As provocações dos EUA e seus aliados na NATO e a gigantesca manobra de desinformação em torno da «iminente invasão russa da Ucrânia» são elucidativas dos métodos utilizados pelo imperialismo para tentar prosseguir o velho sonho imperialista do controlo dos antigos territórios da União Soviética.
Se tais manobras de provocação e desinformação não fossem extremamente perigosas e atentatórias de vários princípios das relações internacionais, a campanha em torno do «perigo russo» seria somente ridícula e risível face à escancarada evidência de que são, há décadas, os EUA e a NATO que prosseguem uma estratégia de alargamento, expansão e colocação de bases, contingentes e armamento militares junto às fronteiras com a Rússia, e que têm rasgado e violado tratados que constituíam pedras angulares do equilíbrio geoestratégico, segurança internacional e manutenção de paz.
A chamada «crise ucraniana» tem tantos ingredientes de uma mal-amanhada inversão da realidade, que até encartados comentadores, crónicos defensores do imperialismo norte-americano e da NATO, ensaiam agora cuidadosos afastamentos da narrativa da «invasão» russa, «iminente» desde meados de Novembro do ano passado.
Mas se é verdade que os EUA e seus aliados na NATO e União Europeia começam a perder a batalha mediática, também é verdade que as provocações não terminaram. Pelo contrário, os últimos dias têm sido profícuos em sérias provocações militares, como a incursão de um submarino dos EUA em águas territoriais russas ou, mais recentemente, provocações contra navios russos em exercícios militares previamente anunciados no Mediterrâneo, isto para não falar da colocação de milhares de militares e armamento junto das fronteiras com a Rússia.
É por demais evidente que um conflito militar só interessa a duas partes: por um lado aos EUA, para justificarem a continuação da expansão da sua presença militar no leste europeu, continuarem a subordinar os estados europeus à sua estratégia de confrontação internacional e travarem o relacionamento dos Estados europeus com a Federação Russa que, por sua vez, intensifica relações económicas com a República Popular da China; por outro, ao governo fantoche de Kiev, instalado após o golpe de estado de 2014, patrocinado pelos EUA e também pela União Europeia, que, aliado aos bandos neonazis, levou a cabo uma violenta agressão contra as populações russófonas da região do Donbass, agressão essa que redundou numa sangrenta guerra civil, suspensa pelos Acordos de Minsk, entretanto violados sistematicamente pelo governo de Kiev e seus aliados fascistas, com o apoio dos EUA e o beneplácito da União Europeia.
O grande perigo que existe neste momento não é o de a Ucrânia ser invadida pela Rússia, que nada teria a ganhar com isso. O grande perigo vem de um regime ucraniano que pode levar a cabo uma autêntica carnificina no Donbass dinamitando os Acordos de Minsk; e dos EUA, uma potência imperialista mergulhada numa profunda crise interna que, face ao seu declínio relativo no plano internacional, recorre à guerra e promove o fascismo para tentar manter o seu poder, arrastando consigo, não obstante contradições emergentes, os Estados europeus que se submetam à sua estratégia. E essa é a razão pela qual Portugal não só se deve dissociar desta estratégia, como a deve condenar.