O País perde um grande criador

Morreu esta segunda-feira, 14, aos 73 anos, o encenador, escritor, realizador, actor, dramaturgo, crítico, cronista e tradutor Jorge Silva Melo, nome fundamental no panorama do teatro e da cultura nacional nas últimas décadas.

Jorge Silva Melo nasceu em Silva Porto (Angola), vindo adolescente para Lisboa com a família, onde fez estudos secundários e frequentou a Faculdade de Letras.

Com apenas 15 anos, iniciou-se na crítica de cinema publicando os seus textos no suplemento Juvenil do Diário de Lisboa, dirigido por Mário Castrim.

O teatro, que se tornaria a sua paixão mais consequente, levou-o a participar no Grupo de Teatro de Letras, onde conheceu Luís Miguel Cintra, com o qual fundaria, em 1972, um dos mais importantes grupos de teatro, do que então se designava por teatro independente: a Cornucópia.

Sempre inquieto, e buscando novas abordagens e linguagens artísticas, Silva Melo criará em 1995, os Artistas Unidos, companhia onde será, simultaneamente, director artístico, encenador, tradutor e dramaturgo.

Estudou na London Film School, foi bolseiro da Fundação Calouste Gulbenkian, e, nas suas andanças por vários teatros europeus, estagiou em Berlim junto do encenador Peter Stein, e em Milão com Giorgio Strehler.

Professor da Escola Superior de Teatro e Cinema, Jorge Silva Melo foi também um realizador esteticamente inovador e sensível, com obras de referência em longa-metragem, para além de inúmeros documentários sobre escritores, actores e artistas plásticos, como Álvaro Lapa, Nikias Skapinakis, Fernando Lemos, Ângelo de Sousa ou Bartolomeu Cid dos Santos.

Foi autor das peças António, Um Rapaz de Lisboa (que teve também uma versão em cinema), Num País Onde Não Querem Defender os Meus Direitos Eu Não Quero Viver e O Navio dos Negros, entre outras, para além de traduções exemplares de textos de autores como Oscar Wilde, Pirandello, Brecht, Goldoni, Pinter ou Bücher.

Jorge Silva Melo pertenceu a uma geração inquieta que sonhou um país diferente, que utilizou as armas dos saberes, da arte e da cultura para denunciar o medo, a intolerância e o arbítrio. Que quis um País livre, justo e aberto ao porvir.

O País perdeu um grande criador, um dos nossos mais profícuos homens de cultura. Ficámos todos mais pobres.



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