A roda gira depressa, quase rente ao chão, e o oleiro Miguel Fontes parece fazer magia com as mãos. «É uma brincadeira? Também posso experimentar?», pergunta uma menina. Uma amiga responde: «Vai ser um vaso pequenino. Não, é um copo. Não, afinal é uma jarra. Está sempre a mudar. E não se estraga!».
O entusiasmo contagia quem passa pela exposição «Louça Preta de Bisalhães» e foca os olhos naquele barro, tão sábia e delicadamente moldado. Ficará negro durante o processo de cozedura, mostrado com uma réplica de um forno, com fotografias e com um vídeo.
A história da louça da aldeia de Bisalhães, na Serra do Alvão, desde as origens medievais, é contada nos painéis e bem explicada em visitas guiadas, até ao seu declínio, após a generalização do metal e do plástico. Esta situação levou, aliás, a mudanças sociais importantes na região.
Apenas cinco oleiros mantêm hoje a sua actividade, apesar de a UNESCO ter integrado esta louça na lista de «Património Imaterial da Humanidade» em 2016 e na subcategoria do «Património que Necessita de Salvaguarda Urgente».
A necessidade de defender esta produção tradicional e tão representativa do património cultural português fica patente na exposição. E como? A resposta também lá a encontramos: ouvindo as sugestões dos oleiros e concretizando medidas de salvaguarda desta arte. Há que melhorar as condições de trabalho, rentabilizar a produção, aproveitar o potencial da comunidade, impulsionar a certificação da loiça para uso alimentar (em restaurantes) e transmitir as técnicas de fabrico a novas gerações.
E, a prolongar a visita, há que levar um destes exemplares para casa. As duas meninas parecem já estar a escolher uns pratos…