O povo saiu à rua no 25 de Abril

A Revolução dos Cravos – momento ímpar da história do povo português, que afirma a liberdade, a democracia e todos os valores de Abril – voltou a ser comemorada em todo o País, por muitos milhares de pessoas,emmanifestações, espectáculos, debates, fogo-de-artificio, distribuição de cravos, inaugurações, debates, exposições, apresentações de livros, entre outras acções importantes.

Jornada de afirmação dos direitos inscritos na Constituição

Na segunda-feira realizaram-se concentrações, desfiles e manifestações em Coimbra, Braga, Faro, Santarém e Viseu, entre outras localidades. No Porto, após uma cerimónia de homenagem aos resistentes antifascistas, seguiu-se o habitual «Desfile pela Liberdade», que se iniciou no antigo edifício da Pide (Rua do Heroísmo) e terminou na Avenida dos Aliados. A actuação dos Comvinha Tradicional e do projecto Chulada da Ponte Velha encerrou as comemorações da cidade invicta.

Em Lisboa as comemorações foram grandiosas. Porque é o cravo o símbolo do 25 de Abril? A curiosidade daquela criança, de apenas sete anos, crescia à medida que assistia à movimentação de tanta e tanta gente – desta vez sem as restrições dos últimos dois anos – em direcção ao Marquês de Pombal.

Antes do começo, já a Avenida da Liberdade estava apinhada de pessoas, que, nos seus olhares e gestos,transmitiamalegria por poderem estar presentes. Os sons ajudavam: «Só há liberdade a sério quando houver; Liberdade de mudar e decidir; Quando pertencer ao povo o que o povo produzir», ouvia-se das colunas de uma carrinha que anunciava a realização da Festa do Avante!, nos dias 2, 3 e 4 de Setembro.

O interesse da miúdaadensava-se com o facto de à cabeça do desfile, em direcção à Praça do Rossio, estarem duas chaimites e um jipe militar (veículos do Exército utilizados durante a operação militar que derrubou o fascismo), que ajudou à compreensão da história. O registo fotográfico desse elemento foi, por isso, necessário, para mais tarde recordar.

No arranque, a seguir ao «quadrado» com elementos da Comissão Promotora das Comemorações Populares, com a mensagem «25 de Abril sempre», seguiram-se muitascentenas de crianças e jovens, presentes para lutar pelo seu futuro. «Agora e sempre a juventude está presente», ouvia-se de uma «muralha» de punhos erguidos e bandeiras vermelhas da JCP, que ali estavam, radiantes, a comemorar a paz, a liberdade, a democracia, os direitos e conquistas que contribuíram para a melhoria das condições de vida dos jovens, dos trabalhadores e do povo português. Porque «Abril é mais futuro», reclamavam a gratuitidade do ensino, mais Acção Social Escolar, cultura, estabilidade, igualdade e salário. Em pancartas e cartazes afirma-se «Paz sim, guerra não», uma das palavras de ordem que mais se ouviu durante o percurso. «Parar a guerra» e «Dêem uma oportunidade à paz» foram apelos do Conselho Português para a Paz e Cooperação e da Associação Juvenil Projecto Ruído. Exigiu-se, igualmente, o fim do bloqueio a Cuba e a Gaza, mas também uma Palestina livre e independente.«0% para a guerra» e «1% [do Orçamento do Estado] para o Serviço Público de Cultura» foi a reivindicação do Manifesto em Defesa da Cultura. A estes juntaram-se também o Partido Ecologista «Os Verdes», com as palavras «paz», «liberdade» e «biodiversidade», o Conselho Nacional de Juventude ea Interjovem/CGTP-IN, entre outras organizações.

Como é hábito – e já a pensar nas manifestações do 1.º de Maio, desfilaramdepois as estruturas sindicais, da administração pública e local, da saúde, da cultura, da educação, dos transportes e comunicações, industria transformadora e energia, serviços bancários e seguros, comissões de trabalhadores. «Com os trabalhadores. Defender Abril», «Reforçar o Serviço Nacional de Saúde (SNS)», «Contra a destruição das Funções do Estado», foram algumas das mensagens trazidas, unidas com reivindicações concretas de «melhores salários», «dignificação profissional», «Defesa da contratação colectiva»e «aumento geral das reformas».

Jornada de luta
Durante o percurso e questionado pela comunicação social, o Secretário-geral do PCPdestacou a importância daquela enormeacçãode afirmação dos «valores de Abril» e momento de luta por salários e pensões, bem como pelo direito ao «trabalho, à educação, ao SNS, à habitação». Com ele estavam Paulo Raimundo, João Ferreira e Paula Santos, entre outros dirigentes comunistas.

Ao som das palavras de ordem «Abril e Maio de novo com a força do povo», «O custo de vida aumenta, o povo não aguenta» e «É urgente e necessário o aumento do salário», outras reivindicações marcharam por aquela Avenida, pela voz de mais organizações, como a URAP, o MURPI, o MDM, a APD, a CNOD, a CRCCR, o MUSP, a Frente Anti-Racista, a Associação Iúri Gagárin, a APJD. As exigências foram desde a revogação da lei dos despejos, para acabar com os despejos e a especulação, até ao direito à mobilidade, com mais e melhores transportes.

Quando se dava por concluídaa jornada, ainda a Avenida da Liberdade se encontrava repleta, nomeadamente de gentes e vontades das freguesias dos concelho de Vila Franca de Xira, Odivelas, Loures, Lisboa, Sintra, Amadora, Cascais e Oeiras, a que se juntou, por exemplo, o Movimento «Os mesmos de sempre a pagar. Contra o aumento do custo de vida». Seguiram-se, muitos outros, dos concelhos de Almada, Alcochete, Barreiro, Moita, Seixal, Palmela, Montijo, Sesimbra e Setúbal.

Na intervenção que encerrou o momento sublinhou-se: «A democracia defende-se proporcionando a todos condições de vida dignas e de trabalho, garantindo-lhes justiça e os meios necessários para se organizarem, respeitando a Constituição da República». Como não podia deixar de ser, falou-se ainda da «agudização dos conflitos no mundo» e da guerra na Ucrânia: «Nada pode justificar o recurso às armas como forma de fazer política». Aquela acção terminou com a «Grândola, Vila Morena; terra da fraternidade; O povo é quem mais ordena; Dentro de ti, ó cidade...», cantada por um coro incrível de homens e mulheres, de várias idades, raças e nacionalidades.

Aos órgãos de comunicação social foi pedido pela Comissão Promotora que transmitissem, às 18h00, a «Grândola Vila Morena», símbolo do 25 de Abril, seguida do hino nacional, que foram cantados às janelas e varandas de todo o País – muitas ainda com o poster publicado pelo Jornal Avante! com a mensagem: «25 de Abril sempre, fascismo nunca mais».

 

Abril é mais futuro

O PCP está a comemorar os 48 da Revolução sob o lema «Abril é mais futuro». Em todo o País são centenas as iniciativas comemorativas, envolvendo milhares de militantes e simpatizantes do Partido que, como nenhum outro, contribuiu para que o fascismo fosse derrubado e para que Abril assumisse um carácter revolucionário, profundamente transformador da realidade do País.

É, também, a força política que sempre se bateu firmemente pela defesa das conquistas revolucionárias e que aponta os valores de Abril como elementos constitutivos do futuro democrático de Portugal.

Nas várias iniciativas, lembrou-se a natureza do fascismo como «ditadura terrorista dos monopólios, associados ao imperialismo, e dos latifundiários» e como a maioria vivia com baixos salários, sem protecção social ou cuidados de saúde, as elevadas taxas de analfabetismo e emigração. Denunciou-se o aparelho repressivo – a PIDE, a censura, a Legião e a Mocidade Portuguesas, as prisões e campos de concentração, as torturas e os assassinatos – e os seus alvos principais, os comunistas.

Valorizada foi a luta antifascista, na qual participaram trabalhadores, estudantes, camponeses, mulheres e muitos outros sectores da sociedade. Falou-se das revoltas, das greves, das manifestações, das jornadas eleitorais, da resistência clandestina, das fugas da prisão. Evidenciou-se o Programa do PCP para a Revolução Democrática e Nacional e o impacto que teve no próprio curso da Revolução de Abril.

Denunciou-se a contra-revolução, a política de direita e os seus protagonistas. Os golpes e as sabotagens, o terrorismo e a ingerência, a entrada na CEE/UE como instrumentos do objectivo central de restauração capitalista e latifundista. Alertou-se para as ameaças do presente contra os direitos e a democracia, para a necessária defesa da Constituição e do que ela consagra. Apelou-se à unidade, à resistência e à luta – sementes de novos avanços.

 

Abril, diversidade e cultura

Autarquias, organizações das mais diversas áreas de intervenção, museus e outras entidades assinalaram um pouco por todo o País mais um aniversário da Revolução. Na noite de 24, foram muitos os concertos a ter lugar em diversas cidades, vilas e aldeias – ou não tivesse tido a Cultura, e em especial a música, um papel relevante na resistência e na revolução.

Exposições, debates, sessões e convívios também foram formas de celebrar a conquista da liberdade, da democracia e dos direitos.

As comemorações estendem-se pelos próximos dias.

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