«O povo quer a paz, não o que a guerra traz»
Milhares de pessoas participaram no sábado, 25, no primeiro dos desfiles «Paz Sim! Guerra e Corrida aos Armamentos Não!», realizado em Lisboa. Entre o Marquês de Pombal e os Restauradores, exigiu-se o desarmamento, o desanuviamento, o respeito pela soberania dos Estados e os direitos dos povos, bem como o fim das guerras, da confrontação e das sanções. Ontem, já após o fecho da nossa edição, realizou-se outro desfile, no Porto.
A luta pela paz é a luta pelos direitos, pela soberania, por um mundo melhor e mais justo
Os defensores da paz, da soberania, do progresso e da justiça social estiveram, no passado sábado, nas ruas de Lisboa, a lutar contra todas as guerras e formas de opressão e chantagem, pelos direitos dos povos, por um mundo mais justo. E, como tal, mais pacífico.
Fizeram-no, e tantos foram (e são), movidos por uma imensa solidariedade aos que todos os dias sofrem com a violência da guerra, da opressão, das sanções e dos bloqueios – estejam na Síria ou na Líbia, no Iraque ou no Afeganistão, na Ucrânia ou no Iémene, na Palestina, em Cuba ou na Venezuela. E plenamente conscientes da ligação umbilical entre o que se passa no mundo, por mais distante que possa ser, e a situação no nosso próprio país.
A relação entre o brutal aumento do custo de vida que se verifica em Portugal (e não só) e as sanções impostas à Rússia pela União Europeia, aliás, é por demais evidente e foi ali sobejamente denunciada em diversas palavras de ordem. Já os sucessivos compromissos do Governo de aumentar consideravelmente os gastos militares e os compromissos com a NATO chocam de frente com a degradação dos serviços de saúde e da escola pública, a magreza dos salários e das pensões, as carências de habitação digna ou os trocos que sobram para a Cultura: o dinheiro que for para um lado faltará no outro!
Esta grande acção em defesa da paz enfrentou desde a sua convocação, ainda em Maio, e até ao dia da sua realização, um ensurdecedor silêncio mediático. Ao mesmo tempo, os jornais, as rádios, as televisões continuaram a contribuir para a escalada de confrontação, o prosseguimento da guerra, o agravamento da situação económica e social, o branqueamento da NATO e do imperialismo, a promoção do racismo e da xenofobia, a normalização de forças e personalidades fascizantes e neonazis.
A mobilização, essa, assentou no esclarecimento e no contacto directo – pessoa a pessoa, debate a debate, distribuição a distribuição –, com a dedicação e o empenho que é reconhecida a quem luta por um País e um mundo melhores.
Condição de progresso e desenvolvimento
Na frente do desfile, empunhando a grande faixa com a imagem e lema do desfile «Paz Sim! Guerra e corrida aos armamentos Não!», seguiam alguns dos 15 subscritores iniciais do Apelo, outros que entretanto a ele se associaram e representantes de algumas organizações que o subscreveram.
Logo atrás, com uma presença fortíssima, seguia a juventude – da JCP à Associação Projecto Ruído, passando por organizações e movimentos diversos, de carácter estudantil, cultural ou recreativo. À alegria e combatividades de sempre associou-se a consciência dos perigos que marcam o presente e o futuro do mundo, que é também o seu próprio, e do caminho a trilhar para os afastar: em vários panos podia ler-se a palavra Paz, ao mesmo tempo que se reivindicava o cumprimento dos princípios consagrados no artigo 7.º da Constituição da República Portuguesa.
O CPPC exigia «Paz Sim! NATO Não!» e apelava a que se pare a guerra e se dê «uma oportunidade à paz». As suas bandeiras azuis e brancas, com a palavra Paz e uma das célebres pombas desenhadas por Pablo Picasso, foram empunhadas não só pelos seus dirigentes e activistas como surgiram por toda a coluna que ali se manifestava.
A URAP, o MDM, o MURPI, a Frente Anti-Racista também seguiam identificados, associando as suas reivindicações de sempre à luta em defesa da paz e por um mundo de justiça e progresso social. Organizados nos seus sindicatos vieram também muitos, dando expressão ao verso do hino da CGTP-IN que apela à luta, em unidade, «pelo pão, pelo trabalho, pela paz». De várias localidades dos distritos de Lisboa, Setúbal, Santarém, Leiria, Évora, Beja, Portalegre e Faro surgiam também exigências específicas, relacionando o agravamento da política de confrontação com as crescentes dificuldades sentidas pelos trabalhadores e as populações.
Princípios firmes
O desfile terminou na Praça dos Restauradores, perante um palco onde se podia ler «Paz Sim! Guerra Não». Foi para lá que subiram os subscritores iniciais do Apelo que ali se encontravam (outros estiveram ontem no Porto) e ali foram proferidas duas intervenções: de Ilda Figueiredo, uma dessas subscritoras e presidente da direcção nacional do CPPC, e de Pedro Henriques, da Associação Projecto Ruído.
Fernando Casaca, actor, encenador e subscritor do Apelo, que conduziu este momento, não deixou ele próprio de tecer algumas considerações sobre o actual momento do País e do mundo, estabelecendo uma relação directa entre a luta pela paz e a que se trava pelo direito à fruição e criação de cultura. Pedro Henriques reafirmou o apego dos jovens à paz e destacou como o rumo de confrontação que desde há décadas é prosseguido agrava as condições de vida da juventude e o seu direito a um presente e um futuro digno e compatível com as suas aspirações.
Ilda Figueiredo, por fim, lembrou os termos do Apelo, a necessidade de pôr fim à corrida aos armamentos, à escalada de conflito, à guerra, bloqueios e sanções, implementando e respeitando os princípios consagrados na Carta das Nações Unidas e na Acta Final da Conferência de Helsínquia, de 1975.
Terminou com uma certeza, que é ao mesmo tempo um chamamento: a luta pela paz, que teve ali um momento particularmente importante, vai continuar. Com os que ali estiveram e com muitos outros que entretanto se juntarão.
PCP solidário e empenhado
Uma delegação do PCP, dirigida pelo Secretário-geral, saudou e integrou o desfile a meio da Avenida da Liberdade. Em declarações prestadas à comunicação social, Jerónimo de Sousa realçou que «a guerra e as sanções não são o caminho», mas sim a paz: «É isso que quer significar a minha presença aqui. É este desejo de que a paz no mundo prevaleça em relação à guerra, em relação aos conflitos e com todas as consequências que isto tem. Porque geralmente numa guerra são sempre os povos que pagam e quem ganha são os grandes grupos económicos, como se está a verificar mais uma vez.»
Para o dirigente comunista, os conflitos, guerras e ocupações que se verificam na Palestina, Síria, Líbia, Iémene e Ucrânia mostram que «este não é o caminho». Jerónimo de Sousa reafirmou que o PCP fará tudo «para que seja encontrada uma solução pacífica para o conflito, que se procure o diálogo e diplomacia e todos os meios que existem para evitar a guerra». E não, como se tem feito, bloquear toda e qualquer solução pacífica, pois são os povos que «acabam por sofrer».
O caminho que se impõe trilhar
De viva-voz, em faixas ou em pancartas, foram muitas as palavras de ordem presentes no desfile, pela mão das organizações que a ele se associaram como dos que, individualmente, fizeram questão de participar:
«Paz Sim! Guerra Não!»
«Só há liberdade a sério quando houver: a paz, o pão, habitação, saúde, educação»
«Saúde a definhar, a NATO a engordar!»
«Para a guerra vão milhões, para os povos só tostões»
«O povo quer a paz, não o que a guerra traz»
«Guerra é destruição, não é solução!»
«Paz Sim! NATO Não!»
«Pela paz que queremos, unidos lutaremos»
«Diálogo e negociação – não à confrontação!»
«Guerra é sofrimento, fim ao armamento»
«Pela paz, pelo pão, são muitos os que cá estão!»
«Trabalho sim! Guerra Não!»
«Conflitos a escalar: é sempre o povo a pagar»
«Salário a definhar, a NATO a engordar»
«Armamento Não! Paz e Cooperação»
«Cumprir a constituição, defender a paz e não a confrontação»
«Parar a guerra. Dar uma oportunidade à Paz»
«NATO é agressão. Dissolução é solução!»
«Sim à Paz. Pelo Desarmamento!»
«Contra o aumento do custo de vida! Acabar com a guerra! Exigir a paz!»
«São os povos a pagar as sanções»
«Art.º 7.º da Constituição da República Portuguesa: resolução pacífica dos conflitos»