Em nome da Paz
Não há dia nenhum em que não me pergunte. Em que cada um de nós não se pergunte. Até quando? Quantas mais vítimas é preciso exibir nas televisões para conseguir um empenhamento sério na luta pela Paz?
No discurso dominante, há uns que querem fazer crer que aos comunistas portugueses não importariam tais imagens. Que não teríamos «empatia com a dor alheia».
Na lógica da simplificação do discurso, da infantilização do pensamento e da reflexão, da divisão entre o bem e mal, entre o certo e o errado, entre um lado e o outro, onde não há espaço para elaborações mais complexas, para explicações, antecedentes ou enquadramento dos processos, querem lançar um anátema sobre quem pense e tenha a coragem de afirmar diferente.
Mas como poderiam aqueles que defendem a felicidade de todos os seres humanos conviver com imagens de guerra, de dor, de destruição?
Como poderiam os que defendem os direitos das crianças, colocando-as no centro das suas preocupações, aceitar crianças a morrer, envolvidas numa guerra para a qual não têm qualquer contributo?
Como não ficar tocado perante idosos sem rumo, sem perspectiva, nós, que nos batemos como nenhuns outros por um envelhecimento digno e com qualidade de vida?
Como poderia ficar indiferente perante jovens, mulheres, homens, seres humanos em sofrimento, quem tudo faz e propõe para aliviar o sofrimento de todos e de cada um?
É exactamente por nos serem insuportáveis tais imagens, ali ou em qualquer parte do mundo, por querermos que essas notícias, mesmo que empoladas algumas, deixem de ter lugar, por exigirmos que termine essa agonia, esse flagelo, essa aflição para cada uma das vítimas desta guerra, que continuamos a bater-nos pela Paz.
É por a Paz, a cooperação entre os povos e a resolução pacífica dos conflitos estarem na génese do projecto humanista de sociedade justa e de progresso que defendemos, que insistimos em levantar bem alto a bandeira branca da Paz.
O que aqui defendemos é um processo franco de cessar-fogo e de diálogo com vista a uma solução negociada. Não pressupõe nem a rendição, nem a vitória, nem a derrota de ninguém. Pressupõe boa vontade, e não apenas das partes. Pressupõe empenhamento de todos e, por ventura, em primeiro lugar dos que, não estando directamente no conflito, o alimentam à exaustão como forma de, com ele, ganhar nos planos político, económico, ideológico, militar e geo-estratégico para os seus objectivos imperialistas.
Não há alternativa. Adiar o caminho da paz é pactuar com o horror que todos os dias nos atormenta.