«Lágrimas de crocodilo» de António Costa não apagam concordância com a GALP
«Bem pode o primeiro-ministro vir carpir mágoas sobre os trabalhadores e acusar a GALP de falta de consciência social», que a verdade é que o despedimento colectivo encontrou «passividade e cooperação do Governo», realçou Jerónimo de Sousa.
Mais do que palavras, ao primeiro-ministro exige-se acção
O Secretário-geral do PCP reagiu, assim, aos lamentos tardios e a soarem a falso de António Costa acerca da destruição de centenas de postos de trabalho na refinaria de Matosinhos, que a petrolífera decidiu encerrar.
As palavras do chefe do Governo foram proferidas numa acção de campanha para as eleições autárquicas naquele concelho e Jerónimo de Sousa, numa intervenção em Odemira, segunda-feira, não lhe poupou críticas, considerando que o despedimento colectivo na GALP, «bem como de outros grupos monopolistas, sem qualquer justificação económica, encontram na passividade e cooperação do Governo o estímulo para isso».
O dirigente comunista recordou, a propósito, que «ainda em Julho passado, o PS recusou o nosso projecto para travar os despedimentos coletivos, assim como nunca acompanhaou as várias iniciativas do PCP para impedir o enceramento da refinaria e defender os postos de trabalho».
E podia e devia tê-lo feito, já que, esclareceu Jerónimo de Sousa, «sendo o Estado o segundo maior accionista da empresa [com 7 por cento do capital social, através da Parpública], não se estranha a revolta dos trabalhadores perante as declarações primeiro-ministro, que não passam “lágrima de crocodilo”».
«Mais do que palavras, ao primeiro-ministro exige-se acção», concluiu.
Revolta
Quem também reagiu aos lamentos de António Costa e à sua promessa dar à GALP uma «lição exemplar», foram o SITE Norte e a Fiequimetal. Sindicato e federação sindical consideram mesmo que «as declarações cínicas e fingidas de António Costa, na campanha eleitoral, sobre o encerramento da refinaria da Petrogal em Matosinhos, merecem “cartão vermelho” nas urnas».
Para o SITE Norte e a Fiequimetal, o líder do Governo «recorreu a uma encenação absolutamente vergonhosa, ao fazer passar-se por defensor de cerca de 6000 trabalhadores, vítimas de um crime económico que tem como principais protagonistas o primeiro-ministro, o seu ministro do Ambiente, Matos Fernandes, e o seu secretário de Estado da Energia, João Galamba».
Mais, afirma-se ainda em publicação divulgada no site da Internet da Fiequimetal, «o primeiro-ministro e o seu Governo estiveram em total sintonia com a administração da GALP e a família Amorim, no percurso traçado para encerrar uma unidade industrial de referência e estratégica para a economia nacional».
Neste contexto, «as declarações [de António Costa] demonstram ausência de ética na acção política e são um bom exemplo da demagogia que marca o comportamento do primeiro-ministro».
«António Costa veio fazer de conta que é forte com os poderosos, acusando a GALP de ter revelado insensibilidade e falta de responsabilidade social. Mas a verdade é que planeou com esses poderosos o encerramento da refinaria e ajudou-os a concretizar este objectivo», acrescenta-se ainda na nota, antes de se acusar «a administração da GALP e, em particular, o Grupo Amorim», de, «sob a capa das preocupações ambientais», pretenderem «obter um grande quinhão nos fundos da dita “bazuca”».
SITE e Fiequimetal responsabilizam, por fim, o secretário-geral do PS e o seu Governo «pelas consequências nefastas que vão penalizar fortemente a economia da região», decorrentes do encerramento da refinaria. Apelam, por isso, «aos trabalhadores e à população de Matosinhos para que, no próximo dia 26, levem a sua luta e a sua indignação até ao voto e mostrem um “cartão vermelho” ao Governo, ao PS e às suas candidaturas».