«Era difícil imaginar tanto disparate, tanta asneira, tanta insensibilidade, tanta irresponsabilidade, tanta falta de solidariedade...» Palavras de António Costa em Matosinhos, no passado dia 19, dirigidas à GALP a propósito do encerramento da refinaria, consumado a 15 (dia em que andou em Coimbra a distribuir maternidades), com o despedimento colectivo de mais 140 trabalhadores.
Estas declarações surgem oito meses e 29 dias após o anúncio de mais um crime social e económico apoiado pelo Governo e que, quer pela mão do ministro do Ambiente, quer pela voz do primeiro-ministro, apenas tiveram palavras de elogio. Aliás bem explícitas a 7 de Maio, quando afirmou, curiosamente também em Matosinhos, que «acaba de encerrar uma refinaria, foi um enorme ganho para a redução das emissões», dando por arrumado e consumado o encerramento, os despedimentos e mais uma machadada na produção nacional.
O primeiro-ministro, sempre tão ávido em puxar por PRR para aqui, PRR para ali, podia ter ao menos aproveitado para explicar que é também esse PRR que entregará, mais uma vez e com o seu acordo e apoio, milhões à GALP para a chamada transição verde – leia-se, milhões necessários para pagar o encerramento e os despedimentos sem que para isso seja necessário beliscar os 500 milhões de euros de lucros destinados aos acionistas.
Não fosse o assunto tão grave e estaríamos a analisar apenas mais um acto cínico, típico de algumas campanhas eleitorais. Mas o caso está para além disso e roça a hipocrisia. O primeiro-ministro aparece a tratar um assunto como se nada tivesse a ver com ele. Tenta limpar as responsabilidades directas que tem sobre o encerramento da refinaria e, como se não bastasse, ainda enche o peito e faz voz grossa com ameaças à GALP e avisos para que todos ouvissem e tirassem as conclusões.
Sendo que, mais uma vez, mais valia nada ter dito, pois resumindo e retirando a encenação característica de quem diz uma coisa e age de outra forma, as ditas «ameaças» traduzem-se em duas ideias fundamentais: a primeira ideia, e dirigida à GALP, é profundamente inspirada na famosa expressão popular do «agarrem-me se não eu vou-me a eles»; e a segunda, perigosa e reveladora do pensamento de fundo, é que sem disparate, asneira, com sensibilidade, responsabilidade e solidariedade, podem avançar todos os encerramentos, despedimentos e continuar a destruição do aparelho produtivo nacional.
Os disparates que não contam
Talvez seja essa a razão pela qual o primeiro-ministro, aquando da sua passagem por Loures, não tenha tido uma palavra sobre o disparate, a asneira, a insensibilidade e a falta de solidariedade da Saint-Gobain Sekurit, que avançou para o despedimento colectivo e encerramento da empresa.
Ou, por exemplo, não tenha tido até agora um momento para criticar ferozmente a Altice, o Santander e o BCP pelo avanço dos despedimentos colectivos em curso ou, na sua passagem há poucos dias pelo distrito de Braga, não lhe tenha ocorrido o tamanho disparate, asneira e insensibilidade dos encerramentos e despedimentos da Coelima e na Almeida & Filhos.
Felizmente, os trabalhadores sabem com quem contam na defesa do posto de trabalho, na luta pelos direitos e salários, contra a precariedade e a exploração.
Foi assim e assim será. Foi assim em Matosinhos, na refinaria, e assim será nas empresas e locais de trabalho. Daqui a umas horas, vamos a votos para as autarquias locais, ainda há muito voto a conquistar para a CDU, muita gente a mobilizar para dar mais força à força que conta sempre e que sempre lá esteve com e na defesa de todos os trabalhadores.
Com confiança, CDU!