Numa mensagem dirigida na tarde de segunda-feira, 29 de Março, a partir dos jardins do Museu da Cidade – Palácio Pimenta, o primeiro candidato da CDU à Câmara Municipal começou por lembrar que «nos últimos 20 anos» Lisboa «não conheceu gestão municipal que não fosse ou do PSD e do CDS ou do PS».

No actual mandato, o PS contou com o apoio do BE. «Vinte anos passados, há uma distância abissal entre a Lisboa que temos e a Lisboa que queremos. A candidatura da CDU, que tenho a honra de encabeçar, mobilizará a força, a vontade, a experiência, o conhecimento e a criatividade bastantes para vencermos esta distância», assegurou João Ferreira, que, face ao agravar das fragilidades, considerou necessário erguer, «em bases renovadas, uma governação democrática capaz de assegurar uma cidade viva, bela e justa».

Reclamou, por isso, uma cidade com um planeamento urbanístico democrático e transparente, onde o interesse público prevaleça sobre o interesse privado e especulativo; uma política de habitação a custos acessíveis, que atraia população residente, jovens e menos jovens; uma vida económica diversificada, que estimule a criação de emprego, de qualidade e com direitos.

Políticas de mobilidade assentes numa clara centralidade do transporte público; promover a saúde e o bem-estar das populações; avaliar e antecipar riscos, com uma política e uma prática de prevenção estrutural de catástrofes; não confundir «uma política cultural com programação cultural e organização de eventos», foram algumas outras ideias trazidos pelo candidato, a par do incentivo e valorização do movimento associativo de base popular, de políticas específicas dirigidas às crianças, de serviços públicos diversificados, de qualidade e de proximidade.

Por isso, nas próximas eleições autárquicas, em Lisboa «o voto só será verdadeiramente útil se afirmar o direito de todos à cidade, em vez do direito de alguns, poucos, a especularem o solo da cidade» e «se ajudar a construir uma Lisboa diferente da que resultou das políticas que entravaram o passo da cidade nas últimas duas décadas», destacou.

Projecto
No final da sua intervenção, questionado pelos jornalistas sobre o número de candidaturas a cargos políticos, João Ferreira recusou a ideia de ser permanentemente candidato, recordando que esta é a terceira vez que concorre à presidência da Câmara de Lisboa, o que quer dizer que foi feito «um bom trabalho» e que se aprendeu com ele para apresentar «um projecto ainda melhor». «Talvez seja mais interessante perguntarmos porque é alguns rodam permanentemente de candidatos», comentou.

Biografia
João Ferreira, 42 anos, licenciado em Biologia, é membro da Comissão Política do Comité Central do PCP. Foi candidato a Presidente da República em 2021.

É, desde 2013, vereador na Câmara Municipal de Lisboa, deputado ao Parlamento Europeu (PE), desde Junho de 2009, e vice-presidente do Grupo Confederal da Esquerda Unitária Europeia/Esquerda Verde Nórdica (GUE/NGL) do PE.

Autor do livro «A União Europeia não é a Europa», em 2013 foi-lhe atribuído o prémio de «Embaixador do Desenvolvimento», pelo Instituto Marquês de Valle Flôr, pelo seu papel na «promoção de políticas europeias mais justas e coerentes»; foi membro da Assembleia de Freguesia da Ameixoeira (Lisboa); sócio-fundador e presidente da Direcção da Associação dos Bolseiros de Investigação Científica (ABIC).

Cidade mais desigual

A «especulação imobiliária, que expulsou centenas de milhar de pessoas de Lisboa», o «negócio privado da saúde que floresce à sombra de uma política de favor imobiliário», as «desigualdades no acesso à habitação, ao emprego, à mobilidade, aos serviços públicos, à cultura, ao desporto e ao lazer», são «resultado» da política seguida nas últimas duas décadas na cidade, acusou João Ferreira.

Entre outros exemplos, destacou a «obstinação em avançar para a linha circular do Metro, que atrasa a vida das populações da coroa Norte da cidade e adia a chegada da rede a zonas onde esta não exista e faz mais falta» e a «aberração anacrónica de um aeroporto que cresce dentro da cidade, prejudicando a saúde e o bem-estar da população», situação que «comporta perigos evidentes», na qual Fernando Medina, actual presidente da Câmara (PS), e Carlos Moedas, já apresentado como candidato do PSD ao município, «partilham responsabilidades e falta de visão, naquela que é, sem dúvida, uma das mais decisivas e estratégicas questões para o futuro de Lisboa».

Investimentos importantes

João Ferreira considerou «estratégico» o próximo período de programação e de execução de investimentos, com fundos nacionais e europeus.

«Há investimentos importantes a fazer em áreas como a habitação, os transportes, a reabilitação urbana, a melhoria ambiental, a prevenção estrutural de catástrofes, entre outras», destacou, frisando que a «questão decisiva» será «se a aplicação destes fundos é orientada por uma lógica de interesse público, que alargue e qualifique a fruição do direito à cidade por todos, ou se, pelo contrário, será irá acentuar dinâmicas de exclusão, por exemplo alimentando a especulação imobiliária, como tem sucedido». «A diferença entre um caminho e o outro é a diferença que existe entre o projecto da CDU e os protagonistas que se alternaram no governo da cidade nos últimos vinte anos», salientou.

Oposição exigente
Sobre a actuação da CDU nos últimos anos, João Ferreira destacou: «Fomos uma oposição atenta e exigente» que «soube honrar a confiança e a força que recebeu dos lisboetas». «Apresentámos inúmeras propostas, em todas as áreas relevantes da vida na cidade, muitas rejeitadas, outras aprovadas, mas intencionalmente colocadas na gaveta. Fomos uma oposição construtiva, mas que não abdicou de princípios», destacou, anunciando que em breve «prestaremos contas do trabalho que fizemos».