Reforço eleitoral da CDU é condição para avançar

A CDU foi formalmente apresentada e daqui a até 30 de Janeiro importa ampliar o esclarecimento sobre o que está em causa nas legislativas antecipadas, que o PS forçou.

A direita não se combate com quem lhe estende a mão

Estas foram duas das ideias fortes sublinhadas no acto público de apresentação da coligação que junta o Partido Comunista Português, o Partido Ecologista «Os Verdes», a Associação Intervenção Democrática e muitas pessoas sem filiação partidária, o qual decorreu ao final da tarde do dia 2 de Dezembro numa unidade hoteleira em Lisboa.

De resto, intervindo no encerramento da sessão, Jerónimo de Sousa foi esclarecedor ao considerar que «o que se vai decidir é ou dar resposta aos problemas ou mantê-los adiados e agravados». Ou, dito de outro modo, a escolha reside em «abrir perspectivas de uma política que coloque no centro dos seus objectivos os interesses dos trabalhadores e do povo, dando mais força à CDU e elegendo mais deputados do PCP e do PEV, ou dar apoio a quem, de maneiras diversas, está disposto a prosseguir a política de direita, a negar as respostas necessárias em nome da submissão à União Europeia (UE) e aos interesses do grande capital».

«Essas opções e compromissos» para com a UE e os monopólios, acrescentou o Secretário-geral do Partido, moldam a política de direita que há décadas PS e PSD prosseguem»,marcam«negativamente as condições de vida dos trabalhadores e do povo e impedem o desenvolvimento nacional».

Pelo contrário, «se há elemento que fica claro da nossa intervenção de sempre, comprovada nestes últimos anos, é que não há caminho para defender e avançar em direitos sem a CDU», disse ainda, pelo que, insistiu, «a solução para os problemas nacionais encontra na proposta e na política da CDU e no reforço da sua influência a primeira e mais decisiva condição».

Soluções

Jerónimo de Sousa não se esquivou a detalhar algumas das soluções que reclamam concretização com a maior urgência. E por isso referiu «o aumento geral dos salários e do Salário Mínimo Nacional», a «garantia de que os direitos dos trabalhadores não continuem a ser triturados numa legislação laboral inclinada a favor do grande patronato», a defesa do SNS «de um caminho que levará à sua destruição se nada se fizer para fixar profissionais, valorizar os seus salários e carreiras, aumentar o investimento que garanta a todos acesso à consulta, ao exame, à cirurgia, ao médico e enfermeiro de família».

«Soluções para assegurar o aumento das pensões de reforma sem deixar reformados para trás a perder poder de compra, para assegurar o fim das penalizações e garantir a reforma por inteiro com 40 anos de descontos»; para «garantir o direito à habitação, acabando com esta incerteza em que vivem milhares de pessoas de nunca saberem se estão sujeitos a ver o seu contrato de arrendamento terminar ou ser-lhes imposto um valor de renda incomportável que os deixa sem tecto»; para «garantir estabilidade na vida e no trabalho, horários regulados e apoios que permitam uma decisão livre de ter filhos», ou para «assegurar o aumento da produção, a criação de emprego e o apoio à actividade das pequenas e médias empresas», precisou o dirigente comunista, antes de alertar para cantos de sereia que habitualmente se ouvem quando chega a hora do povo votar, mas que esbarram na prática de quem os entoa.

Atenção

«Hoje todos falam do que nunca falariam se o PCP e a CDU não os tivessem posto a falar», começou por dizer Jerónimo de Sousa. «Já todos falam de aumentar salários, mas na hora da verdade, quando o PCP propôs esse aumento, o PS, o PSD, o CDS e os sucedâneos votam contra».

Semelhante conduta adoptaram quanto ao SNS, com o PS a arrastar soluções e a«comprometer o futuro» daquele serviço público, e PSD, CDS e seus sucedâneos a procurar «destruí-lo para melhor florescer o negócio dos grupos privados da saúde». O mesmo acontecendo quanto às creches gratuitas, «proposta do PCP, conquista da nossa intervenção que não constava do programa do PS, e que PSD ou CDS nem ousavam verbalizar», ou em relação ao aumento das reformas, só alcançado «porque o PCP não permitiu que elas não tivessem aumento extraordinário como o PS queria ou fossem sujeitas a cortes como o PSD e CDS fizeram no passado».

Pelo que, salientou o Secretário-geral do PCP, «não é nas opções do PS nem nos projectos reaccionários de PSD, CDS e seus sucedâneos que se encontra a solução para os problemas dos trabalhadores e do povo».

A verdade é como o azeite

Aliás, Jerónimo de Sousa aproveitou a ocasião para recordar que «o PS atirou o País para eleições porque recusou soluções». A razão, explicou, é que «o PS quer fazer de mãos livres o que sempre fez, quer manter o País preso aos interesses da UE e não ter de se confrontar com a acção do PCP e da CDU para adoptar avanços que só adoptou porque foi obrigado».

«Ambiciona a maioria absoluta mas já pensa em como estender a mão ao PSD para dar andamento à política de direita», acusou. Tanto mais que «é ver os mimos recíprocos entre PS e PSD, as juras de respeito mútuo pelos resultados, a disponibilidade anunciada para manter a política de direita sem sobressaltos, na paz dos deuses», tudo «sob o aplauso e alívio do grande patronato».

Assim, resulta evidente que «quanto mais força o PS tiver, mais insistirá na política de direita. Sozinho ou mal acompanhado». E «não vale a pena andar por aí a agigantar o medo da direita quando se está a pensar em arranjos com ela», já que, salientou o Secretário-geral do Partido, «a direita não se combate com quem lhe estende a mão».

A direita, concluiu, «combate-se dando mais força e mais deputados à CDU», força que representa «a garantia mais sólida para esse combate à direita, seja com que roupagem vestir, para a derrotar, como a derrotou em 2015 quando o PS já se rendia, para garantir uma política verdadeiramente de esquerda, uma política alternativa, que tenha como compromisso principal a defesa dos interesses dos trabalhadores e do povo».

 

Nem regresso ao passado nem bloco central ou poder absoluto

No acto de apresentação da CDU, intervieram, antes de Jerónimo de Sousa, Deolinda Machado, João Geraldes e Mariana Silva. Deolinda Machado, da Coordenadora Nacional da CDU, começou por frisar que concebendo «a política como a arte nobre do exercício da cidadania», é com os «princípios e valores» do «colectivo da CDU» que se identifica, com o seu «projecto de serviço à comunidade e ao País».

«Não podemos aceitar que, apesar de trabalharem, muitas famílias continuem a viver em situação de pobreza. Pelo que «urge efectivar uma política integrada onde o emprego de qualidade, os salários, a educação, a saúde, a habitação, a justiça, a protecção social, contribuam para a inclusão, para a erradicação da pobreza, desde logo com salários que confiram uma vida digna a todos», defendeu Deolinda Machado, que alertou: «a população deste País precisa de motivação política que responda aos problemas e não de táctica articulada para o bloco central de interesses».

«Portugal não precisa de poderes absolutos», pelo que «há que esclarecer, envolver, mobilizar, multiplicando contactos para que a mensagem da CDU chegue a todos, de forma clara», chamou ainda à atenção.

João Geraldes, que usou da palavra em nome da Intervenção Democrática, reiterou, por seu lado, que «vamos disputar umas eleições que não procurámos» e «menos ainda desejámos». Contudo, «estamos aí, para ir à luta» por «um resultado que quanto mais amplo e expressivo em número de votos e de mandatos for, melhor servirá os anseios e interesses legítimos dos trabalhadores e do povo».

Para João Geraldes, os trabalhadores e o povo acalentam «legítimas expectativas» de melhoria das suas condições de vida «após um período de seis anos durante o qual foram alcançados importantes avanços, ainda que insuficientes e limitados face às necessidades reais do País e do povo, mas que não podemos deixar de valorizar».

O dirigente da ID valorizou algumas conquistas, e lembrando que tendo sido, «no momento da votação das centenas de propostas apresentadas pelos partidos da CDU [na Assembleia da República]», a frase mais ouvida «votos contra: PS. PSD, CDS, CH e IL», questionou: «o que esperar, então, de um PS com as mãos completamente livres num quadro político de “maioria reforçada”?».

Também Mariana Silva, que interveio em nome do PEV, responsabilizou o PS e António Costa pelas eleições, desnudando-lhes «o desejo enorme de alcançar uma maioria absoluta e ficar livre para praticar a política mais à direita, com a qual se identifica e que nos últimos seis anos foi obrigado a contrariar».

O Presidente da República não escapou às críticas e Marina Silva acusou-o de «chantagear os partidos, tentando que votassem num Orçamento do Estado que não respondia às necessidades do País». Mas as palavras mais fortes foram para o PS e o primeiro-ministro, tendo a dirigente ecologista notado que, dos cinco eixos e 15 propostas que o PEV apresentou ao executivo, este aceitou apenas uma.

E «poderíamos continuar a demonstrar o real desinteresse do PS em aceitar qualquer medida, para se vitimizar junto dos cidadãos, vendo a possibilidade de eleições antecipadas», continuou Mariana Silva, para quem «o voto na CDU tem, efectivamente, um triplo resultado político: fechar a porta à direita, travar a maioria absoluta do PS e garantir para Portugal propostas e soluções ambiental e socialmente justas».