- Nº 2545 (2022/09/8)
Espaço Ciência

Resíduos: conhecer, respeitar e agir

Festa do Avante!

As realizações da Festa do Avante!, ao longo dos anos, têm dado grande ênfase à divulgação da ciência, concedendo para o efeito um lugar próprio, o Espaço Ciência, que mais uma vez teve lugar nesta 46.ª edição.

A atitude científica, através dos seus métodos de inquirição racional, permite construir um conhecimento cumulativamente exacto das causas e consequências dos fenómenos naturais e sociais. Para os comunistas, a ciência é um instrumento fundamental para promover o bem-estar da humanidade, tanto a nível material como intelectual. A busca do conhecimento científico, para além de ser um imperativo que se coloca à curiosidade humana, abre as mais amplas possibilidades para a melhoria das condições de vida, através da sua aplicação técnica.

Na Festa deste ano o Espaço Ciência foi dedicado ao ambiente, abordando a importante questão dos resíduos gerados no processo de produção e consumo dos instrumentos e materiais usados para satisfazer as necessidades que a Humanidade tem no presente. Com o tema Conhecer, Respeitar e Agir, a problemática dos resíduos foi apresentada através de pósteres e debates numa perspectiva multidisciplinar reflectindo as investigações da biologia, da geologia, da engenharia dos materiais, da história, da sociologia, da psicologia.

No sábado realizaram-se os debates sobre as Políticas para gestão dos resíduos em Portugal e A importância dos resíduos – valorizar o vidro, e no domingo o debate versou sobre a Visão intergeracional da produção e gestão de resíduos. Na perspectiva multidisciplinar em que foi abordado o tema, outros pósteres trataram-no sob alguns pontos de vista das artes e das letras: na literatura, no teatro, na fotografia e na arquitectura.

O capitalismo não é verde

A ideia que perpassa desta edição do Espaço Ciência é que a obsessão capitalista pela maximização do lucro é o principal causador dos desequilíbrios ambientais. No seu processo de exploração do trabalho, o capital comporta-se de uma maneira predatória, promovendo a extracção das matérias-primas e a produção dos bens sem os cuidados necessários para salvaguardar os sistemas ecológicos e o bem-estar das populações. Paralelamente, através do seu domínio ideológico, dissemina um consumismo desenfreado de bens descartáveis ou de curta duração, que provoca uma acumulação de resíduos difícil de gerir.

Mas o capital nunca assume responsabilidades que possam pôr em causa a maximização dos seus lucros: desviando as atenções das verdadeiras causas deste problema, instila nas massas a culpa individual desse consumo, com o intuito de transferir para elas também a responsabilidade pelas despesas decorrentes desta sua acção predadora.

Mas, no capitalismo, tudo pode ser negócio. No contexto da manobra ideológica sobre o ambiente, os grupos económicos têm vindo a aproveitar a necessidade de reciclar e de tratar os resíduos, apregoando a sua superior competência para a resolução do problema. Hoje em dia, a gestão do lixo é um grande negócio com que contam para satisfazer os seu lucros. Em Portugal, a mercantilização dos resíduos promoveu a importação de 2,2 toneladas de resíduos, mais 53 por cento do que em 2017, dos quais 331 toneladas são resíduos perigosos.

De facto, «o capitalismo não é verde»: o ambiente no planeta terra, casa comum de vida, tem estado submetido aos interesses mesquinhos do lucro do capital, que descarta os superiores interesses da Humanidade. A solução é só uma, prosseguir e intensificar a luta pela superação revolucionária deste sistema.


Rui Henriques