O tratamento noticioso da guerra atingiu níveis até há bem pouco tempo inimagináveis. Já tínhamos sido confrontados com o tratamento de sondagens e respectivo comentário, a propósito das eleições para a Assembleia da República. Se alguém pensava que daí seriam retiradas lições, cedo se enganou.
É proibido pensar diferente, sendo que todos recusam a guerra e todos defendem o respeito pelos instrumentos que enformam o direito internacional. É proibido olhar um problema por diversos ângulos. É proibido pensar, não vá alguém ter essa tentação e procurar informação alternativa, a UE, através da figura do Regulamento, censura canais de TV e plataformas digitais. Onde fica a Constituição da República? Por outro lado, os consumidores continuam a pagar o mesmo sem terem acesso a canais contratualizados. É a democracia e o respeito pelos direitos, liberdade e garantias por parte do poder dominante.
Oficiais generais, com reconhecida experiência em teatros de operações internacionais ao serviço de estruturas multinacionais, nomeadamente no âmbito da NATO e da ONU, dignificando as Forças Armadas, o País e dando a sucessivos governos a oportunidade de fazerem os habituais discursos de pompa e circunstância, são desconsiderados e enxovalhados, desde logo, por pessoas «credenciadas» no comentário e colunas de opinião. Talvez isto explique muito do estado a que isto chegou, parafraseando Salgueiro Maia.
Simultaneamente, assistimos a um uso de linguagem que roça o fanfarrão por parte de responsáveis políticos, com destaque para um Ministério dos Negócios Estrangeiros com tristes tradições nesta matéria e que corre em paralelo com notícias sobre o empenhamento de meios militares nacionais que, por pudor, se escusa aqui comentar. Melhor serviço prestariam se pusessem todo esse empenho e energia na resposta aos problemas que há anos afectam a Instituição Militar, em vez de contribuírem para a sua continuada degradação e para a desmotivação que grassa.
Não é a propaganda que resolve os problemas. Tal como não é lançando gasolina na fogueira que o fogo se apaga. À falácia sucessivamente repetida da NATO como organização defensiva, deve-se sublinhar que se trata de uma aliança político-militar que reúne Estados e as suas forças armadas para se organizarem para o combate de inimigos.
Ao contrário, a um sistema de segurança e cooperação, é alheia a noção de inimigo e uma qualquer estruturação de forças militares. São lógicas distintas. Como repetidamente temos afirmado, sucessivos governos comportam-se como se Portugal não tivesse interesses próprios a defender.
Ora, o que o tempo presente requer é a discussão em torno da construção da paz, através da definição de um processo assente no respeito mútuo, na criação da confiança, na erradicação das hegemonias e das relações de domínio e subordinação. Não houve nenhum império que, assente na força, não acabasse por ruir pela força dos inimigos que criou. A chamada paz imperial não cria paz, nem estabilidade, nem segurança.