Aumento do custo de vida reclama mais salário e pensão

«Perante a escalada do custo de vida, é necessário que o Estado e o Governo assumam o seu papel e façam o que tem que ser feito», exigiu Jerónimo de Sousa numa sessão, em Lisboa, no dia 24, quando por todo o País o Partido esteve na rua a esclarecer e a mobilizar.

Preços de ricos para pobres salários

Para o PCP, é urgente «regular e fixar preços, quebrar as indignas taxas de lucro das grandes empresas, aumentar as pensões e reformas e criar as condições para o aumento dos salários, desde logo do Salário Mínimo Nacional», disse o Secretário-geral comunista a encerrar uma iniciativa em que foram dados testemunhos (ver caixa) acerca da realidade com que se confronta quem vive do seu trabalho -de cada vez que vai às compras, paga as «contas da luz, água, gás, renda e prestações da habitação, telecomunicações, seguros, quando paga portagens, combustíveis, medicamentos e todo o tipo de despesas».

«Os preços sobem para todos, mas não atingem todos da mesma forma, tal como ficou hoje demonstrado nos diversos contributos», advertiu, no entanto, Jerónimo de Sousa, que, em síntese, lembrou os relatos que reflectiram «graves situações de pobreza, daqueles que pouco têm e para os quais cada cêntimo de aumento nos bens essenciais assume uma dificuldade acrescida»; «os custos com a habitação, os quartos que faltam para os membros da família» e a «incerteza e receio do que possam constituir os aumentos das taxas de juro e as consequências nas rendas e nos empréstimos bancários»; «a realidade dos que, trabalhando todos os dias, não auferem salários que lhes permitam sair da pobreza».

«Por aqui passou o drama dos desempregados, em particular os de longa duração, a crua e difícil realidade dos jovens sem condições de darem o salto nas suas vidas e se tornarem independentes», e «aqui se evidenciou o dia-a-dia dos reformados», os quais, «depois do contributo que deram, se deparam, muitas vezes, com a difícil opção entre comprar medicamentos ou comida», prosseguiu o dirigente do Partido, para quem «a cada dia que passa, o salário e a pensão ficam mais curtos para despesas cada vez maiores».

Neste contexto, não faltam os que «nos tentam mandar areia para os olhos quando afirmam que é o “mercado” a funcionar, ao mesmo tempo que nos dizem que “melhores dias virão” ou que isto é passageiro. Mas enquanto nos encharcam com esta conversa, há uns poucos que enchem os bolsos», chamou ainda a atenção o Secretário-geral do PCP, que acusou PSD, IL, Chega e CDS de naturalizarem os «lucros chorudos para poucos», e o PS de proteger e não quer afrontar a situação.

Preços de ricos para pobres salários
«De facto a situação está difícil, mas não é para todos», acusou, por isso, Jerónimo de Sousa a encerrar uma sessão em que esteve acompanhado na mesa por Inês Zuber e Paulo Loya, do Comité Central, e por Ricardo Costa, da Comissão Política do PCP. E perante a evidência de «preços de ricos para pobres salários» e a insistência no discurso de que «não há dinheiro», defendeu que «é preciso assumir o aumento geral dos salários como emergência nacional».

Também se coloca com actualidade «regular preços para travar as subidas galopantes dos preços dos combustíveis, da energia, e, por essa via, dos preços dos alimentos e bens essenciais», assim como das «telecomunicações, serviços bancários e rendas de casa». Não pode tardar a redução do «IVA de 13 para 6 por cento no gás, e de 23 para 6 por cento na electricidade». Mas central, notou o líder comunista, é fazer crescer «o Salário Mínimo Nacional para 850 euros a curto prazo», bem como promover a convergência do salário médio com a média da zona euro nos próximos cinco anos, ensejo que reclama «romper com a caducidade da contratação colectiva e de todas as normas gravosas da legislação laboral».

É igualmente «justo e necessário que todas as pensões de reforma sejam aumentadas a partir de Janeiro com um valor mínimo de 10 euros», não havendo desculpa para que tal «não se concretize desde já», considerou o Secretário-geral do Partido, que a concluir deixou claro que «este é o momento em que, tal como o PCP identificou, são necessárias medidas e não proclamações».

«Não são toleráveis desculpas nem falsas justificações», já que «perante a situação que enfrentamos e que se antecipa, não há como ficar a meio da ponte», disse ainda o Secretário-geral do PCP, que concluiu garantindo que o Partido voltará «a apresentar medidas e soluções, esperando que desta vez o PS olhe para o País, para os trabalhadores e as populações, e não se deixe amarrar pelos interesses de uma pequena minoria que, enquanto vai lucrando, determina o caminho nacional».

Amassam lucros

Na sessão, Jerónimo de Sousa deu exemplos concretos da discrepância entre as dificuldades dos trabalhadores e do povo e os lucros que amassam os grandes grupos económicos.

  • Em tempo de epidemia, enquanto o povo português sofria, os accionistas dos grupos económicos arrecadam mais de 7 mil milhões de euros de dividendos;

  • Nos primeiros 9 meses de 2021, os lucros da Jerónimo Martins subiram 47,7 por cento para 324 milhões. No mesmo período, o Grupo Sonae apresenta lucros de 158 milhões;

  • A EDP arrecadou 657 milhões de euros de lucro em 2021, ao passo que a Galp teve 457 milhões de euros de lucro e o sector segurador aumentou-os em 58 por cento no primeiro semestre do ano passado;

  • Os principais bancos arrecadaram mais de mil milhões de euros só até Setembro do ano que passou, enquanto que a NOS fechou o primeiro trimestre de 2021 com um lucro de 30,5 milhões de euros e a Altice com 550,7 milhões de euros;

  • A Brisa viu os seus lucros subirem 51 por cento.

 

Comparando os rendimentos dos 10 por cento da população com menores recursos com os da população com maiores recursos, em 2020 o fosso aumentou 21 por cento. Rego Mendes

Os desempregados, sobretudo os de longa duração, são novos para se reformarem e velhos para trabalhar. Quando encontram trabalho, é sempre precário e pelo salário mínimo. Carlos Lopes

Insurgem-se contra o aumento do salário mínimo e dizem que já é muito elevado. 705 euros é, para esta gente que vive com milhares de milhões, um valor elevado. Nuno Almeida

Em 2021, a inflação nos produtos alimentares foi de 3,2 por cento. Ela está aí, nós sentimo-la todos os dias. Fátima Amaral

Passaram cinco anos desde que saí de casa dos meus pais. Passei por três casas diferentes, vivi em três quartos diferentes e, em breve, ver-me-ei forçada a procurar uma outra casa. Iris Damião

Os reformados que viviam com desafogo estão a desaparecer porque têm de ajudar os filhos, porque têm de ceder parte ou a casa toda para os filhos que não conseguem pagar uma renda. Olívia Matos

Uma família com quatro elementos e um rendimento líquido mensal de 1260 euros (dois salários mínimos), paga só de electricidade cerca de 50 euros. Isto se não ligar qualquer aparelho de climatização. Sara Lemos

Esclarecer de Norte a Sul

No dia 24, quinta-feira, sob o lema «sobe o custo de vida, desce o poder de compra», o PCP promoveu dezenas de contactos de Norte a Sul de Portugal. Foi uma grande jornada de esclarecimento sobre a situação social, de denúncia dos seus responsáveis e de afirmação das soluções, de carácter imediato e de fundo, que o Partido tem vindo a propor. Uma jornada em que se destacaram as acções junto de empresas e locais de trabalho – a maioria, de resto –, mas também em interfaces de transportes públicos por onde transitam milhares de trabalhadores, assim como em zonas centrais de vilas e cidades, em formato de tribunas públicas. Dessa intensa actividade que não cessa nem nas condições mais adversas, publicamos uma sucinta reportagem fotográfica.

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