Câmara de Setúbal homenageia João Sacristão
«A lei obrigava a que os náufragos fossem amarrados com cordas e viessem para o cais a reboque da embarcação. Contudo, por iniciativa do meu pai, apoiada pela Direcção dos Pescadores de São Pedro, os corpos dos pescadores naufragados chegaram a terra dentro das embarcações. A dignidade dos náufragos foi respeitada. Desde esse dia nunca mais nenhum corpo de um pescador viria a reboque, mas sim, como devido, a bordo da embarcação. Por esta “infracção” foi meu pai chamado a Lisboa, ao Ministério da Marinha, para ser interrogado». Esta é uma das muitas histórias que têm como protagonista central João Maria Afonso Lopes, pescador. Reporta-se a um naufrágio ocorrido nos anos 1960, em que morreram afogados pescadores das barcas «América» e «Dois Manos». Como tantos outros factos e vivências, está relatado no livro «Recta Intenção», da autoria de Conceição Lopes, professora na Universidade de Aveiro, uma das filhas de Ti João Sacristão, como era conhecida aquela figura carismática na comunidade piscatória setubalense.
Com a chancela da Paulinas Editora, a apresentação da obra decorreu dia 26, no Salão Nobre dos Paços do Concelho da Câmara Municipal de Setúbal. Depois de ter já dado o seu nome a uma rua da cidade, foi desta forma que a autarquia sob a presidência de Maria das Dores Meira quis homenagear o homem que foi pescador-menino e que, como outras crianças do seu tempo, «andou ao mar» com seu pai desde os seis anos de idade.