Jerónimo de Sousa apela em Grândola ao reforço da acção e intervenção do Partido

«Os problemas nacionais são muitos e muito profundos, mas é também muito grande a nossa determinação em enfrentá-los e muito larga a experiência que temos de que é lutando que alcançamos os nossos objectivos», afirmou Jerónimo de Sousa, na passada sexta-feira, em Grândola.

Em defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo e do País

A precisamente uma semana da realização do maior evento político-cultural do País, Jerónimo de Sousa esteve na Feira de Agosto de Grândola, evento que regressou em força após dois longos anos de interrupção. Uma vez mais, o Pavilhão do PCP – em pleno coração do renovado Parque de Feiras e Exposições do concelho – voltou a acolher um grandioso jantar, com centenas de pessoas, num ambiente de alegria e camaradagem, antecipando e proporcionando momentos que amanhã voltarão a sentir-se na Festa do Avante!.

Na mesa com o Secretário-geral do PCP estiveram Rafael Rodrigues e António Figueira Mendes, respectivamente, presidentes da Assembleia e Câmara Municipal de Grândola, bem comoManuel Lança, da Comissão Concelhia de Grândola do PCP, Susana Espada, do Executivo da Direcção da Organização Regional do Litoral Alentejano (DORAL) do PCP, André Martelo, responsável pela DORAL e membro do Comité Central (CC) do PCP, e João Dias Coelho, da Comissão Política do CC do PCP.

Susana Espada anunciou a realização da VI Assembleia da Organização Regional do Litoral Alentejano a 31 de Outubro, um «momento de grande importância para a nossa Organização», que«deve mobilizar todos os militantes» para a «construção colectiva de análises, propostas e orientações para o trabalho do PCP no Litoral Alentejano». Concluiu a sua intervenção abordando a 46.ª edição do Avante!, «da Festa que nunca parou, que soube reinventar-se e, mais uma vez, mostrou a capacidade ímpar deste grande colectivo partidário».

Seguiu-se António Figueira Mendes, que destacou a importância de, passados dois anos de interrupção daquela iniciativa, ali estar um número tão grande de pessoas: «camaradas e muitos amigos» do PCP. Aos que afirmam que «este Partido está definhado e quase não existe», frisou que aquela é, também, a «prova de que este Partido resiste, trabalha e luta» contra «todos aqueles que querem voltar ao passado».

Responder aos problemas

Na última intervenção da noite, Jerónimo de Sousa referiu que o actual «momento» coloca «grandes exigências ao nosso Partido, à nossa capacidade de acção e intervenção, em defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo e do País».

No plano nacional «verifica-se uma acelerada degradação das condições de vida, com o aumento dos preços e a perda de poder de compra a pesarem cada vez mais, em contraste com a acumulação de milhares de milhões de euros de lucros pelos grupos económicos nacionais e transnacionais», observou, reforçando que o avolumar dos problemas decorre de «décadas de política de direita, com destaque para a exploração, a precariedade, as desigualdades e injustiças sociais, a dependência externa». «Agravam-se as dificuldades no acesso aos serviços públicos, degrada-se o seu funcionamento e é posta em causa a sua capacidade e qualidade de resposta, com destaque para a difícil situação no Serviço Nacional de Saúde e da Escola Pública», continuou.

Simultaneamente, no plano internacional «destacam-se as consequências da escalada de confrontação política, económica e militar assumida pelos Estados Unidos da América e a NATO, o alinhamento da União Europeia e dos governos europeus com essa estratégia e objectivos, e os perigos crescentes que comporta tal política», descreveu o dirigente comunista.

 

Conferência Nacional em Novembro

O actual quadro coloca ao Partido «a necessidade de reforçar a sua capacidade de acção e intervenção, quer na luta em defesa dos direitos dos trabalhadores e do povo e de medidas imediatas que respondam às suas necessidades, quer no desenvolvimento da luta mais geral pela política alternativa patriótica e de esquerda capaz de assegurar ao País um futuro de desenvolvimento, progresso e justiça social, que contribua para a paz, a cooperação e a solidariedade entre os povos», acentuou Jerónimo de Sousa.

Neste sentido, o PCP decidiu realizar nos dias 12 e 13 de Novembro a Conferência Nacional sob o lema «Tomar a iniciativa, reforçar o Partido, responder às novas exigências», em Corroios, concelho do Seixal.

«Teremos de empenhar na preparação e realização da nossa Conferência forças e atenções correspondentes à importância das questões que nela iremos tratar, com a consciência de que até à Conferência a vida não pára e de que até lá haverá muitas batalhas a travar», apelou.

 

Reclamam-se medidas imediatas com efeitos a partir de hoje

O PCP defende medidas, a concretizar com efeitos a partir deste mês de Setembro, de aumento de salários e pensões, de tabelamento e fixação de preços máximos de bens essenciais, bem como de tributação extraordinária dos lucros dos grupos económicos.

Propostas que, como desmascarou Jerónimo de Sousa, contrastam, inevitavelmente, «com as falsas soluções defendidas pelo PSD e pelo Governo do PS», que «aceitam como inevitável a perda do poder de compra», que «recusam a redistribuição social dos lucros dos grupos económicos por via da sua tributação, aceitando a sua acumulação nas mãos de uma minoria», que «se conformam com a possibilidade do aumento repetido dos preços» e que, «reduzindo a dignidade dos direitos dos trabalhadores e reformados mais pobres à gestão de um cabaz alimentar, apenas propõem medidas temporárias cujos efeitos se esgotam a 31 de Dezembro de 2022», como «se os problemas fossem desaparecer por um passo de mágica no dia 1 de Janeiro de 2023».

 

Retrato das injustiças e desigualdades

A inflação tem vindo consecutivamente a bater recordes e chegou, em Julho, em termos homólogos, aos 9,1 por cento. Simultaneamente, a energia aumentou 31 por cento e os bens alimentares 13 por cento.

«Ao mesmo tempo que os trabalhadores e o povo enfrentam os aumentos dos preços, a perda de poder de compra e a degradação das suas condições de vida, os 13 maiores grupos económicos apropriaram-se, só no primeiro semestre do ano, de dois mil e 300 milhões de euros de lucros», informou Jerónimo de Sousa, esclarecendo que este «trágico retrato» é revelador «dos interesses que serve a política do PS e da cumplicidade e conivência com os grupos económicos, em absoluta convergência com PSD, IL, Chega e CDS». Recordou, por isso, a rejeição das medidas de controlo e fixação de preços propostas pelo PCP.

 

O aumento dos combustíveis e do gás é um escândalo

Como esclareceu o Secretário-geral do PCP, «a tentativa de explicação do aumento dos preços com o volume de impostos é apenas uma cortina de fumo destinada a ocultar a origem dos lucros e a manter os grupos económicos de mãos livros para continuarem a aumentar os preços como entenderem».

A comprová-lo está o exemplo dos preços dos combustíveis. «Durante mais de um ano os impostos não sofreram qualquer alteração mas o preço dos combustíveis não parou de aumentar. E o pretexto da guerra e das sanções – que nos últimos meses foi utilizado para conter o descontentamento popular face aos brutais aumentos de preços – fica agora definitivamente desmentido quando sabemos que a margem de refinação da GALP subiu de 6,90 dólarespara 22,30 dólares por barril no segundo trimestre do ano», revelou.

Aumento brutal do gás

Jerónimo de Sousa considerou ainda um «escândalo» o anúncio de aumento do preço do gás, feito por algumas empresas do sector energético, e acusou o Governo de «tomar o lado dos grupos económicos e ser cúmplice dos seus objectivos», quando se limita a anunciar «uma medida destinada a contornar parcialmente o problema, admitindo a possibilidade de regresso dos consumidores à tarifa regulada desde que consigam vencer a batalha que cada um terá de travar individualmente com a respectiva empresa com quem tenham contrato de fornecimento de gás». Ou seja, acrescentou, o Executivo PS, «em vez de intervir e impor a travagem dos aumentos», o que faz é «transferir para cada pessoa a responsabilidade de enfrentar os grupos económicos».