As Edições Avante! ao serviço da democracia e do progresso social
As Edições Avante! assumem um importante papel «na luta pelo esclarecimento, a informação, a investigação, a formação cultural, política e ideológica, a formação humana», valorizou Jerónimo de Sousa na iniciativa realizada no sábado, 4, na Casa do Alentejo, em Lisboa, que teve como lema «As Edições Avante! ao serviço da democracia e do progresso social».
As Edições Avante! não são uma fábrica de produzir e vender livros-mercadoria
Que editora debate com os seus leitores e construtores a sua linha editorial e os caminhos para a sua maior difusão? Ora, foi precisamente isso que o PCP e a Editorial «Avante!» fizeram no sábado, 4, na Casa do Alentejo, em Lisboa: bem mais de uma centena de pessoas discutiu ali a singularidade e importância desta editora, o seu papel na luta do Partido, a sua contribuição para o esclarecimento e formação dos leitores, as formas de valorizar e alargar a sua difusão. Um debate que, como ali ficou bem evidente, não pode ser travado à margem da realidade concreta do País e do mundo.
Como diria Jerónimo de Sousa, na última intervenção da tarde, aquela sessão tinha como objectivos centrais contribuir para uma maior difusão das Edições Avante! e para alargar o envolvimento no trabalho editorial de intelectuais e quadros técnicos, bem como de todos os que se interessam pela «importante área da produção, edição e divulgação do livro». Pelo interesse que suscitou, pela elevada e empenhada participação e pelas perspectivas traçadas nas várias intervenções, dir-se-ia que os objectivos serão alcançados.
O «segredo» do seu êxito, que será o mesmo que trouxe as Edições Avante! até aqui, foi revelado pelo Secretário-geral do Partido: o papel «dedicado, generoso, militante, insubstituível» dos trabalhadores da editora, bem como o «contributo generoso e singular» de centenas de outras pessoas, dos escritores a editores, de tradutores a leitores», que deram «importantes contributos ou até mesmo uma parte essencial da sua vida para que estas edições atingissem os seus fins, chegassem a grandes massas».
Uma coisa é certa, acrescentou: a actividade editorial é um «meio de intervenção de grande valor, que tem que ser defendida num quadro de alteração e agravamento da situação do sector editorial e livreiro». O alargamento da sua promoção e a dinamização da sua difusão orgânica e militante, «com uma linha de acção política, ideológica e cultural e com maior utilização de meios tecnológicos», são para continuar, garantiu Jerónimo de Sousa, que não esqueceu o importante papel desempenhado por outras editoras, «muitas das quais mantiveram e mantêm relações de cooperação com as Edições «Avante!» - que exerceram e exercem a sua actividade dando um sentido progressista ao livro».
Informação, formação, estudo
A iniciativa decorreu em dois painéis: no primeiro, Aspectos da linha editorial das Edições Avante!, falaram Francisco Melo e José Barata-Moura; para o segundo, Aspectos da difusão das Edições Avante!, contribuíram Rui Mota, Sónia Ribeiro e Leonel Silva. No período aberto à intervenção dos participantes surgiram importantes contributos para a reflexão sobre ambas as questões.
O primeiro a intervir foi Francisco Melo, director das Edições Avante!, que lembrou o seu percurso desde a clandestinidade e até aos dias de hoje e referiu-se à revolução que representaram no mercado tradicional do livro, quer quanto ao público quer aos circuitos de distribuição e venda: «os nossos leitores ultrapassaram o reduzido âmbito da pequena burguesia com acesso à cultura e saíram das estantes das livrarias para a banca de rua e dos Centros de Trabalho, para a porta do comício e de outras realizações partidárias (cursos, encontros, conferências, congressos), para o local de trabalho e para a barraca de feira e de festa populares; subiram ao povo!»
Quanto aos objectivos, Francisco Melo destacou o «esclarecimento de amplas massas populares», a formação política dos militantes, o combate ideológico e a «formação humanista e o enriquecimento cultural de todos os trabalhadores e democratas». Daí que tenha sido dada prioridade à edição das obras dos clássicos do marxismo-leninismo, de materiais referentes à história do Partido e às suas posições, de livros de combate à ideologia do capitalismo e do imperialismo e de outros, transmissores da «experiência acumulada pelo movimento comunista e operário internacional». As Edições Avante!, lembrou, não é «uma fábrica de produzir e vender livros-mercadoria, como as editoras burguesas».
Por seu lado, José Barata-Moura sublinhou a «unidade dialética» que existe – e tem de existir num partido como o PCP – entre estudo, leitura e trabalho político: «É de dentro de um trabalho político, e para um trabalho político, que, enquanto militantes do Partido, lemos e estudamos. Lemos e estudamos de dentro de um trabalho político, para lhe aportar solidez, perspectiva e alcance.»
Centrando-se nas obras dos clássicos do marxismo-leninismo, bem como de Álvaro Cunhal, José Barata-Moura salientou que a sua leitura e estudo são essenciais, não por serem «nomes com autoridade ventilada», mas porque «compreenderam em profundidade os próprios tabuleiros em que intervinham: no seu embasamento estruturante, na sua dinâmica de desenvolvimento, na necessária organização social das forças em condições de promover revolucionamentos». Ou seja, acrescentou, «forjaram ferramentas, no que escreveram (e fizeram) consubstanciadas, que nos permitem ler e estudar, não apenas o mundo deles (que já lá vai), mas compreender e transformar as realidades (entretanto, modificadas) de um tempo que é o nosso».
Chegar sempre mais longe
Reflectindo sobre as perspectivas actuais e de futuro da editora, Rui Mota traçou o panorama do mercado livreiro em Portugal, falando de concentração e domínio monopolista, dos baixíssimos hábitos de leitura dos portugueses e do recente aumento significativo do preço do papel, que não deixará de se reflectir no custo final dos livros. Assim, realça, importa buscar «soluções alternativas que possam mitigar a consequência inevitável do aumento de preços».
Já quanto à linha editorial, Rui Mota revelou os mais de 300 títulos existentes no catálogo das Edições Avante! e os muitos mais que se encontram esgotados e cuja reedição, nomeadamente em formato digital, dará uma «importante contribuição para a luta que travamos».
Sónia Ribeiro, por seu lado, destacou a necessidade de serem adoptadas «múltiplas estratégias de divulgação e comercialização, que ultrapassem as dificuldades causadas pela lógica do negócio actualmente estabelecida» também neste sector. Do circuito comercial à rede militante, há muito a fazer, destacou, sublinhando que a «difusão orgânica e militante constitui uma importante frente de acção política, cultural e ideológica que oferece amplas possibilidades de reforço e alargamento nas diversas frentes de luta do Partido». A loja online, a Festa em Linha de Livros Desalinhados que se realiza desde 2020, o envio regular de newsletters e a dinamização das redes foram formas encontradas para difundir as edições.
Da experiência do livro 100 anos de luta enquanto exemplo de alargamento e difusão falou Leonel Silva, salientando as muitas iniciativas de apresentação realizadas em todo o País, «com grande participação popular, de muitos militantes do PCP, mas também de muitos outros democratas e patriotas». Para levar longe esta obra, trabalhou-se com bibliotecas municipais e escolares, associações culturais e recreativas, juntas de freguesia e câmaras municipais, organizações sindicais, lembrou, acrescentando que se alargou a participação a «alunos, professores, investigadores, historiadores e a muitos outros, que não deixaram de dar o seu contributo, que ajudou a enriquecer o conteúdo das iniciativas».
Partindo desta experiência para outras, futuras, Leonel Silva apelou a que se saiba «extrair o potencial de cada publicação», dirigindo o foco, definindo públicos-alvo e eventuais interessados em colaborar na divulgação e difusão de cada obra.
Livros que elevam
Nas Edições Avante!, salientou Jerónimo de Sousa, o livro é entendido «não como instrumento ao serviço da ideologia dominante, mas como veículo privilegiado ao serviço da democratização da Cultura, pelo efectivo exercício de direitos culturais do povo». É, também, um livro «ligado à realidade da vida e aos desafios que ela coloca ao homem e à sociedade, acessível aos trabalhadores e ao povo, voltado para a sua reflexão, trabalho e prazer».
Para a editora, o livro assume-se como «transmissor de conhecimentos, princípios, teorias e valores indispensáveis para explicar a complexidade dos fenómenos, para a interpretação do mundo ao serviço da sua transformação, visando a construção de sociedades mais justas, solidárias e fraternas». Os livros editados pelas Edições Avante!, e tantos que já o foram, têm identidade própria: são livros desalinhados com o sistema reinante de mercantilização dos bens culturais, que faz deles «um bem de consumo ou de luxo ao serviço do aumento do lucro e da concentração da riqueza das multinacionais da indústria livreira». Desalinhados com os valores da ideologia dominante, abrem-se a outras perspectivas e a realidades alternativas.
Como é possível verificar no catálogo da editora, ali não há lugar a simplificações, ao esquematismo, ao acriticismo, ao niilismo ou ao individualismo. Para as Edições Avante!, o livro deve identificar-se «com a causa da verdade e na busca da sua sistemática procura, comprometido com os trabalhadores e o povo e ao serviço da elevação do seu nível cultural e emancipação social». É, realçou ainda o Secretário-geral do Partido, um instrumento indispensável para a «formação de consciências críticas, de cidadãos participativos, não acomodadas nem resignadas».
Novidades para breve
Na iniciativa de dia 4 foram anunciados alguns dos títulos que as Edições Avante! se preparam para publicar: A Integração Europeia: Um Projecto Imperialista, de António Avelãs Nunes; uma publicação em torno de José Saramago, por ocasião do centenário do seu nascimento; uma antologia de textos da autoria de Albano Nunes; a continuação da edição de obras dos clássicos do marxismo-leninismo; o sétimo tomo das Obras Escolhidas de Álvaro Cunhal; e os materiais sobre a iniciativa do PCP Energia e recursos na transição energética. Soberania, segurança, ambiente e desenvolvimento.