- Nº 2499 (2021/10/21)

Lutar e exigir o pleno cumprimento dos direitos das pessoas com deficiência

Nacional

A Confederação Nacional dos Organismos de Deficientes (CNOD) realizou no sábado, 16 de Outubro, em Braga, o seu 27.º Encontro Nacional de Pessoas com Deficiência, sob o lema «Urgente: Inclusão Plena». Exigir uma revisão dos critérios de atribuição da Prestação Social de Inclusão e a revisão da idade da reforma das pessoas com deficiência são reivindicações para 2022.

No Complexo Desportivo dos Serviços de Acção Social da Universidade do Minho estiveram cerca de 280 participantes, estando representadas associações de pessoas com deficiência de todo o País, nomeadamente a Associação Nacional de Deficientes Sinistrados do Trabalho, a Associação Portuguesa dos Limitados da Voz, a Associação dos Diabéticos da Zona Centro, a Associação da Spina Bifida, a Associação Portuguesa de Deficientes (APD), a Associação de Surdos do Porto, a Associação Novais Soares, a Federação Portuguesa das Associações de Pessoas com Diabetes, a Associação dos Cegos e Amblíopes de Portugal, a Associação «O Salto», a Associação Todos com a Esclerose Múltipla, a Associação Nacional de Esclerose Múltipla e a Associação de Apoio aos Deficientes Visuais do Distrito de Braga.

A luta continua!
Na abertura dos trabalhos – com a presença de Carla Sepúlveda, da Câmara de Braga – José Cabaços dos Reis, presidente da Confederação, valorizou o facto de a CNOD nunca ter interrompido o seu trabalho, que passa por «lutar e exigir o pleno cumprimento dos direitos das pessoas com deficiência», tendo realizado em 2020 o seu 26.º Encontro Nacional, na Figueira da Foz, sob o lema «Nem um passo atrás nos direitos das pessoas com deficiência».

«Numa população já fragilizada pelas condições de isolamento físico e social, uma situação repetida de confinamento vem agravar ainda mais as precárias condições das pessoas com deficiência», reforçou, dando como exemplo as dificuldades de acessibilidade no trabalho à distância; a falta de adaptação da escola em casa aos alunos com deficiência; o cancelamento e adiamento de consultas e terapias. Criticou, ainda, a suspensão e os atrasos «insustentáveis» das juntas médicas, «com as consequências directas no rendimento das pessoas com deficiência, pela demora que acarreta na atribuição das necessárias prestações sociais», e a «dificuldade comunicacional provocada pelo uso de máscara, aumentando assim o sentimento já existente de solidão e isolamento das pessoas com deficiência da sociedade».

Na parte da manhã foi ainda transmitido um vídeo com uma mensagem da secretária de Estado para a Inclusão das Pessoas com Deficiência, Ana Sofia Antunes, e lida uma saudação enviada pelo presidente do Conselho Directivo do Instituto Nacional para a Reabilitação, Humberto Santos. Durante os trabalhos houve também tempo para a Cultura, com a actuação de Minda e seus amigos e Grupo de Cavaquinhos da APD de Braga.

Como convidados, estiveram presentes representantes de diversos grupos parlamentares, incluindo o do PCP, bem como do MDM, da ASPP/PSP, do SNP, da CGTP-IN e da Fenprof. Além da deputada comunista Diana Ferreira, o Partido fez-se representar por Silvestrina Silva, da Direcção da Organização Regional do Porto.

«Podem contar com o PCP, com a nossa solidariedade, mas também com a nossa intervenção e propostas para que se cumpra o que aqui hoje reivindicam e para que se construa um futuro de inclusão plena das pessoas com deficiência», assegurou Diana Ferreira, que, entre outras matérias, abordou a questão do direito ao emprego e ao emprego com direitos; da necessidade do reforço da protecção social e da eliminação de «barreiras» – arquitectónicas, de mobilidade, de acesso à informação e à comunicação; da urgência da implementação, em todo o País, do Estatuto do Cuidador Informal.

Desporto adaptado
Outro dos temas em debate foi o «Desporto Adaptado», um direito que a Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência consagra, mas que está longe de ser exercido. «As desigualdades e dificuldades» começam no «Ensino Básico e vão continuando no Ensino Secundário e Superior», constatou Bruno Lopes, da Direcção Nacional da APD, dando conta que a «disciplina de educação física não contempla o ensino de “desporto adaptado”, caso a criança ou jovem tenham alguma necessidade educativa especial ou deficiência».

Na sua intervenção, considerou ainda «completamente errado» que o desporto adaptado seja financiado por verbas da Santa Casa da Misericórdia, e, por ser uma responsabilidade do Governo e do Instituto Português do Desporto e Juventude, reclamou que o financiamento seja «contemplado e orçamentado em sede de Orçamento do Estado (OE)».

Sobre a «esperança e ilusão» de que «os dinheiros do Plano de Recuperação e Resiliência (PRR) resolvam todos os nossos problemas», Bruno Lopes informou que na «bazuca europeia» para Portugal não existe «qualquer verba destinada para o desenvolvimento desportivo dos nossos clubes, associações e atletas». «Os atletas com deficiência têm sido esquecidos e isso vê-se pelos resultados recentes nos Jogos Paralímpicos Toquio 2020», acusou.

 

Reivindicações de longa data

Como destacou José Cabaços dos Reis, mesmo durante o período da pandemia a CNOD «não baixou os braços» e «prosseguiu com as suas reivindicações, algumas já de longa data e outras já provocadas pela situação em que nos encontramos».

Em Abril deste ano, a CNOD tomou posse no Mecanismo Nacional de Monitorização da Implementação da Convenção sobre os Direitos das Pessoas com Deficiência, que está a desenvolver o seu trabalho com o apoio da Assembleia da República, tendo a missão de promover e monitorizar a implementação da referida Convenção, visando defender os direitos fundamentais das pessoas com deficiência.

Neste ano, foi ainda aprovada e publicada a Estratégia Nacional para a Inclusão das Pessoas com Deficiência 2021-2025, exigência antiga das organizações das pessoas com deficiência.

Reforma antecipada
Entretanto, encontra-se em estudo a implementação da reforma antecipada das pessoas com deficiência. «O estudo existente, apresentado pelo Governo, apenas indica os impactos financeiros da medida no Orçamento do Estado e na sustentabilidade na Segurança Social, não se debruçando na premência desta medida na vida das pessoas com deficiência», revelou o presidente da CNOD, criticando a forma como os «sucessivos governos têm visto as medidas sobre a deficiência», ou seja, «apenas por um prisma exclusivamente economicista e financeiro, não tendo em conta que atrás dos números se escondem as necessidades de pessoas reais com problemas que urge resolver».

No caso das reformas, a Confederação defende que a aplicação de uma reforma antecipada não pode ser efectuada com uma solução única, uma vez que cada deficiência tem características diferentes, e cada posto de trabalho tem exigências específicas. Neste sentido, a legislação deverá ser aplicada tendo em atenção uma leitura combinada destes factores.

Lei das acessibilidades
José Cabaços dos Reis pronunciou-se, igualmente, sobre a lei das acessibilidades, sucessivamente adiada. «Ao abrigo do Plano de Recuperação e Resiliência foi lançado este ano pelo Governo um programa para financiar as necessárias adaptações, informou o dirigente, anunciado que a CNOD está a «acompanhar este programa para verificar se é realmente um avanço efectivo na resolução dos problemas ou se serão apenas criadas mais comissões e grupos de trabalho que na prática não se traduzem em reais melhorias para as pessoas com deficiência».

A revisão da Tabela de Incapacidades, já há muito exigida por todo o movimento associativo da deficiência, a transferência de competências do Governo para as autarquias locais e a garantia do acesso para todos à Cultura e ao Desportoestão, de igual forma, no centro das preocupações da Confederação.

 

Prestação Social de Inclusão

No Encontro Nacional da CNOD foi aprovada por unanimidade uma moção sobre a Prestação Social de Inclusão (PSI). No documento – dirigido à secretária de Estado da Inclusão de Pessoas com Deficiência e à ministra da Segurança Social – alerta-se para o «valor demasiado baixo» deste apoio.

«Um dos propósitos da PSI era a possibilidade de acumular os rendimentos do trabalho com esta prestação que, no fundo, era um apoio específico para a deficiência, levando em conta que as pessoas com deficiência têm gastos inerentes a essa condição que as pessoas sem deficiência não têm», recorda a Confederação, defendendo que «as pessoas com deficiência deveriam receber esta prestação na íntegra» e não estar sujeitas «a um limiar de acumulação da prestação com um rendimento de trabalho».

Contundo, o artigo 20.º do DL 126-A/2017 estabelece a existência deste limite e sujeita-o a revisão periódica através de portarias. «Se a pessoa com deficiência auferir o salário mínimo nacional (SMN) perde o direito à PSI», critica a CNOD, que, além da necessidade de acompanhar o SMN, reclama que a prestação deveria ter a periodicidade de 14 meses, tal como os rendimentos calculados.

«As pessoas com deficiência continuam a ser objecto de políticas sociais maioritariamente assistencialistas, que em nada melhoram a sua protecção», salienta a Confederação.

 

Linhas de acção para 2022

# Continuar a luta pelos direitos das pessoas com deficiência;
# Exigir a aplicação efectiva da Estratégia Nacional para a Inclusão das Pessoas com Deficiência;
# Exigir mais e melhor formação profissional para pessoas com deficiência;
# Exigir um maior acompanhamento do emprego das pessoas com deficiência para a sua real efectivação;
# Exigir uma revisão dos critérios de atribuição da Prestação Social de Inclusão (PSI), nomeadamente em relação ao limite de acumulação com rendimentos do trabalho e ao limite dos 55 anos, e a simplificação dos aspectos burocráticos;
# Exigir o cumprimento da lei das acessibilidades;
# Exigir a revisão da idade da reforma das pessoas com deficiência;
# Promover efectivamente a autonomização e a vida independente das pessoas com deficiência;
# Exigir mais e melhores condições para a realização das terapias prescritas;
# Promover a acessibilidade à comunicações e informação.