Denúncia e solidariedade
Há dias, militares israelitas assaltaram e encerraram as sedes de organizações civis palestinianas, seis das quais tinham já sido consideradas «ilegais» (por uma potência ocupante!!!!) em Outubro de 2021, sob acusação de terrorismo: Addameer – Associação de Apoio aos Presos e de Direitos Humanos; Al-Haq – Defesa dos Direitos Humanos; Defesa das Crianças Internacional – Palestina; Centro Bisan para Pesquisa e Desenvolvimento; União de Comités de Trabalho Agrícola; e União dos Comités de Mulheres Palestinianas.
Tanto a decisão «judicial» como a recente repressão que a concretizou motivaram protestos: das visadas, claro, mas também da Autoridade Nacional Palestiniana, de diversas organizações internacionais e da delegação do Gabinete de Direitos Humanos das Nações Unidas nos territórios palestinianos ocupados. Que efeitos poderão resultar daqui? É imprevisível, mas não sejamos ingénuos: Israel é o Estado que mais resoluções das Nações Unidas desrespeitou, sem que daí tenha alguma vez resultado qualquer tipo de consequência prática. É o que dá ser, desde há décadas, um autêntico porta aviões do imperialismo norte-americano no Médio Oriente.
Mas que terrorismo será esse, o das organizações visadas pela repressão israelita? O ocupante acusa-as de ligações com a Frente Popular de Libertação da Palestina, um dos mais antigos e combativos movimentos da resistência, mas o incómodo tem outras razões: o papel que desempenham no apoio e mobilização das comunidades palestinianas e na denúncia internacional dos crimes do sionismo.
Uma dessas organizações contabiliza em mais de 2200 o número de menores palestinianos assassinados pelas forças policiais e militares israelitas só desde o início do século, 550 dos quais com idades até aos oito anos (não estão ainda incluídas as vítimas dos recentes bombardeamentos sobre Gaza). A informação está apresentada de modo rigoroso, com as vítimas divididas por grupos etários, período em que decorreram os crimes e região em que foram cometidos.
Outra delas denuncia a existência de 4450 presos políticos palestinianos em Israel: 175 crianças e jovens, 27 mulheres e seis membros da Assembleia Legislativa Palestiniana. Do total, 551 enfrentam penas perpétuas e 670 estão detidos administrativamente – sem condenação formal ou direito a «defesa». Muitos encontram-se em paradeiro incerto, sujeitos a isolamento e sem visitas.
Bem documentada está também a reiterada prática de tortura sobre os presos palestinianos – espancamentos, privação de sono, «estátua», ameaças e humilhações físicas e psicológicas –, contando-se às dezenas os que acabaram por sucumbir aos maus tratos.
É isto que Israel quer calar e é também por isso que devemos prosseguir com a denúncia. E com a solidariedade.