Em nome da Paz

João Frazão

Não há dia nenhum em que não me pergunte. Em que cada um de nós não se pergunte. Até quando? Quantas mais vítimas é preciso exibir nas televisões para conseguir um empenhamento sério na luta pela Paz?

No discurso dominante, há uns que querem fazer crer que aos comunistas portugueses não importariam tais imagens. Que não teríamos «empatia com a dor alheia».

Na lógica da simplificação do discurso, da infantilização do pensamento e da reflexão, da divisão entre o bem e mal, entre o certo e o errado, entre um lado e o outro, onde não há espaço para elaborações mais complexas, para explicações, antecedentes ou enquadramento dos processos, querem lançar um anátema sobre quem pense e tenha a coragem de afirmar diferente.

Mas como poderiam aqueles que defendem a felicidade de todos os seres humanos conviver com imagens de guerra, de dor, de destruição?

Como poderiam os que defendem os direitos das crianças, colocando-as no centro das suas preocupações, aceitar crianças a morrer, envolvidas numa guerra para a qual não têm qualquer contributo?

Como não ficar tocado perante idosos sem rumo, sem perspectiva, nós, que nos batemos como nenhuns outros por um envelhecimento digno e com qualidade de vida?

Como poderia ficar indiferente perante jovens, mulheres, homens, seres humanos em sofrimento, quem tudo faz e propõe para aliviar o sofrimento de todos e de cada um?

É exactamente por nos serem insuportáveis tais imagens, ali ou em qualquer parte do mundo, por querermos que essas notícias, mesmo que empoladas algumas, deixem de ter lugar, por exigirmos que termine essa agonia, esse flagelo, essa aflição para cada uma das vítimas desta guerra, que continuamos a bater-nos pela Paz.

É por a Paz, a cooperação entre os povos e a resolução pacífica dos conflitos estarem na génese do projecto humanista de sociedade justa e de progresso que defendemos, que insistimos em levantar bem alto a bandeira branca da Paz.

O que aqui defendemos é um processo franco de cessar-fogo e de diálogo com vista a uma solução negociada. Não pressupõe nem a rendição, nem a vitória, nem a derrota de ninguém. Pressupõe boa vontade, e não apenas das partes. Pressupõe empenhamento de todos e, por ventura, em primeiro lugar dos que, não estando directamente no conflito, o alimentam à exaustão como forma de, com ele, ganhar nos planos político, económico, ideológico, militar e geo-estratégico para os seus objectivos imperialistas.

Não há alternativa. Adiar o caminho da paz é pactuar com o horror que todos os dias nos atormenta.




Mais artigos de: Opinião

Dia da Vitória

Consoante os interesses e as circunstâncias, cada um conta a história à sua maneira e quando falamos da História da humanidade, ela sempre teve duas versões, a dos explorados e a dos exploradores... e sempre, mas sempre, os exploradores reescreveram a história para travarem o curso de declínio do capitalismo, a...

Acolher refugiados, afirmar o humanismo, combater a xenofobia

A discussão pública sobre o acolhimento de imigrantes/refugiados ucranianos transformou-se num espaço em que campeiam concepções e discursos xenófobos, com acusações graves feitas de forma leviana, num tom, em algumas circunstâncias, quase pidesco. E, invariavelmente, com o PCP no centro do alvo…

O Parecer e a realidade

No mundo da guerra híbrida, preparada, armada e comandada pelo imperialismo, nos planos económico, diplomático, militar, ideológico, mediático, paga e travada pelos povos, e das guerras «previstas» pelos USA para os próximos anos – na vã tentativa de iludir o destino histórico de derrota do sistema –, a informação,...

Matilha

Em 17 de Abril, a primeira página do Público fazia, de forma abjecta, chamada para um artigo cujo título era PCP, a vítima portuguesa da guerra da Ucrânia. O artigo era o que havia a esperar do órgão da Sonae. A autora escreveu o que entendeu, como lhe compete. Nada a dizer aqui quanto a isso. Acontece que a dita...