A União de Resistentes Antifascistas Portugueses (URAP) assinalou, sábado, 30 de Outubro, na Fortaleza de Peniche, o 5.º aniversário da luta pela criação do Museu Nacional Resistência e Liberdade (MNRL).
Apesar das condições atmosféricas adversas, este encontro-convívio – entre resistentes antifascistas, seus familiares e amigos – contou com a participação de centenas de activistas e amigos da URAP, vindos de Braga, Porto, Aveiro, Lisboa, Alenquer, Santa Iria de Azoia, Bobadela, Amadora, Queluz, Cacém, Mem Martins, Almada, Seixal, Évora, Montemor-o-Novo, Barreiro, Moita, Baixa da Banheira, Marinha Grande, Vila Franca de Xira e Peniche. A estes juntaram-se ainda muitos visitantes do MNRL.
O momento contoucom a poesia e animação musical dos «Amigos de Abril», que interpretaram conhecidas canções da resistência.
Conquista de Abril
Depois de saudar todos os presente naquela iniciativa, João Neves, do Conselho Nacional da URAP e coordenador do núcleo de Peniche, lembrou a solidariedade demonstrada pela população daquele concelho aos presos políticos e aos seus familiares durante a ditadura fascista.
Mário Araújo, também do Conselho Nacional da URAP, falando na qualidade de ex-preso político, lembrou a importância da grande mobilização de há cinco anos, que «levou a que fosse interrompida a decisão da entrega deste histórico local a privados para fins hoteleiros e, finalmente, em resultado do protesto e da luta, aqui se erguesse o MNRL».
«Embora ainda decorram obras e se prolongue por mais tempo a instalação final do Museu, os passos entretanto dados são já uma importante vitória da democracia, uma conquista que queremos juntar a tantas outras alcançadas com a Revolução de 25 de Abril de 1974», valorizou frisando: «Este é já um grande espaço de memória para dar a conhecer a todos, e, em particular, às novas gerações, a história do que foi a ditadura fascista em Portugal e, por outro lado, a luta e a resistência do povo português contra a opressão e pela liberdade».
De seguida, o dirigente da URAP desejou «as maiores felicidades» à recém nomeada directora do MNRL, Aida Rechena, e manifestou, a cada um dos restantes elementos da equipa, «que sabemos serem poucos para o muito que há a fazer, a nossa gratidão pela forma empenhada e simpática com que asseguram, no dia a dia, a recepção dos visitantes (100 mil só nos primeiros cinco meses após a sua abertura em Abril de 2019; 16 mil em Agosto de 2021) e o funcionamento do Museu».
MNRL em 2024
«Esperamos que todos os entraves sejam removidos, que os planos e os trabalhos para a instalação final do Museu se desenvolvam e que, pelo menos em 2024, no 50.º aniversário do 25 de Abril, data única e inconfundível da nossa história, possamos ter um outro grande dia de festa nesta cidade, o dia da inauguração final do MNRL na Fortaleza de Peniche, objectivo para o qual, desde a primeira hora, a URAP tem colaborado numa parceria que nos honra», salientou Mário Araújo.
Quase a terminar, alertou para o crescimento do populismo e do neofascismo em todo o mundo, bem como para o reaparecimento de «grupos nazis com as suas práticas racistas e xenófobas, arrogantes e agressivas, procurando mesmo disputar espaços em órgãos institucionais». «Estes são fenómenos que devem merecer dos democratas e antifascistas um exemplar combate, com esclarecimento e a continuação da mobilização contra as injustiças, a precariedade e a resolução dos problemas dos povos», apelou.
A encerrar a sessão, Aida Rechena manifestou o seu empenho no prosseguimento dos trabalhos que possibilitem a conclusão da instalação do Museu e destacou a importância determinante da luta e empenho de todos os democratas e resistentes antifascistas para que ele seja uma realidade.
«Elas estiveram nas prisões do fascismo»
Marília Villaverde Cabral apresentou a segunda edição do livro «Elas estiveram nas prisões do fascismo». A vice-presidente da Mesa da Assembleia-Geral da URAP fez uma resenha do conteúdo do livro, dedicado a «todas as mulheres portuguesas que, em tempos de medo, silêncio e opressão, contribuíram com palavras e actos de resistência para a construção do caminho solidário para a liberdade e a democracia».
«Este livro trata, não só do enquadramento político, social, ideológico e cultural da ditadura fascista, mas igualmente da participação de mulheres em numerosas lutas no plano social, nos combates no plano político de formas semi-legais ou na clandestinidade, numa sociedade dominada por valores conservadores e patriarcais», informou, explicando que aquele trabalho da URAP «não tem pretensões de ser um livro histórico», mas sim «um contributo para que não se esqueça o papel das mulheres na luta contra o fascismo».
«Para que não se esqueça as torturas, o sofrimento, mas, sobretudo, a grande coragem! A coragem da resistência nas mãos da polícia, mas também a coragem de muitas mães, de muitas companheiras dos presos, que, sem eles, tiveram de cuidar sozinhas dos seus filhos, de exigirem as visitas que lhes cortavam, de esconder as lágrimas para que o inimigo as não visse», reforçou Marília Villaverde Cabral.