Resistindo à manipuladora torrente de desinformação, de propaganda de guerra, de promoção do discurso de ódio, de imposição de pensamento único em torno da guerra na Ucrânia, tem sido corajosamente sublinhada a necessidade de se conhecer e ter presente as causas do conflito, questão tão mais importante quando o objectivo seja prevenir o seu agravamento e facilitar uma solução negociada.
É o que têm feito aqueles que sempre se bateram pela paz e o desarmamento e que desde o primeiro momento denunciam e alertam para os perigos das políticas que fomentam o militarismo e a guerra.
No entanto, não é surpreendente que aqueles que são dos primeiros responsáveis pelo desencadeamento da guerra na Ucrânia há oito anos, e que agora apostam na continuação, e mesmo intensificação, da política de confrontação que está na sua origem, façam tudo para omitir e contrariar essa necessidade.
Talvez poucas frases consigam sintetizar o que está imediatamente em causa como aquela que foi proferida pelo secretário-geral da NATO, na Conferência de Segurança de Munique, no passado dia 19 de Fevereiro, em pleno momento de agravamento da situação no Leste da Europa – afirmou Jens Stoltenberg: «Então, se o objetivo do Kremlin é ter menos NATO nas fronteiras da Rússia, ele só terá mais NATO.»
Efectivamente, o desrespeito de compromissos assumidos pelos EUA e outros países integrantes da NATO quanto ao não alargamento deste bloco político-militar belicista – responsável pelas guerras contra a Jugoslávia, o Afeganistão ou a Líbia –, assim como a sua política de cerco e de máxima pressão sobre a Rússia, incluindo com a instalação de cada vez mais forças militares, realização de exercícios e operações com carácter abertamente provocatório junto às fronteiras deste país, estão no cerne da grave situação de insegurança na Europa, constituindo uma séria e permanente ameaça à paz.
Recorde-se que o desrespeito do compromisso de não alargamento da NATO assumido por responsáveis dos EUA foi acompanhado pela paulatina retirada deste país de importantes acordos visando o controlo de armamentos, como o Tratado de misseis antibalísticos (2002), o Tratado de forças nucleares de alcance intermédio (2019) ou o Tratado de céus abertos (2020).
Toda uma política que atingiu um novo e mais grave patamar com o golpe de Estado na Ucrânia em 2014, promovido pelos EUA, levado a cabo com recurso a forças fascistas, que instaurou um poder xenófobo e belicista, inserindo a Ucrânia na estratégia de confrontação promovida pelos EUA, a NATO e a UE, e levado a guerra a este país, que se agravou com a recente intervenção militar da Rússia.
Por isso o PCP afirma que é necessário parar o caminho para o abismo, parar a instigação do confronto, parar a política e as medidas que estão na origem do conflito, que só levarão à perda de mais vidas humanas, a maior sofrimento.
Pelo contrário, são necessárias iniciativas que contribuam para o fim da escalada do conflito na Ucrânia, para o cessar fogo, para um processo de diálogo com vista a uma solução negociada para o conflito, à resposta aos problemas de segurança colectiva e do desarmamento na Europa, ao cumprimento dos princípios da Carta da ONU e da Acta Final da Conferência de Helsínquia, no interesse da paz e cooperação entre os povos.