O massacre de Odessa foi há oito anos

2 de Maio de 2014, Odessa, Ucrânia: mais de 40 pessoas são assassinadas na Casa dos Sindicatos daquela cidade, um grande edifício onde nos tempos da União Soviética funcionava a sede local do Partido Comunista.

Ninguém foi condenado pelo massacre de Odessa

A maioria morreu queimada, num incêndio provocado pelo lançamento de bombas incendiárias a partir do exterior, mas houve também quem não tenha resistido à queda de andares elevados, quando procurava escapar às chamas, e os que foram mortos a tiro ou devido a espancamentos depois de fugirem ao fogo.

O autêntico massacre resultou da brutal agressão de milícias neonazis, sobretudo do Praviy Sécktor (Sector Direito), vindas de toda a Ucrânia, contra os que, em Odessa, se opunham ao golpe de Estado de Fevereiro, que derrubara o presidente eleito e colocara no poder os sectores mais xenófobos, reaccionários e antidemocráticos da sociedade ucraniana. Os manifestantes exigiam a federalização do país e o respeito pelas diversas línguas e culturas nacionais, seriamente ameaçadas pela violenta acção da junta golpista – que, importa não esquecer, teve ministros escolhidos directamente pelos EUA.

Perante a brutalidade da agressão das hordas fascistas, muitos manifestantes procuraram refúgio no edifício da Casa dos Sindicatos, posteriormente cercado, atacado e incendiado, perante a passividade cúmplice das autoridades. Segundo um sobrevivente, cujo relato é aliás comprovado por imagens televisivas, «encurralaram-nos dentro do edifício e fecharam todas as vias de saída. (…) Os nazis do Praviy Sékctor começaram a lançar cocktails molotov e a disparar contra as janelas. O primeiro piso estava em chamas e estas iam subindo. O fumo invadia os corredores. Não havia forma de sair. Houve quem saltasse das janelas. Lá em baixo acabavam de os matar. Ouviam-se gritos de Slava Ukrainie e Smiert vragam (gloria à Ucrânia, morte aos inimigos). Era um autêntico inferno».

Muitas das vítimas (aos assassinados há que acrescer mais de 170 feridos, vários com gravidade) militavam em sindicatos e organizações de esquerda, como o Partido Comunista da Ucrânia e o partido Borotba. Uma das vítimas mortais foi o jovem Vadim Papura, de apenas 14 anos.

Até hoje, ninguém foi condenado pelos crimes.

Condenação e solidariedade

Logo a 5 de Maio de 2014, o PCP emitiu uma nota sobre o agravamento da situação na Ucrânia, na qual denunciava a «profunda hipocrisia e cumplicidade do imperialismo perante a onda de provocações, de instigação à violência, de violações de liberdades e direitos e de crimes perpetrados pelas forças ultranacionalistas e fascistas neste país». De que era exemplo, destacava, a «chacina ocorrida a 2 de Maio em Odessa de que foram vítimas cidadãos que se opõem às forças e ao poder golpista».

Já então o PCP alertava para as «consequências dramáticas» para os povos que poderiam advir da impunidade destes crimes e dos seus autores, por demais evidentes passados oito anos.

Nesse comunicado, o PCP denunciava ainda o «recurso à força militar – nomeadamente nas regiões do Leste da Ucrânia – para reprimir o movimento de protesto e oposição popular ao regime golpista ilegítimo e às medidas de cariz opressivo e xenófobo que este tenta aplicar». A que acrescia, ainda, a «imposição do pacote de saque económico e de cortes sociais acordado com o FMI, fomentando profundas divisões no país».

Denunciava-se ainda a «crescente deslocação de meios e efectivos militares da NATO para a Europa de Leste», numa evidente «escalada de tensão e de confrontação com a Federação Russa», alertando-se para as «graves implicações para a paz e a segurança nesta região» daí decorrentes.

O PCP defendia, já então, que se procurasse uma solução política, que teria obrigatoriamente de passar pelo reconhecimento do «carácter ilegítimo do poder golpista» e pela instauração de um real processo de diálogo que atendesse às «legítimas e justas reivindicações das populações». Expressava igualmente a solidariedade aos comunistas ucranianos, já então perseguidos, e denunciava as tentativas de ilegalizar o PCU e outras forças democráticas.

Em Julho, o voto que apresentou na Assembleia da República, de condenação pela violência e repressão na Ucrânia, foi rejeitado com os votos de PS, PSD e CDS.

 

EUA e aliados promovem guerra sem fim na Ucrânia

Os EUA vão promover conferências mensais com os seus aliados da NATO e com outros países que não se associem àquele bloco político-militar com o objectivo de promover a eternização do conflito que hoje se trava na Ucrânia.

A primeira dessas reuniões realizou-se a 26 de Abril, na base aérea norte-americana de Rammstein, na Alemanha, sede da força aérea dos EUA na Europa. Washington convidou a assistir ao encontro ministros da Defesa de 40 países. O encontro, no essencial, confirmou o aumento da «assistência militar» a Kiev e reforçou a coordenação do envio de armamento à Ucrânia.

A Alemanha aprovou o envio de blindados antiaéreos. A ministra da Defesa, Christine Lambrecht, indicou que Berlim concederá à empresa de armas Krauss-Maffei Wegmann permissão para enviar 50 tanques Gepard com canhões antiaéreos para a Ucrânia. E revelou que militares ucranianos estão a ser treinados na Alemanha, por instrutores norte-americanos, para usar sistemas de artilharia de obuses e radares.

Foi divulgado que outros países continuam a armar a Ucrânia. O Reino Unido já enviou mais de 200 mil armas, incluindo 4.800 mísseis antitanque NLAW e um pequeno número de mísseis Javelin. Também mandou mísseis e tanques antiaéreos Starstreak. A França enviou obuses móveis Caesar e a República Checa entregou obuses mais antigos. Além de obuses, o Canadá forneceu munições guiadas Excalibur. E muitos outros exemplos podiam ser dados.

Fabricantes de armas
contentes com a guerra

As grandes companhias norte-americanas que produzem para a guerra e que impulsionam a escalada da confrontação militar manifestaram contentamento com o prolongar da guerra.

Um alto dirigente da empresa Raytheon, um dos maiores fornecedores de armas mundiais, foi claro: «Tudo o que se envia para a Ucrânia provém dos stocks de armamento do Pentágono ou dos nossos aliados da NATO. Teremos de repor os stocks e isso beneficiará os nossos negócios nos próximos anos».

Washington já aprovou 13 mil milhões de dólares de apoio «militar, humanitário e económico» à Ucrânia, desde 24 de Fevereiro, e a administração norte-americana solicitou mais 33 mil milhões, verba que o Congresso se dispõe a aprovar.

Na terça-feira, 3, o presidente Joe Biden viajou de Washington para o Estado do Alabama, onde visitará as instalações da companhia Lockheed Martin, uma das empresas armamentistas que mais beneficia com a guerra na Ucrânia. É a empresa que fabrica mísseis anti-tanque Javelin, que os EUA têm fornecido a Kiev (mais de 5.500 unidades).




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