Cimeira da NATO: a propaganda de guerra em alta voz
A política de sanções vai fazendo ricochete na vida dos povos
Desde há meses que temos sido sujeitos a doses maciças de propaganda de guerra. A Cimeira da NATO não podia fugir à regra. Os tambores de guerra rugem sem racionalidade. A irracionalidade que pretendem «vender» aos povos da Europa, incluindo o povo português.
Boris Johnson o ainda primeiro ministro mas a prazo diz que a guerra deve prosseguir até à vitória da Ucrânia. Uma loucura, além do mais inatingível, como o próprio bem sabe. O seu mentor, e Secretário-geral da NATO, Stoltenberg, afirma que a Rússia será posta de joelhos. Um disparate, desde logo por ser uma impossibilidade. Estes dois exemplos ilustram de forma paradigmática o papel que desempenham, e não é o de pugnar pela paz, pelo «baixar da temperatura». Ao contrário, é o de acirrar ódios, fricções, crispações. Tudo o que dispensa quem quer encontrar uma solução.
A política de sanções vai fazendo ricochete na vida dos povos. Em Portugal, a inflação atingiu os 8,6% e, em Madrid, onde teve lugar a Cimeira, os 10%. O Governo PS não adopta medidas para garantir que essa «arma de destruição maciça» dos salários, das pensões, das condições de vida dos trabalhadores e do povo não alargue a mancha da pobreza. Stoltenberg diz que as sanções são o preço da liberdade. Só se for para o complexo-militar industrial dos EUA e para outros negociantes do lucro com a desgraça alheia.
Expansão e submissão
A Cimeira da NATO consagrou, no plano político, muito do que já há tinha sido posto em desenvolvimento relativamente a vários aspectos no plano do comando, controlo, comunicações/informações e dispositivo militar. A imagem de unidade e empenhamento com que vários responsáveis aparecem a falar da Cimeira não apaga contradições que se expressarão de forma mais visível à medida que os trabalhadores e os povos sintam no seu dia-a-dia as consequências deste desastroso caminho. É por isso que a ofensiva ideológica que suporta tal operação é forte, revestindo de novas roupagens as velhas teorias do tempo da denominada Guerra Fria.
A decisão de encostar mais militares e meios a Leste, de crescer até aos 300 mil militares, de usar a Polónia e a Roménia como plataformas reforçadas desses objectivos, não tem racionalidade. Alguém coloca como possibilidade credível que existam intentos russos de promover uma invasão da Europa, da Polónia ou da Roménia? Mas a obsessão do domínio planetário, o esforço para o qual tudo vale, de procurar impor um domínio unipolar contrariando o crescente desenvolvimento multipolar, determina tais decisões, perante uma União Europeia de fraque, para manter o estilo, mas resignada e cúmplice.
Guerra e Paz
Até a Ministra da Defesa portuguesa, especialista em questões de género, apareceu a dizer: atenção, não se esqueçam das relações dos russos com países africanos. Como se esses países não tivessem esse direito e como que estando a oferecer-se para que Portugal possa ter nessa matéria um papel a desempenhar.
A existência de inimigo é o pão que alimenta a máquina dos EUA/NATO. O contexto que rodeou a Cimeira realizada em 2010, em Lisboa, não o permitiu.
Tolstoi escreveu, em Guerra e Paz, que «na véspera do ano de 1812, houve uma
concentração dos poderes na Europa ocidental, partindo do Oeste para Leste, em
direcção às fronteiras da Rússia.» Não sei o que diria hoje se pudesse dar uma olhadela sobre a Europa neste momento.