O futuro tem Partido

Novos militantes chegam ao PCP

O PCP foi a única força, determinada e firme, que nunca aceitou confinar-se quando o grande capital insuflava medos irracionais para mergulhar as massas trabalhadoras no pântano do conformismo e da desistência. Por isso se está a reforçar com novos militantes que bateram de frente com a ofensiva do grande capital para o agravamento da exploração.

As notícias da morte do PCP são manifestamente exageradas

Este é um facto que se tem constatado entre aqueles que decidiram tomar Partido e que sobressaiu na reunião que a Organização Regional do Porto promoveu, a semana passada, com a presença de Jerónimo de Sousa e camaradas que se inscreveram no PCP desde 2020, como explicou Jaime Toga, da Comissão Política, que dirigiu os trabalhos.

Do Secretário-geral do Partido foram, aliás, as primeiras palavras no encontro, no qual sublinhou o papel dos comunistas portugueses em travar o passo à insidiosa campanha que visava calar a luta, consumar limitações à liberdade e acção colectivas para, sem protesto, manifestação ou oposição, impor no silêncio e isolamento dos confinamentos a mutilação de direitos e rendimentos. Destacou, além do mais, tudo o que foi preciso fazer para assegurar, pela iniciativa e a proposta do PCP, que os trabalhadores não ficavam sem quaisquer meios de sobrevivência, sujeitos a cuidados de saúde abaixo das exigências que se colocavam ou vitimados pelo arbítrio daqueles que vivem do trabalho alheio.

«Lá estivemos em todo o lado, combatendo a resignação e concretizando a consigna “nem um direito a menos”, a dar esperança e confiança no futuro», lembrou ainda Jerónimo de Sousa, para quem «a decisão de aderir ao PCP num contexto particularmente difícil para o nosso povo e para o Partido, transporta muita coragem e vontade em servir os trabalhadores».

A entrada destes novos militantes tem o «significado adicional de terem ocorrido no momento singular e simbólico em que o PCP cumpre 100 anos», considerou igualmente o dirigente comunista. Neste sentido, insistiu que «o Partido permanece jovem e renova-se justamente porque nunca abandona o terreno da luta de classes, da conquista da sociedade nova e em defesa dos interesses populares; porque está sempre aberto ao contributo das novas gerações na busca incessante de respostas para novos desafios que suscitam criativas soluções».

Porque, prosseguiu, «é um Partido coerente, que não cede a pressões e chantagens, cujos militantes deram e dão provas sem paralelo de abnegação, recusando e combatendo favores e benefícios», que «organiza e dá a oportunidade de juntar a opinião individual à discussão colectiva e a transforma numa poderosa alavanca da intervenção e transformação».

Na linha da frente
cresce a consciência

Passada a palavra aos novos militantes do PCP, muito do que foi referido por Jerónimo de Sousa esteve presente na experiência e motivos que os trouxeram ao grande colectivo comunista.

Sérgio é metalúrgico. Desde 2018 que é dirigente sindical e foi essa intervenção que o levou a confirmar que ainda não tinha visto tudo no que toca a injustiças, discriminações e exploração. Ao que conhecia da empresa onde labora desde 2012 e já o motivava a lutar, acrescentou semelhantes situações em empresas do mesmo sector e de outros com as quais se foi confrontando por intervir no movimento sindical unitário. «Não podia defender os trabalhadores no meu local de trabalho e ignorar que a mesma exploração sucede noutras empresas e na sociedade», testemunhou. E nesse salto de consciência, Sérgio questionou-se sobre quem sempre viu à porta das empresas, mesmo nos piores momentos, como o período do surto epidemiológico, e a levar os interesses dos trabalhadores para a rua ou para as instituições. Concluiu que tinha de aderir ao PCP.

De confronto com a sobre-exploração do trabalho e com a necessidade de juntar forças aos da sua classe, deixando para trás o cada um por si, se fez também o relato de Rui. Este músico profissional encontra-se contratado ao abrigo de um protocolo com o IEFP e, mesmo assim, este é o emprego menos precário que já teve. A ausência de horários e de protecção social e os rendimentos magros e incertos não eram novidade. Nunca se conformou com isso, mas foi quando realizou que sindicalizado e com a intervenção do sindicato garantiu um pagamento que já considerava perdido, que «imortalizou a ideia de que juntos somos mais fortes e conseguimos enfrentar o patronato». Daí ao PCP foi o espaço do maior envolvimento na luta.

Envolvimento progressivo na luta que trouxe igualmente Rita ao Partido. Trabalhadora em arquitectura, oriunda de uma família de trabalhadores mas sem contacto com a JCP na escola ou amigos com interesse em política, foi já na faculdade que conheceu uma militante do PCP. A entrada no mercado de trabalho e a integração no Movimento dos Trabalhadores em Arquitectura marcaram a viragem. A exploração do trabalho ia muito além do que supunha, a pandemia agravaou todos os problemas e o envolvimento no MTA intensificou-se, fazendo-lhe cada vez mais sentido o trabalho colectivo e observando quem apoiava sem hesitações os trabalhadores e as suas estruturas.

A Rita tocou igualmente fundo a determinação do Partido e da CGTP-IN em não desertarem da luta quando os trabalhadores mais precisavam. «Seis dias depois do 1.º de Maio [de 2020] estava a assinar a ficha de militante».

Nas autárquicas encabeçou a lista da CDU a uma freguesia do Porto e «isso mostra outra diferença do nosso Partido, que confia numa jovem militante e cria as condições para que alguém sem qualquer experiência autárquica assuma o desafio, integrada num colectivo que conhece os problemas e anseios populares e apresenta soluções».

«Eu já estou ao serviço do Partido,
ando aqui a enganar quem?»

No MTA formou-se também João, que, bem disposto, contou que conheceu o primeiro comunista há dois anos. A intervenção esclarecida dos comunistas na estrutura unitária, a sua entrega abnegada e firmeza perante os obstáculos, acrescidos na pandemia, mostraram a diferença de ser do PCP. Certo dia, «dei por mim a apoiar a luta doutros trabalhadores nos seus locais de trabalho, em concentrações nas empresas, e pensei: eu já estou ao serviço do Partido, ando aqui a enganar quem?».

Quem também nunca se enganou foi Rui, forçado a emigrar como tantos jovens empurrados pelo então governo PSD/CDS. Quatro anos volvidos, regressa a Portugal e começa a trabalhar num centro de contacto, onde sente menos valorização pelo seu trabalho, direitos e saúde do que quando trabalhava no estrangeiro. Votante do PCP desde sempre e filho de um activista sindical, decide dar o passo para a militância porque se já esclarecia e mobilizava para a acção os colegas de trabalho, mais valia fazê-lo organizado.

A necessidade de estar organizada na intervenção levou no mesmo sentido de classe Sabrina, trabalhadora-estudante desde os 16 anos, cujo primeiro emprego a obrigava a trabalhar sete dias por semana, cinco horas por dia, por um euro à hora. Durante uma discussão sobre participação política e social numa aula da faculdade, à pergunta de uma professora sobre o que estava a fazer para concretizar a intervenção que dizia ser necessária, respondeu aceitando um convite recente para aderir ao PCP. Já Diana trabalha como enfermeira veterinária e cansou-se de pouco mais fazer do que constatar a precariedade no sector e a exaustão dos colegas decidindo-se a militar no Partido para combater a situação.

Combativa, Priscila, emigrante brasileira há seis anos em Portugal, fez um percurso de luta até aderir ao PCP. Sofreu e sofre na pele a discriminação que atinge tantos trabalhadores a quem são negados documentos. Não se deixou amedrontar. Dos movimentos em defesa da democracia no Brasil passou para a defesa dos direitos dos migrantes, sobre-sujeitos à precariedade. Conheceu camaradas, foi tratada como semelhante, incluindo na Festa, onde a camaradagem, a fraternidade e a solidariedade internacionalista não são palavras vãs. Militante do PCP, orgulha-se por o seu Partido ter «a compreensão e a prática de que a política não se faz apenas em função dos votos».

Assumir, agora

No PCP não há militantes mais ou menos importantes, seja à luz de que critério for. Há e sempre houve camaradas com mais e com menos responsabilidades, tarefas mais ou menos complexas. No distrito do Porto, vários novos militantes integraram as listas nas últimas autárquicas. Da Rita já aqui se falou, mas Carlos é outro caso.

Criado no seio do que chama de «comunidade de comunistas de Freamunde», onde o pai teve intervenção autárquica prolongada, este licenciado em Ciências do Desporto a exercer como professor, sente que a sua condição não mudou significativamente desde que trabalhou em ginásios e «não ganhava para a gasolina».

«Sempre votei no Partido, mas agora que decidi aderir sinto que já o devia ter feito há anos», disse, aludindo à forma como colectivamente se desenvolve o trabalho e as razões justas da intervenção quotidiana do PCP.

Sílvia também esteve sempre com o PCP - no voto e na luta. A estagnação salarial e a degradação das condições de trabalho que enfrenta (trabalha com resíduos, alguns tóxicos) revoltaram-na e fizeram perceber que não podia só estar com, era urgente ser do colectivo que, depois de encabeçar uma lista da CDU à freguesia onde reside, qualifica como «espectacular», na medida em que garante que nada falta para fazer um bom trabalho ao serviço da população.

Violeta cresceu entre camaradas, dos avós aos pais aos amigos. Desde pequena conhece as lutas, o quotidiano das reuniões e das tarefas e os grandes momentos da vida do PCP. Orgulha-se disso com razão, pois daí retirou uma sólida formação política e uma vontade de continuar uma vivência recheada de alegria, esperança e valores humanos elevados, de intervir para transformar a sociedade.

O mesmo propósito anima Yuri, bielorrusso a viver e a trabalhar em Portugal há três anos, nascido e criado entre comunistas e na então URSS, para quem não há obstáculos que os destemidos comunistas não sejam capazes de superar, sempre e quando o seu fito for a emancipação social do proletariado, ou, até lá, substituir um «governo para quem o povo trabalha por um que trabalhe para o povo».

Mudar a vida

Contribuir para mudar a vida, dos que lhe são próximos, no caso, levou Pedro, pequeno empresário, a inscrever-se no PCP. «Tenho uma vida confortável, mas não podia ignorar o que vivem familiares e amigos».

Quem também não ignorou o que lhe foi feito durante anos foi a professora Maria Manuel. Votante no PS e com raízes familiares ali, um dia não foi capaz de continuar a confiar-lhes o seu voto. Votou na CDU, mudou a agulha e com o envolvimento, primeiro na vida sindical e depois integrando a organização partidária, confirmou tudo o que sempre soube acerca do PCP, mas que nunca tinha relacionado com a vida que tem de ser mudada nos grandes como nos pequenos gestos.

Na esperança de uma vida melhor, Faustino e Francisco empenham-se nos estudos. O segundo viu toda a vida «o mês ser demasiado longo para o salário» e valoriza o esforço dos pais para que conclua a sua formação académica e explore os seus interesses, tantas vezes a «retirar ao prato [deles]» para que tal seja possível. As propostas do PCP para que a educação e a cultura sejam democratizadas e acessíveis aos filhos dos trabalhadores conjugaram com a sua experiência material familiar e hoje sente uma imensa alegria em contribuir para a luta. Já o primeiro entra num colégio privado de matriz reaccionária já como militante da JCP e, paulatinamente, empenha-se na concretização do maior anseio dos estudantes: a criação de uma associação. O que à partida parecia impossível ganha corpo, com persistência e unidade, combatendo o preconceito acerca dos comunistas, confirmando, afinal, que «é com este trabalho de formiguinha que reforçamos o Partido e a luta».

Passar à acção, sem pressa mas sem pausas, é a história de Miguel, desenhador gráfico, que das discussões e intervenção política que mantinha, intensas mas não organizadas, retirou, a dada altura, que estava a alimentar o que pretendia combater: o individualismo e o isolamento. Adere ao PCP com a sua companheira no dia em que o Partido fez 100 anos. Organização política capaz de intervir de forma constante e coerente só o PCP, cujas notícias da morte, tantas vezes difundidas, «são manifestamente exageradas», como se vê, realçou Miguel, glosando Mark Twain.