Intervenção militar da Rússia na Ucrânia prossegue, tal como as conversações. Entretanto, a NATO convocou uma cimeira para a próxima semana e a China considera prioritário alcançar um cessar-fogo e aligeirar tensões em vez de as exacerbar.
O ministro dos Negócios Estrangeiros da Federação Russa, Sergei Lavrov, afirmou ontem, 16, que poderá estar próximo um acordo com a Ucrânia relativo à neutralidade do país, com garantias de segurança. Em declarações à imprensa, o governante russo revelou que há formulações específicas sobre esta questão a serem discutidas nas conversações. Lavrov adiantou outras questões relativamente às quais a Rússia espera obter respostas, nomeadamente a desmilitarização do país e os direitos das populações de língua russa, seriamente ameaçados desde 2014.
Estas declarações surgem apenas um dia após o presidente russo ter acusado as autoridades ucranianas de não mostrarem seriedade na busca de soluções para a situação actual que sejam aceitáveis para ambas as partes. Vladimir Putin, em conversa telefónica com o presidente do Conselho Europeu, Charles Michel, criticou a União Europeia por ter ignorado o ataque ucraniano de segunda-feira, 14, com mísseis contra uma zona residencial do centro da cidade de Donetsk, no Donbass.
O chefe de Estado russo reclama o reconhecimento da Crimeia como parte da Federação Russa e voltou a garantir que não planeia ocupar territórios ucranianos, mas sim defender o direito dos seus povos à autodeterminação. Além disso, reiterou que Moscovo não pode permitir que Kiev adquira armas nucleares e continue a militarizar-se, o que constitui um perigo para a segurança da Rússia. E destacou que a contínua expansão da NATO para Leste é inaceitável para Moscovo.
Cimeira da NATO a 24
Entretanto, o presidente dos EUA anunciou que viajará para a Europa na próxima semana para participar na cimeira da NATO, a 24 de Março, e na capital belga assistirá também a uma reunião do Conselho Europeu. O reforço das sanções à Rússia está no topo da agenda, assim como o reforço da NATO no leste da Europa.,
A cimeira da NATO da próxima semana terá lugar após o presidente da Ucrânia ter pedido aos EUA para intensificar esforços visando isolar a Rússia com mais sanções. Volodimir Zelensky instou Washington e a NATO a estabelecer uma zona de exclusão aérea sobre a Ucrânia, mas recebeu a resposta de que tal movimento era inviável porque poderia conduzir a um conflito directo entre a Rússia e este bloco político-militar.
Conversações prosseguem
As conversações entre negociadores da Rússia e da Ucrânia prosseguiram na terça-feira, 15, através de vídeo-conferência, confirmaram fontes em Moscovo e em Kiev.
Anteriormente, e desde o início da intervenção militar da Rússia na Ucrânia, houve três rondas de conversações bilaterais, presenciais, em território da Bielorrússia. Não se obtiveram resultados significativos, embora se tenham acordado questões logísticas para o funcionamento de corredores humanitários e o cessar-fogo durante a evacuação de civis.
O porta-voz presidencial russo, Dmitri Peskov, considerou o processo «complicado», assinalando que o formato de possíveis entendimentos entre as duas partes faz parte da agenda das conversações em curso. «É demasiado cedo para discutir de maneira pública esta questão, assim como o tema relacionado com a participação de outros Estados como garantes», indicou.
No plano diplomático, registou-se, entretanto, um encontro na Turquia entre os ministros dos Negócios Estrangeiros da Rússia e da Ucrânia, sem que tivessem sido divulgados os resultados.
Sanções recíprocas
A União Europeia (UE) impôs a partir de 15 de Março um novo pacote de sanções à Rússia no âmbito económico, visando dificultar o crédito a qualquer pessoa ou entidade desse país. Essas medidas somam-se a outras anteriores.
Anteriormente, diversos países activaram baterias de sanções individuais e sectoriais e dezenas de empresas suspenderam as suas actividades na Rússia. Essas medidas incluem a desconexão parcial da Rússia do sistema internacional de pagamentos Swift e o encerramento do espaço aéreo às companhias de aviação russas. Também foi imposto o congelamento das reservas internacionais do banco central da Rússia e o embargo da importação de petróleo russo por países como os EUA, Canadá, Reino Unido e Austrália.
Sobre estas sanções maciças contra Moscovo, o presidente do Banco Mundial, David Malpass, advertiu, num evento virtual organizado pelo jornal Washington Post, que tais medidas terão um impacto maior na economia global do que a própria guerra.
Pela sua parte, a Rússia aprovou um conjunto de disposições económicas e financeiras para fazer frente às mais de 2800 «acções punitivas» estrangeiras aplicadas desde finais de Fevereiro.
Em resposta a medidas similares impostas pelos EUA, o governo russo proibiu o presidente Biden e outros altos responsáveis norte-americanos de entrar na Rússia. Para Moscovo, as medidas simétricas respondem a uma série de «sanções sem precedentes».
China acusa EUA
A China acusou os EUA de difundir desinformações sobre o seu papel no conflito entre a Rússia e a Ucrânia e insistiu na necessidade de colocar o foco na busca de uma solução pacífica.
Em Pequim, o Ministério dos Negócios Estrangeiros fustigou as notícias sobre responsáveis norte-americanos que asseguram que Moscovo pediu à China ajuda militar para a sua intervenção na Ucrânia. Considerou que a tarefa prioritária, neste momento, é alcançar um cessar-fogo e aligeirar tensões, em vez de as exacerbar. E reiterou a disponibilidade da China para desempenhar um papel construtivo na promoção de negociações entre as partes do conflito.
O governo chinês deplorou desde o começo da crise os constantes questionamentos dos EUA por a China não se associar à imposição de sanções à Rússia, os esforços para minar as suas relações com Moscovo e até as ameaças de castigar cidadãos e empresas chinesas.
Segundo Pequim, a China sempre adoptou uma atitude objectiva e justa, fez os seus juízos independentes sobre o assunto em questão e desempenhou um papel construtivo nas conversações de paz. Mais: reiterou a oposição às sanções pelo seu efeito contraproducente e alertou que elas só conduzirão a perdas económicas em múltiplas direcções e, além disso, complicarão o processo político para resolver o conflito.