O PCP ao lado de quem trabalha no passado agora e sempre

O pavilhão da Escola Secundária Carolina Michaëlis, no Porto, encheu-se na tarde de domingo, 13, para a sessão pública do PCP Contigo todos os Dias – Salários, Pensões, Saúde, Habitação. Reafirmar o compromisso dos comunistas e do seu Partido para com os trabalhadores e o povo e recarregar forças para os combates que se avizinham foram as tónicas da intervenção de Jerónimo de Sousa.

O pé d’água que caiu na cidade durante a tarde de domingo não impediu os militantes comunistas portuenses de, como sempre, participarem em força nas iniciativas do Partido. Algo que se reflectiu na própria composição da sala – uma mancha de bandeiras vermelhas enorme que dominou a palete de cores do pavilhão – e no espírito que ali se vivenciou: no ânimo e combatividade muito próprios dos comunistas.

Esta foi uma das primeiras grandes iniciativas realizadas após as eleições legislativas de 30 de Janeiro, entre a sessão pública do Fórum Lisboa, uma semana antes, e a que no sábado terá lugar na Baixa da Banheira, no concelho da Moita. Ora, as duas já Ocorridas demonstraram que o PCP está pronto para, nas novas condições, prosseguir e intensificar o combate em busca das respostas necessárias para os problemas do País e pronto para corresponder ao seu compromisso de sempre com os trabalhadores e o povo.

Jerónimo de Sousa começou a sua intervenção pelos resultados das eleições: «O País precisa de soluções, de uma resposta global aos problemas nacionais, de uma política que assegure o desenvolvimento nacional e o futuro de Portugal», afirmou, acrescentando no entanto, a maioria absoluta obtida pelo PS deixa «essas soluções mais longe».

Para o Secretário-geral do PCP, as dificuldades, resistências e a recusa em responder aos problemas nacionais, que «já vinham em crescendo a partir de 2019, com o segundo governo do PS», acentuam-se agora em resultado de opções que favorecem, sobretudo, os grandes interesses económicos e financeiros e que se submetem aos ditames da União Europeia.

«Em devido tempo, alertámos que o PS queria provocar a não aprovação do Orçamento do Estado com o objectivo de obter uma maioria absoluta para, assim, se poder desfazer da influência da CDU e do PCP nas decisões nacionais», salientou o dirigente comunista. No entanto, o PS não era o único que queria ver a influência da CDU e do PCP afastada da esfera das decisões nacionais: também os grandes interesses económicos deram o seu contributo, tudo fazendo e tudo movendo «para que uma solução de bloco central se concretizasse», caso falhasse a maioria absoluta, e o Presidente da República, que, ao procurar uma solução idêntica, acedeu à precipitação das eleições.

«O posicionamento do PS, os argumentos eleitorais a que recorreu e o resultado obtido não deixam hoje margem para dúvidas de que, verdadeiramente, foi em função desse objectivo da maioria absoluta que o PS conduziu a discussão do Orçamento do Estado para 2022», sublinhou Jerónimo de Sousa.

Ao que vem o PCP!

«No que diz respeito à CDU, o resultado obtido nestas eleições legislativas traduz, com a eleição de seis deputados, uma significativa perda, incluindo a representação parlamentar do PEV», afirmou o Secretário-geral do Partido.

São resultados, que não excluindo uma análise mais aprofundada, sem deixar de olhar para insuficiências e deficiências próprias, estão «marcados por um conjunto de factores que os influenciaram decisivamente» e que se tornaram cada vez mais evidentes à medida que a campanha eleitoral avançou, aprofundou. Tratou-se, assim, de uma operação que favoreceu a construção de um bloco central, que assentou na estimulação de uma dinâmica bipolarizadora, que se apoiou no agigantamento do perigo da direita e foi construída com recurso às sondagens.

«Com peso significativo na influência dos resultados está ainda a insistente mentira de responsabilização do PCP e do PEV pela realização de eleições, a propósito da não aprovação do Orçamento do Estado e abusiva apropriação pelo PS dos avanços alcançados na defesa, reposição e conquista de direitos, que resultaram sempre da acção determinada das forças da CDU», considerou também o dirigente comunista.

Tal como sempre, independentemente dos resultados das eleições, o PCP é claro nos seus compromissos: com os trabalhadores e o povo, todos os dias. Pelos salários, pensões, saúde e habitação. Foi esse, aliás, o lema da sessão pública no Porto.

«Trabalhamos e agimos agora num quadro mais difícil, mas cá estamos e cá continuamos determinados em prosseguir com confiança a intervenção em defesa dos interesses e aspirações dos trabalhadores e do povo, das soluções para os problemas nacionais», afirmou Jerónimo de Sousa. Tal como já aconteceu no passado, cá está o partido da classe operária para agir, recuperar posições perdidas e dar mais força à luta pela política patriótica e de esquerda que o País precisa.

Para o PCP, este é o momento de reafirmar que o País não está condenado às desigualdades, à estagnação económica e ao retrocesso social. O País não está condenado a um modelo de baixos salários e pensões de reforma, à precariedade no trabalho e na vida, à desregulação dos horários, ao aumento da exploração, à dependência externa através da destruição da sua capacidade produtiva, à degradação dos serviços públicos e à liquidação do SNS, à dificuldade no acesso à habitação, à alienação de instrumentos e recursos indispensáveis ao desenvolvimento soberano do País que estão entregues, sobretudo, a grupos monopolistas estrangeiros.

«É preciso uma política alternativa que responda cabalmente aos problemas do povo e do País, que liberte Portugal de constrangimentos e imposições contrárias aos interesses nacionais», sublinhou o Secretário-geral.

Reforçar o Partido

«Os tempos que vivemos reclamam e exigem um PCP forte, determinado e convicto. Reclamam firmeza ideológica e uma grande disponibilidade revolucionária para assegurar com êxito as exigentes tarefas que a actual situação coloca aos comunistas», salientou Jerónimo de Sousa, para quem, é imperioso analisar, debater, traçar caminhos e ao mesmo tempo agir para dar resposta à exigente evolução da vida nacional.

«Hoje, como sempre, é no PCP que se encontrará a força de todos os dias, sempre com luta dos trabalhadores e do povo, em defesa dos seus interesses e aspirações. Os trabalhadores e o povo, podem contar connosco e com a nossa intervenção decisiva na defesa e afirmação dos seus direitos», concluiu o Secretário-geral.

Uma organização em crescimento

«A situação do País, marcada por décadas de desinvestimento na escola pública, de ataques aos direitos dos trabalhadores e da juventude, pedia respostas e soluções e não eleições», afirmou Hugo Faustino, membro da Comissão Regional do Porto do PCP e da Direcção Nacional da JCP, que foi o primeiro a intervir na sessão.

Para o jovem dirigente, os jovens «querem ter acesso aos mais elevados graus de ensino de forma gratuita, querem sair da casa dos pais, querem uma escola pública na qual seja valorizada a avaliação contínua, querem um País onde possam viver e ser felizes», no entanto, o PS escolheu não dar resposta aos anseios da juventude e procurou livrar-se do PCP para assim conseguir praticar a sua política de sempre: «a política de direita».

Já Cristiano Castro, membro da Direcção da Organização Regional do Porto do PCP, mencionou o conteúdo da discussão de todas reuniões e plenários já realizados em todas as organizações concelhias e sectoriais, que contaram com a participação de centenas de militantes.

«Desde 30 de Janeiro até hoje, chegaram à organização regional do Porto do PCP 140 pedidos de adesão ou de colaboração com o Partido», afirmou o dirigente. «Homens e mulheres que conhecem os perigos de uma maioria absoluta do PS e que conscientemente decidiram dar o passo para se organizarem neste colectivo», acrescentou.

Desigualdades e injustiças

A maioria absoluta deixa o PS com condições de levar mais longe o seu compromisso com a política de direita e manter as opções de subordinação aos grandes interesses económicos e multinacionais. Interesses esses que «criam injustiças e desigualdades em Portugal e no mundo», constatou a dada altura da sua intervenção o Secretário-geral do Partido.

«Aqui, como em todo lado, o capitalismo age sem freio na procura da maximização do lucro. Vimos isso nestes dois anos de epidemia», acrescentou. O grande capital utilizou esta situação que assolou o mundo inteiro para agravar a exploração, fomentar a concentração monopolista e assegurar o seu domínio económico e político, agravando ainda mais as desigualdades sociais e de desenvolvimento entre países. É este o caminho que o PS pretende prosseguir.

«Os mais ricos deste mundo ficaram crescentemente mais ricos, enquanto milhões de seres humanos ficavam sem emprego e sem salários, sem condições de garantir o seu sustento», reparou o dirigente comunista. Foram mais de 160 milhões, as pessoas lançadas para a pobreza, os rendimentos de 99 por cento da humanidade caíram e, em simultâneo, os dez homens mais ricos do mundo duplicaram as suas fortunas a um ritmo de 1300 milhões de dólares por dia.

«Por cá, nestes últimos dois anos, a realidade está marcada por traços idênticos. Em 2020, quando a maioria do povo enfrentava dificuldades, uma minoria de famílias portuguesas banqueteava-se com 7,4 milhões de euros de dividendos, mais 332 milhões do que em 2019», constatou. Para 2021, não há ainda Contas Nacionais fechadas, mas a realidade não é, certamente, diferente.