Por salários e direitos, contra o empobrecimento, a luta intensifica-se

Milhares de trabalhadores da Administração Pública participaram, no dia 20, na manifestação nacional que a Frente Comum de Sindicatos promoveu em Lisboa, contra o empobrecimento. Como estes, muitos outros fizeram greve por todo o País. Esta grande jornada de luta vai ter continuação, desde logo na concentração que a CGTP-IN convocou para amanhã, dia 27, às 11h00, junto da Assembleia da República, onde vai ser votada a proposta de Orçamento do Estado.

«Sabemos que é a luta que nos vai garantir o futuro melhor que exigimos»

«O Governo tenta à viva força impor-nos o inaceitável, que é empobrecer a trabalhar», e quer «fazer-nos acreditar que a solução para o problema do aumento do custo de vida é habituarmo-nos a viver pobres», protestou Sebastião Santana, ao intervir, pouco antes das 17 horas, perante os trabalhadores que enchiam o espaço frente à escadaria do Palácio de São Bento.

O coordenador da Frente Comum avisou: «Daqui dizemos ao Governo que não conte com o nosso silêncio, enquanto opta por não resolver este problema. O que vai comprar, com estas políticas, é a continuação e o aprofundamento da nossa luta, como aqui ficou claro.»

Recordou que «desde 2009, perdemos salário», prevendo que, «no final deste ano, se o Governo teimar em não alterar as suas políticas, teremos perdido mais de 15 por cento do poder de compra». No entanto, «neste período, e à custa dos nossos salários, muitos foram os que engrossaram os seus lucros de forma escandalosa».

Por outro lado, «o Governo, que insiste em nos retirar poder de compra, impondo uma actualização salarial ridícula e provocatória de 0,9 por cento, é o mesmo que [no OE 2022] propõe fazer crescer a rubrica “aquisições de serviços” aos privados, em 7,5 por cento». Isto significa, salientou Sebastião Santana, mais 990 milhões de euros que «vão direitinhos para os bolsos que já estão cheios».

O dirigente realçou que tal sucede «por opção política, por vontade de não fazer diferente» e «porque este Governo está comprometido com interesses que não são os nossos, nem das nossas populações, nem do nosso País».

Com o Orçamento em discussão no Parlamento, o Governo «só não o altera se não quiser, só não negoceia com os sindicatos da Frente Comum se não quiser, só não faz o que é preciso se não quiser».

«Estamos, como sempre, disponíveis para negociar», reafirmou o coordenador da Frente Comum, logo garantindo que «também estamos disponíveis, e muito, para continuar a lutar, porque sabemos que é a luta que nos vai garantir o futuro melhor que exigimos». «É isso mesmo que vamos fazer, se o Governo não mudar a sua posição», assegurou Sebastião Santana.

 

Jornada nacional

Desde o Marquês de Pombal – onde, desde as 14h30, se concentraram trabalhadores dos diferentes sectores da Administração Pública, vindos de todo o Continente e das Regiões Autónomas, ocupando a faixa lateral até à Rua Alexandre Herculano –, passando pelo Largo do Rato e a Rua de São Bento, os motivos da luta ficaram bem explicados nas faixas, bandeiras, cartazes e nas palavras de ordem, gritadas a plenos pulmões e amplificadas em megafones e carros de som.

«Não podemos aceitar empobrecer a trabalhar», «Costa, escuta, trabalhadores estão em luta», «Aumento salarial é fundamental», «A luta continua, nos serviços e na rua», «É preciso, é urgente uma política diferente», «Avaliar, sim! Imposição, não!», «Serviços públicos, sim! Privatização, não!» foram algumas das consignas mais repetidas ao longo do percurso, durante cerca de duas horas.

Um sublinhado especial foi feito na concentração final, momentos antes da intervenção de Sebastião Santana, em resposta ao apelo a que os manifestantes erguessem por um momento os cachecóis, com a inscrição «Empobrecer a trabalhar – Não! 90 euros para todos!», profusamente exibidos durante a manifestação. O gesto foi acompanhado por ruidosos protestos, usando vozes, gaitas e apitos.

Ao saudar os trabalhadores que se manifestaram em Lisboa, o coordenador da Frente Comum abarcou «todos aqueles que se mostraram solidários com esta grandiosa manifestação nacional e que nos acompanham na luta por um futuro melhor, por melhores condições de vida, por melhores condições de trabalho e por melhores serviços públicos».

Destacou «todos os que, estando aqui ou não, exerceram o seu direito de greve», que «foram muitos milhares, por todo o País». E realçou que esta foi «uma luta da Frente Comum, porque é também comum o atropelo que o Governo faz aos nossos direitos».

 

CGTP-IN prepara acção de luta nacional

A Secretária-geral da CGTP-IN, a quem foi dada a palavra logo depois de o Secretariado da Frente Comum de Sindicatos da Administração Pública ter sido chamado para a frente do palco móvel, considerou que esta «grande manifestação» constituiu uma «grande demonstração da força que os trabalhadores têm quando se unem e exigem resposta aos seus problemas e às suas reivindicações».

Esta é uma luta «da maior justiça», disse Isabel Camarinha, pois os trabalhadores da Administração Pública «há 13 anos que estão à espera de ser valorizados» e isso foi de novo recusado, este ano, pelo Governo do PS.

Pela valorização dos salários e das pensões, que têm perdas agravadas por «esta brutal perda de poder de compra, devido ao aumento dos preços», e para defender os serviços públicos e as funções sociais do Estado, «a luta vai ter de continuar».

A dirigente reiterou as exigências colocadas pela confederação nas comemorações do 1.º de Maio, designadamente: o aumento geral dos salários, em 90 euros, para todos os trabalhadores, e um aumento extraordinário para aqueles que tiveram uma actualização que não repõe o poder de compra; o aumento do salário mínimo nacional para 800 euros, em 1 de Julho; um aumento extraordinário mínimo de 20 euros nas pensões e reformas.

«É preciso responder aos problemas do País», «valorizar as carreiras e as profissões», «garantir a negociação da contratação colectiva», promover alterações à legislação laboral que «garantam os direitos dos trabalhadores».

Amanhã, dia 27, a CGTP-IN vai «iniciar uma acção de luta nacional», com uma concentração junto da AR, no dia da votação do Orçamento do Estado, porque este «não garante resposta aos problemas dos trabalhadores da Administração Pública, nem aos problemas do País», mas também «para afirmarmos as reivindicações dos trabalhadores e exigirmos a alteração da política que tem vindo a ser seguida».

Logo depois, «vamos ter um mês de Junho em que, em todas as empresas, locais de trabalho e serviços, na Administração Pública, nas empresas públicas e no sector privado, precisamos de que os trabalhadores vão para a greve, para concentrações, para acções nas empresas, junto do Governo, junto das associações patronais, exigir resposta às suas reivindicações». Desta forma, concluiu a Secretária-geral da CGTP-IN, «vamos fazer do mês de Junho um grande mês de luta».

 

PCP persiste no aumento dos salários

O Governo deve «negociar com os sindicatos uma tabela salarial que corresponda a um sentido positivo de valorização dos salários», defendeu Jerónimo de Sousa, em declarações aos jornalistas, enquanto os manifestantes iam enchendo o espaço entre a Calçada da Estrela e a Rua de São Bento.

O Secretário-geral do PCP realçou que «hoje o problema da vida cara afecta milhões de portugueses, que começam a sentir e a verificar que tudo aumenta». Questionou a posição do Governo e chamou a atenção para a «contradição insanável» que representa a recusa de aumentos dos salários, desvalorizados por «um aumento brutal da inflação», sob o pretexto de combater essa mesma inflação.

Da delegação do PCP, que prestou solidariedade aos trabalhadores em luta, fizeram também parte João Dias Coelho (da Comissão Política do Comité Central), Alma Rivera (do CC e deputada), e Luís Fernandes (da Comissão Central de Controlo).