- Nº 2515 (2022/02/10)

Medalhas são importantes, mas falta cumprir o direito ao Desporto

Opinião

O País tem extraordinários atletas, equipas técnicas e federações que, com o seu esforço e dedicação, alcançam notáveis feitos. Particularmente notáveis tendo em conta que muitos deles não resultam de um cuidado investimento (não apenas financeiro) por parte dos sucessivos governos.

As opções políticas do PS, PSD e CDS e a visão conhecida de outros partidos, como a IL e o Chega, reclamam uma ampla convergência do sector para construir a alternativa indispensável que valorize o papel do Desporto e da Educação Física no desenvolvimento do indivíduo e da própria sociedade.

Para o PCP, a prática desportiva é um bem cultural a que todos devem ter acesso. Foi uma conquista cultural do século XX, comprovadamente benéfica para quem a pratica, desde que correctamente orientada, do ponto de vista do crescimento, da saúde, da cultura, da sociabilidade e da integração social, mas também na sua relação com outros sectores de actividade. Por tudo isto, desempenha um importante papel no desenvolvimento global da sociedade.

Temos insistido que é necessário encarar a Educação Física e o Desporto de outra forma. A visão dos sucessivos governos face à prática desportiva expõe a necessidade de uma política alternativa. Desde logo, pelo investimento que se tem feito (em média 40 por cento abaixo de outros países da Europa), desvalorizando o papel do sector. Exemplo ilustrativo prende-se com a base desse financiamento – incluindo o do Desporto Escolar – ser feito a partir das receitas dos jogos sociais, o que não só revela a ausência de uma visão e plano estratégicos, ao contrário do que o PCP propõe, como cria uma clara dependência dessas receitas.

É bom recordar que a proposta de Orçamento do Estado para 2022 (no relatório que acompanha) destinava ao Desporto 43,1 milhões de euros – valor de despesa efectiva não consolidada. Isto equivale a 0,045% do OE, com menos 6,9 milhões de euros face a 2019 (antes da epidemia), o que não corresponde às respostas necessárias para o sector, exposto aos impactos da COVID-19, como demonstram a perda de cerca de 175 mil praticantes em várias modalidades ou as quebras de receitas.

A inexistência de verbas destinadas ao Desporto nos milhões anunciados do PRR, os cortes nos apoios às federações ou os atrasos na entrega dos propalados apoios face à epidemia, são igualmente exemplos das opções do Governo PS.

A Escola e o Desporto Escolar

Além das respostas necessárias no quadro do apoio efectivo à alta competição, às federações e ao movimento associativo, destaca-se o papel e a importância do Desporto Escolar e da Educação Física, questões amplamente propagandeadas, mas não concretizadas no seu real âmbito. Para lá de se intensificar o debate sobre estas questões, impõe-se construir um caminho que coloque a Educação Física, os professores e a escola como elementos essenciais e não descartáveis ou delegáveis noutros.

A escola e o Desporto Escolar não devem ser um laboratório de procura de campeões, mas sim um espaço que garanta – e só na escola tal é possível! – a concretização do direito ao Desporto, independentemente de se ser gordo ou magro, alto ou baixo, menino ou menina, das mais ou menos favoráveis condições económicas da família.

Pensar a escola, neste âmbito, exigir que assuma o seu papel no processo educativo com as crianças e jovens no centro desse processo é, para o PCP, uma luta que reclama medidas concretas.

O 1.º Ciclo e os tempos associados à Educação Física; a necessidade de pôr fim às AEC e a criação do plano nacional de ocupação de tempos livres; a situação dos próprios docentes; a concretização da Educação Física como disciplina curricular e o seu valor pedagógico ao longo da escolaridade; que recreios temos e os que precisamos ter; que equipamentos existem e os que podem ser pensados – são, todas elas, questões que têm de estar no centro da discussão do processo educativo relativamente a esta área.

O compromisso do PCP é o de prosseguir no caminho de transformar a necessidade em proposta, contribuir com a sua acção e luta na defesa do direito ao Desporto.


Patrícia Machado