Em Portugal e no mundo, o mesmo clamor: «Palestina vencerá!»
Em Portugal, como em muitas outras cidades do mundo, ergue-se bem alto a solidariedade com a Palestina e o seu povo e a denúncia dos crimes e da ocupação pelo Estado de Israel e da cumplicidade dos EUA, da União Europeia e, por cá, do Governo português. Esta solidariedade que se alarga, aliada à resistência que prossegue, heróica, constitui o caminho para a vitória.
Só pondo fim à ocupação da Palestina será possível assegurar a paz na região
«Solidariedade com a Palestina! Fim à agressão! Fim à ocupação» foi o mote das concentrações realizadas ao final da tarde de segunda-feira, 17, em Lisboa, no Porto e em Évora, promovidas pelo CPPC, a CGTP-IN e o MPPM, que em conjunto reuniram milhares de pessoas.
Ali estiveram activistas não só das organizações promotoras como de muitas outras que solidariamente se associaram aos justos objectivos das iniciativas. Mas também, e em grande número, gente que não estando integrada em qualquer organização ou movimento fez questão de expressar o seu repúdio pela barbaridade sionista e solidarizar-se com a corajosa luta do povo palestiniano pelos seus legítimos direitos nacionais.
Sobressaíram ainda os membros da comunidade palestiniana em Portugal e os imigrantes provenientes de diversos países árabes ou de maioria islâmica, reivindicando o direito dos refugiados a regressar à terra de onde foram expulsos ou lembrando que Jerusalém é Palestina. Mas não foram também poucos os judeus que empunhavam cartazes contra a ocupação, contra os massacres, contra o apartheid, contra o sionismo, em defesa da criação do Estado da Palestina: «Não em meu nome», lia-se num deles.
Mostrando, todos, que não é de religião que se trata, mas do inalienável direito de um povo à liberdade, à paz e a dispor do seu próprio Estado independente, soberano e viável, que aliás lhe é reconhecido pelo direito internacional e por sucessivas – e nunca respeitadas – resoluções das Nações Unidas.
Denunciar a ocupação
Nos discursos proferidos nas três concentrações sobressaiu a determinação em derrubar, um por um, os mitos do sionismo e do imperialismo relativamente à Palestina, servilmente amplificados pela generalidade dos órgãos de comunicação. Não, não se trata de uma guerra ou de um conflito, mas de uma ocupação, responsável pela opressão, pela violência, pela humilhação que marcam desde há décadas o quotidiano dos palestinianos.
A cumplicidade dos Estados Unidos da América foi também denunciada, recordando-se o apoio dado em todos os momentos e por todas as administrações aos massacres, às ilegalidades, às agressões cometidas pelo Estado de Israel contra o povo palestiniano. As declarações da Administração Biden, repetindo a estafada tese do «direito de Israel a defender-se» – legitimando assim todos os crimes – aí estão a confirmar que, também nesta área, não há diferenças com anteriores administrações. Israel, aliás, é um instrumento fundamental da política de desestabilização há muito seguida pelos EUA no Médio Oriente.
Criticada foi também a postura da União Europeia, que para lá das belas palavras e piedosas intenções branqueia a ocupação, tornando-se assim cúmplice dela. Precisamente o que faz o Governo português, que estaria obrigado a cumprir a Constituição da República, que rejeita o colonialismo e o imperialismo, defende o direito dos povos à autodeterminação e independência e que faz uma opção clara pela paz e a soberania.
Firme solidariedade
Para lá da denúncia, as três concentrações da passada segunda-feira constituíram emocionantes momentos de solidariedade: com a luta do povo palestiniano pela construção do seu Estado nas fronteiras anteriores a Junho de 1967, com capital em Jerusalém Oriental e a garantia de regresso dos refugiados; mas também com o movimento da paz israelita e todos os que, em Israel, lutam contra o sionismo e a ocupação, mesmo enfrentando pesadas represálias.
Os oradores destacaram ainda outras questões essenciais para uma solução justa do problema palestiniano: o fim da ocupação e da expulsão de populações, o desmantelamento do muro de separação e dos colonatos, o levantamento do bloqueio a Gaza, a libertação dos presos políticos palestinianos nas prisões de Israel.
Em Lisboa, intervieram Gustavo Carneiro (CPPC), Carlos Almeida (MPPM) e Isabel Camarinha (CGTP-IN), e no Porto Ilda Figueiredo (CPPC), José António Gomes (MPPM) e Tiago Oliveira (CGTP-IN). Ana Lourido (CPPC) e Mariana Recto (CGTP-IN) foram as oradoras em Évora.
Na capital, os actores Fernando Jorge Lopes e Maria do Céu Guerra acrescentaram emoção à concentração, esta última dizendo o poema Bilhete de Identidade, do mais famoso poeta palestiniano, Mahmoud Darwich: «Toma nota!/ Sou árabe/ Tu saqueaste as vinhas dos meus pais/ E a terra que eu cultivava/ Eu e os meus filhos/ Levaste-nos tudo excepto/ Estas rochas/ Para a sobrevivência dos meus netos/ Mas o vosso governo vai também apoderar-se delas/ … ao que dizem!».
Lusa
Não é conflito, é massacre
Os ataques à Faixa de Gaza prosseguem ao mesmo tempo que o governo de Telavive agradece aos EUA o bloqueio de uma resolução das Nações Unidas que propunha o cessar-fogo. A declaração, apresentada pela China, Tunísia e Noruega, foi a terceira tentativa numa semana de o Conselho de Segurança da ONU adoptar uma posição pedindo o cessar das hostilidades. Os esforços anteriores foram também bloqueados pelos EUA.
O texto pedia uma «solução de dois Estados» e instava ao «respeito pelo direito internacional humanitário», incluindo a protecção dos civis. Referia-se ainda à expulsão, pelas autoridades ocupantes israelitas, de famílias palestinianas das suas habitações em Jerusalém Oriental, como «séria preocupação».
Na noite de segunda-feira, 17, aviões de combate israelitas atacaram instalações para prisioneiros palestinianos perto da praça Al Katibah, na cidade de Gaza. Nos mesmos bombardeamentos, foi atingido o principal centro de testagem e vacinação contra a COVID-19, que suspendeu o seu funcionamento. O Ministério da Saúde da Palestina informou que as suas instalações foram atingidas pelos ataques das forças ocupantes e que há pelo menos 18 hospitais e clínicas médicas danificados.
Noutro comunicado, as autoridades palestinianas denunciaram que os bombardeamentos têm como alvos preferenciais «áreas residenciais densamente povoadas», forçando 40 mil famílias a deslocar-se para refúgios sobrelotados, que desta forma se convertem num «ambiente perigoso, de rápida propagação da pandemia». Quase 50 mil pessoas refugiaram-se em escolas das Nações Unidas. Há notícia, igualmente, de um bombardeamento aéreo a uma zona civil na cidade de Gaza que destruiu uma biblioteca e diversas instalações da Universidade Islâmica.
As centenas de ataques aéreos da aviação israelita têm destruído ou danificado seriamente casas de habitação, prédios, instituições governamentais, bancos, estradas, fábricas, campos agrícolas e infra-estruturas que afectam o abastecimento de água e o fornecimento de electricidade na Faixa de Gaza, onde vivem cerca de dois milhões de palestinianos sitiados.
Um dos alvos atingidos foi o edifício onde se encontravam instalados diversos órgãos de informação, entre os quais a agência noticiosa norte-americana Associated Press e a cadeia televisiva Al-Jazeera, do Catar. Walid al Omari, chefe da delegação da Al-Jazeera em Israel e na Palestina ocupada, acusou Telavive de pretender calar jornalistas que noticiam os criminosos ataques que espalham morte e destruição.
Desde o dia 10 e até terça-feira, 18, à tarde, os ataques israelitas a Gaza tinham causado, entre os palestinianos na faixa sitiada, pelo menos 212 mortos, entre eles 61 crianças e 36 mulheres, e mais de 1400 feridos, numa contagem dramática que não cessa de crescer.
PCP presente e solidário
O PCP mobilizou para as três concentrações de dia 17 e em Lisboa fez-se representar por uma delegação dirigida pelo Secretário-geral. Em declarações proferidas no local, Jerónimo de Sousa denunciou os cercos, os roubos de terras e casas, os sucessivos massacres perpetrados pelo Estado de Israel, rejeitando assim qualquer responsabilização «das duas partes do conflito», como faz o Governo português. O dirigente comunista apelou ainda ao cumprimento das resoluções das Nações Unidas e ao reconhecimento do Estado da Palestina.
Já no dia 12, o Grupo Parlamentar do PCP na Assembleia da República apresentara um voto de condenação da repressão de Israel sobre a população palestiniana, em que denuncia a agressividade dos colonos israelitas sobre a população de Sheikh Jarrah, em Jerusalém Oriental, a ocupação da Esplanada das Mesquitas por militares israelitas e os brutais bombardeamentos sobre a Faixa de Gaza. O PCP manifesta ainda a sua solidariedade com os «legítimos protestos da população palestiniana» e reclama do Governo português uma «postura em defesa dos inalienáveis direitos nacionais do povo palestiniano, reconhecidos nas resoluções das Nações Unidas».
O documento deverá ser discutido e votado brevemente.