1957 – Discurso da Suécia, de Camus

A arte não é para mim um prazer solitário. (...) E aquele que muitas vezes escolheu seu destino de artista por se sentir diferente, cedo aprende que só alimentará a sua arte, e a sua diferença, admitindo as suas semelhanças com toda a gente. O artista forja-se nesse perpétuo vai e vem de si para os outros, a meio caminho entre a beleza da qual não pode prescindir e a comunidade de que não se pode separar. É por isso que os verdadeiros artistas não desprezam nada; esforçam-se por entender em vez de julgar. E, se têm de tomar partido neste mundo, só pode ser o de uma sociedade onde, segundo a poderosa palavra de Nietzsche, não mais reinará o juiz, mas sim o criador, seja trabalhador ou intelectual.” Excerto do famoso discurso de Albert Camus em Estocolmo, a 10 de Dezembro, na cerimónia em que foi distinguido com o Nobel da Literatura, ilustrativo do polémico tema escolhido: o papel do escritor, levantando mais questões do que dando respostas. Nascido na Argélia, em 1913, Camus foi distinguido aos 44 anos por “uma obra que traz à luz com penetrante seriedade os problemas que actualmente surgem na consciência dos homens”, de que se destaca “O Estrangeiro” e “O Mito de Sísifo” em 1942, “A Peste” em 1945, “O Homem Rebelde” em 1951 e “A Queda” em 1956.