo contrário, realça, «íamos para a rua, ao encontro das pessoas, escancarávamos as portas do Partido». É isso que uma vez mais se impõe, garante Edgar Silva, sobretudo quando são tantos e tão graves os problemas sociais e há uma vez mais quem procure isolar os comunistas, recorrendo para isso a todos os pretextos, mentiras e mistificações.

Mas vamos por partes…

Divulgar, aprender e intervir

Ricardo Lume é o deputado do PCP na Assembleia Legislativa Regional. É habitual encontrá-lo na rua, junto a uma fábrica ou a um mercado, de microfone em riste, a divulgar as propostas e posições assumidas pelos comunistas naquele órgão. Ou então, juntamente com outros camaradas, a distribuir comunicados, a puxar a conversa, a ouvir as queixas de quem passa.

Nos últimos meses, contou ao Avante!, as questões relacionadas com o aumento do custo de vida e a resposta necessária para lhe dar combate têm estado em destaque. No passado dia 26, por exemplo, «estivemos na rua a defender o aumento intercalar do salário mínimo regional para os 820 euros e um aumento geral dos salários na ordem dos 6,9 por cento», ao mesmo tempo que «denunciámos o carácter especulativo» dos aumentos verificados, patente nos elevados lucros auferidos pelos grupos económicos dos sectores da energia, dos combustíveis, da grande distribuição.

Nos primeiros dias no novo ano lectivo, lá esteve, junto a várias escolas, a exigir que também na região os estudantes do ensino público tenham direito aos manuais escolares gratuitos – garantido em todo o País e negado pelo Governo Regional aos jovens e às famílias madeirenses. Outra das propostas aí afirmadas visa a gratuitidade dos transportes públicos para estudantes até aos 23 anos. Há dias, levou às populações de Câmara de Lobos a proposta de atribuição de fundos públicos regionais para a requalificação da frota de pesca do peixe espada preto.

Em todas estas iniciativas, Ricardo Lume nunca está só. Acompanham-no sempre outros militantes comunistas ou aliados na CDU, alguns com regularidade, quase diária: «há um grande sentido de militância», valoriza.

Mas este contacto permanente com as pessoas tem dois sentidos, reconhece o membro do Comité Central: não se trata apenas de falar, mas também de ouvir. Em mais de uma ocasião, as conversas estabelecidas nestas acções deram a conhecer novos problemas que, por sua vez, levaram à intervenção e à apresentação de propostas do Partido.

Mobilizar as populações

Viver melhor na nossa terra dá hoje o mote para o contacto com as populações. Como contou Herlanda Amado, que para além de integrar o Comité Central do PCP é eleita na Assembleia Municipal do Funchal, esta acção tem como objectivos identificar os principais problemas dos bairros, aldeias e lugares, encontrar soluções e mobilizar as comunidades para lutarem por elas.

A habitação é actualmente um dos problemas mais graves da cidade do Funchal. Os valores incomportáveis (e crescentes) das casas – seja para arrendar como para comprar – estão a «pontapear» muita gente para as periferias. No centro histórico do Funchal, «é muito difícil encontrar um T1 ou um T2 por menos de 700 euros», denuncia, lembrando o impacto que têm nesta realidade os chamados vistos gold, muito presentes na região. «Os madeirenses são estrangeiros na sua própria terra.»

Nas últimas semanas, Herlanda Amado participou em diversas reuniões e encontros com populações em vários pontos do Funchal, sobretudo nas zonas altas e muito altas, precisamente para onde estão a ser empurradas as pessoas de mais fracos recursos. Como ela, outros fazem o mesmo, um pouco por todo o arquipélago. Os problemas, esses, são imensos: da falta de saneamento básico às más condições das habitações; da ausência de passeios para circular aos acessos prometidos e nunca construídos; das veredas que precisam de limpeza à carência de equipamentos sociais e culturais.

Quanto às formas de estimular o contacto, são as mais diversas: em alguns locais, é a colocação de placas com frases como «Aqui não há saneamento básico» a dar o mote às conversas; noutros convoca-se a população para encontros sobre um dado problema, sentido aí de forma particularmente aguda. Não raras vezes comparecem a estes encontros dezenas de pessoas, dispostas a discutir os problemas das suas localidades e a lutarem por soluções. A presença nas reuniões abertas da Câmara Municipal ou nas sessões da Assembleia Municipal, exigindo respostas concretas, é muitas vezes o desfecho destas acções.

«As pessoas reconhecem-nos como a única força que dá voz aos seus problemas», assume Herlanda Amado.

Quem luta pode vencer

Ricardo Lume é o único deputado do PCP na Assembleia Legislativa Regional e Herlanda Amado está também só na Assembleia Municipal do Funchal. Como eles, há outros eleitos pela CDU nas autarquias do arquipélago, mas em várias localidades não se elegeu ninguém. Apesar disso, valorizam os dois dirigentes, tem sido possível aprovar importantes medidas e resolver alguns problemas concretos – e é precisamente a constante ligação aos trabalhadores e às populações, e a sua mobilização, que o explica.

No parlamento regional, lembra Ricardo Lume, o PCP conseguiu alargar o pagamento do subsídio de insularidade aos trabalhadores das empresas públicas, consagrar os 25 dias de férias na Administração Pública e abrir caminho à generalização do horário semanal de 35 horas. A intervenção dos eleitos da CDU e a mobilização das populações permitiu ainda resolver problemas locais, relacionados com o saneamento, a limpeza de matas e veredas e até situações sociais particularmente difíceis.

Destas, Herlanda Amado destaca o caso de uma família que foi alvo de despejo e instalada rotativamente em diversas pousadas de juventude da ilha, ou seja, sendo forçada a mudar-se periodicamente de uma para outra. Por essa razão, um dos adultos perdeu o seu emprego e os mais jovens não estão ainda a frequentar a escola. Pela acção dos comunistas, estão agora fixados na pousada do Funchal, o que permitirá resolver este problema mais premente.

Estes exemplos, e muitos outros haveria a dar, mostram que «quem luta pode sempre ganhar», valoriza Ricardo Lume.

 

Portas abertas ao diálogo

Na Madeira, não é só o Partido que vai ter com as pessoas, o contrário também acontece. Por estes dias tem sido a comemoração do centenário de José Saramago a constituir o pretexto para organizar acções culturais e de debate no Centro de Trabalho do Partido no Funchal, instalado numa zona muito central da cidade, onde funciona o Espaço-Galeria Anjos Teixeira, assim nomeado em homenagem ao artista plástico comunista e resistente antifascista.

Das várias iniciativas já realizadas neste âmbito, normalmente aos finais de tarde, Edgar Silva destaca a exposição de 15 rostos de Saramago, da autoria do pintor e escultor Francisco Simões, as feiras do livro e as sessões de debate em torno de obras de José Saramago. «Conseguimos que muita gente que não é do Partido venha ao Centro de Trabalho e converse connosco», salientou o responsável pela Organização da Região Autónoma da Madeira do PCP, para quem todos os motivos são bons para abrir as portas do Partido às pessoas e provocar o diálogo com elas.

O PCP tem militantes em todos os concelhos da Região e organizações activas e interventivas em muitos deles, onde conta com comissões concelhias e até de freguesia. Tem ainda células em várias empresas e sectores: da Administração Pública ao comércio, da hotelaria à construção civil, das telecomunicações às autarquias, passando pela empresa de transporte colectivo da capital, Horários do Funchal.