No ano em que se comemora o seu centenário, José Saramago foi homenageado na Festa do Avante!, que viveu e para a qual contribuiu como militante comunista, jornalista e escritor, a qual valorizava como manifestação do trabalho abnegado, generoso, na construção de um futuro de homens e mulheres iguais e solidários.
O valor profundo da Festa e da militância na luta mais ampla pela concretização dos objectivos do Partido foi, aliás, sublinhado por Saramago numa mensagem que dirigiu aos construtores da Festa do Avante!, em 2008. O vídeo foi exibido durante o concerto sinfónico com que teve início a programação do Palco 25 de Abril, na noite de sexta-feira (ver aqui).
Também no Auditório 1.º de Maio, na tarde de sábado, outro espectáculo musical (ver aqui) deu expressão à homenagem «escritor universal, intelectual de Abril, militante comunista», lema que é o das comemorações do centenário de José Saramago promovidas pelo PCP e que, de resto, serviu de mote ao debate que decorreu igualmente no sábado, a meio da manhã, no Fórum do Espaço Central.
A celebração da vida, obra e legado de Saramago estiveram ainda presentes em murais pintados no espaço da Organização Regional de Santarém do PCP (era natural da Azinhaga, Golegã) e na Cidade da Juventude. Nesta, na tarde de sábado, decorreu uma conversa em torno do concurso literário, cujo lema assentava numa questão colocada pelo Prémio Nobel da Literatura: «O que seria de nós se não sonhássemos?».
Sonho é o que guia Gabriel Vilaça, jovem vencedor do concurso. Determinação em alcançar o sonho milenar de emancipação social do ser humano sem ceder à apropriação mercantil da arte, orienta a intervenção de Miguel Januário, explicaram um e outro no debate.
À conversa com uma vasta e atenta plateia, estiveram também, na noite de sexta-feira, Rui Mota, Modesto Navarro e Manuel Rodrigues. Num debate em torno do livro intitulado «José Saramago, um escritor com o seu povo», Modesto Navarro recordou de Saramago o percurso antifascista, de militante comunista, de interveniente na Revolução de Abril e defensor desta nos anos subsequentes, o camarada sempre comprometido e disponível. Rui Mota, por sua vez, referiu-se à obra agora editada no plano das publicações das Edições Avante!.
Homem e escritor comprometido com o seu povo, a luta dos trabalhadores e o seu Partido de sempre («não precisei de deixar de ser comunista para ganhar o Nobel», frisou o próprio), foram aspectos igualmente salientados por Manuel Rodrigues. Além do mais, o director do Avante! e membro da Comissão Política do PCP realçou a «escrita penetrante», atenta aos «males do mundo», sempre vinculada a uma perspectiva humanista e a questionar o sistema iníquo e irracional – o capitalismo, que, como disse José Saramago, chega «mais facilmente a Marte do que ao nosso próprio semelhante».
Manuel Rodrigues insistiu nestas ideias no debate que decorreu no sábado, a meio da manhã, no Fórum do Espaço Central, iniciativa em que Manuela Pinto Ângelo, do Secretariado do Comité Central, abordou o programa de comemorações do Centenário de Saramago promovidas pelo PCP, incluindo uma Sessão Evocativa a 8 de Outubro e uma Conferência a realizar a 22 do mesmo mês. José Sucena, por seu lado, detalhou a personalidade interventiva, inquieta, e a conduta sempre solidária mas modesta do militante comunista que era José Saramago, enquanto que Inês Rodrigues, do Secretariado e da Comissão Política da JCP, sublinhou o propósito, importância e actualidade de José Saramago e da sua obra para as novas gerações.