Homenagem aos heróis caídos na luta
DEDICAÇÃO O PCP homenageou na terça-feira os seus heróis caídos na luta pela liberdade, a democracia e o socialismo. A evocação, inserida nas comemorações do Centenário do PCP, decorreu simultaneamente em cinco locais.
O PCP honra a memória dos que tombaram em defesa dos trabalhadores, do povo e da pátria
As homenagens decorreram no cemitério do Alto de São João, onde estão depositados os restos mortais dos 32 antifascistas assassinados no Campo de Concentração do Tarrafal; na Estrada de Bucelas, na qual foi baleado, em Julho de 1945, Alfredo Dinis (Alex); em Baleizão, onde em 1954 tombou Catarina Eufémia; na freguesia lisboeta de Alcântara, no exacto local onde foi alvejado José Dias Coelho em finais de 1961; e no monumento à Reforma Agrária no Escoural, concelho de Montemor-o-Novo, que evoca o sítio exacto em que caíram António Casquinha e João Geraldo «Caravela», corria o ano de 1979.
A homenagem, essa, é extensível a todos esses heróis – cujos nomes publicamos nestas páginas, para que não sejam esquecidos.
Intervindo no primeiro destes locais, onde foi depositada uma coroa de cravos vermelhos junto ao Monumento à Memória das Vítimas do Tarrafal, Jerónimo de Sousa lembrou o papel do PCP na resistência ao fascismo e na construção da democracia e o elevado preço que, por isso, pagaram muitos dos seus militantes – forçados a viver na clandestinidade, presos, torturados, assassinados. A lista destes últimos, revelou, «é extensa, atingindo quase uma centena de camaradas, exemplos de heroicidade, de firmes convicções, de enorme confiança na justeza e no triunfo dos ideais que abraçaram».
O Secretário-geral do Partido garantiu que o PCP «não esquecerá as suas vidas sacrificadas em defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo e da pátria, e saberá honrar a sua memória e o seu exemplo, assumindo o seu legado, com dedicação, militância, coragem, confiança e com uma imensa alegria».
Acrescentando ainda que o PCP tudo fará para que Portugal «não conheça mais o fascismo, para que se retomem os valores de Abril», Jerónimo de Sousa destacou que o Partido continuará também a «ser digno do seu heróico passado de luta, firme e convicto na luta presente, de olhos postos no futuro».
O Campo da Morte Lenta
Aos que na longa noite do fascismo foram portadores da chama da liberdade e pela liberdade morreram no Campo de Concentração do Tarrafal – lê-se nas letras metálicas cravadas no mármore negro do Monumento à Memória das Vítimas do Tarrafal, no cemitério do Alto de São João, em Lisboa. Em duas faces do grande cubo de pedra, 32 «gavetas» com os restos mortais dos antifascistas assassinados naquele que ficou célebre como Campo da Morte Lenta.
Na intervenção ali proferida, Jerónimo de Sousa lembrou o Tarrafal como o «mais odioso símbolo da repressão fascista, do seu carácter desumano e assassino». O regime prisional que ali vigorava assentava na «violência sistemática e organizada, nos trabalhos forçados, nos castigos». Para lá foram enviados «os mais destacados combatentes na luta contra o fascismo», grande parte dos quais comunistas, como Bento Gonçalves e Alfredo Caldeira (que ali morreram), mas também Militão Ribeiro, Francisco Miguel, Sérgio Vilarigues, Manuel Rodrigues da Silva, Alberto Araújo.
A trasladação dos restos mortais daqueles heróis, a 18 de Janeiro de 1978, foi «uma das mais grandiosas manifestações realizadas depois de Abril».
Organizar, organizar, organizar
Em dia de honrar os heróis caídos na luta, Alfredo Diniz (Alex, pseudónimo que usava na clandestinidade) foi recordado: uma delegação do PCP, acompanhada por congéneres da JCP e da URAP, depositou uma coroa de flores junto ao memorial que assinala o assassinato daquele militante comunista pela PIDE, a 4 de Julho de 1945, na Estrada de Bucelas.
Na ocasião, Fernanda Mateus, da Comissão Política, destacou, no exemplo de Alex e do seu papel em grandes jornadas reivindicativas, a resistência do Partido à ditadura fascista. Sublinhou que esta só foi possível graças à inabalável confiança na justeza do ideal comunista e na possibilidade de vitória da liberdade e da democracia, e à profunda ligação do PCP ao povo, o que lhe permitiu conduzir a luta «de forma organizada, permanente e contínua».
Esta matriz permanece actual, já que, disse ainda Fernanda Mateus, «falando sempre verdade, sem capitular nem ceder a pressões e ameaças, O PCO prossegue a luta com coragem e determinação, aprendendo com a vida e a experiência, dando respostas novas a novas situações».
A foice, o martelo e a estrela
«Aqui foi assassinada pelo fascismo, em 19 de Maio de 1954, Catarina Eufémia, militante do Partido Comunista Português», lê-se numa placa do memorial, junto da aldeia de Baleizão, no concelho de Beja. O monumento, na sua aparente simplicidade, é carregado de simbolismo – a foice e o martelo encimados por uma estrela.
Depois da deposição de uma coroa de flores no memorial, coube a João Dias Coelho, da Comissão Política, intervir, lembrando palavras de Álvaro Cunhal em Maio de 1974: «Catarina morreu como deve saber morrer um membro do Partido. À frente das massas, encabeçando a luta de classe, defendendo os interesses vitais dos trabalhadores».
Para o dirigente comunista, estas homenagens, embora condicionadas pelas limitações impostas pela crise sanitária, têm um grande significado político, num tempo em que se «desenvolve uma sistemática campanha de revisionismo histórico, de recuperação de figuras fascistas e absolvição dos seus crimes» e se procura «denegrir o papel da resistência e em particular o papel único dos comunistas na luta pela liberdade».
A morte saiu à rua
Na antiga rua da Creche, freguesia de Alcântara, Lisboa, às 20h00 de 19 de Dezembro de 1961, uma brigada da PIDE assassinou a tiro José Dias Coelho. Tinha 38 anos, era membro da Direcção da Organização Regional de Lisboa, responsável pelo Sector Intelectual, funcionário do Partido e um dos mais destacados artistas plásticos da sua geração.
No número 30 da rua que hoje leva o seu nome, foi depositada uma coroa de cravos rubros, junto de uma placa de mármore onde se lê: «De todas as sementes confinadas à terra, é o sangue derramado pelos mártires que faz levantar as mais copiosas searas». Esta foi a legenda que José Dias Coelho dera à sua última gravura publicada no Avante! um mês antes de ser morto.
Margarida Botelho, do Secretariado, garantiu no acto de homenagem que o PCP «não esquecerá as vidas sacrificadas em defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo e da pátria e saberá honrar a sua memória e o seu exemplo». Para sempre ficarão os versos da canção A Morte Saiu à Rua, de José Afonso, dedicada a este artista militante e militante revolucionário.
O sonho, o projecto e a luta
O assassinato de António Maria Casquinha e José Geraldo «Caravela», em 27 de Setembro de 1979, foi recordado no Escoural (Montemor-o-Novo), junto ao monumento à Reforma Agrária, em defesa da qual os dois comunistas perderam a vida. Nesse dia fatídico, os agrários procuravam roubar uma manada de bovinos da UCP Bento Gonçalves, com a cobertura da GNR. Da vizinha UCP Salvador Joaquim do Pomar seguiram vários trabalhadores, em solidariedade com os seus camaradas. Entre eles estavam «Caravela» e Casquinha.
Na homenagem participaram Patrícia Machado, da Comissão Política, e vários dirigentes regionais e locais do PCP, membros da JCP e resistentes antifascistas. Na intervenção que aí proferiu, a dirigente comunista valorizou a Reforma Agrária como «a mais bela conquista de Abril». A sua destruição – e com ela de milhares de postos de trabalho – não apaga o sonho, o projecto e a luta, a que o PCP continua a dar corpo.
O exemplo de Casquinha e «Caravela» permanece hoje, na luta que tem de continuar, sem desfalecimentos, em defesa da democracia e pelos direitos dos trabalhadores.
Heróis caídos na luta
Na longa e exigente luta do povo português contra o fascismo, pela liberdade e a democracia, muitos foram os que, por se encontrarem na primeira linha das batalhas políticas pela liberdade e a democracia, caíram assassinados. Nem todos eram comunistas, é certo, mas estes foram a maioria, quase uma centena:
Abílio de Sousa Marques # Agostinho da Silva Fineza # Albino António de Oliveira Carvalho # Alfredo Caldeira # Alfredo da Assunção Dinis (Alex) # Alfredo Dias Lima # Américo Gomes # Antenor da Costa Cruz # António Bandeira Cabrita # António Ferreira Soares # António Graciano Adângio # António Guerra # António Guedes de Oliveira e Silva # António de Jesus Branco # António Lopes de Almeida # António Mano Fernandes # António Militão Bessa Ribeiro # António Assunção Tavares # António Vicente # Armando Ramos # Armindo Almeida # Augusto Almeida Martins # Augusto da Costa # Augusto Duarte Reis # Aurélio Dias # Bento António Gonçalves # Cândido Alves Barja # Cândido Martins dos Santos (Capilé) # Carlos Alberto Rodrigues Pato # Carlos Norberto de Oliveira # Casimiro Júlio Ferreira # Catarina Eufémia # Damásio Martins Pereira # Domingos Pereira # Domingos Silva # Elvira Mendonça # Ernesto José Ribeiro # Estêvão Giro # Fernando Alcobia # Francisca Maria Colaço # Francisco Cruz # Francisco Ferreira Marquês # Francisco José Esteves # Francisco José Pereira # Francisco do Nascimento Esteves # Francisco do Nascimento Gomes # Germano Vidigal # Gervásio Costa # Henrique Vale Domingos Fernandes # Hermínio de Oliveira Simões # Jacinto Estêvão de Carvalho # Jacinto de Melo Faria Vilaça # Jaime da Fonseca e Sousa # João Ferreira de Abreu # João Lopes Dinis # Joaquim de Carvalho # Joaquim Lemos de Oliveira # Joaquim Lopes Martins # Joaquim Marreiros # Jorge da Silva Pinheiro # José Adelino dos Santos # José António Patuleia # José Dias Coelho # José Duarte # José Lopes da Silva # José Machado e Melo # José Marcelino # José Moreira # José Ruas Ferreira # José dos Santos Rocha # Júlio dos Santos Pinto # Luís António Firmino # Manuel Esteves de Carvalho # Manuel Francisco da Silva # Manuel João # Manuel Mário Ramos # Manuel Pestana Garcês # Manuel Fuíza da Silva Júnior # Manuel Simão Júnior # Manuel Tavares # Manuel Vieira Tomé # Óscar Fernando Gaspar # Paulo José Dias # Rafael Tobias Pinto da Silva # Raúl Alves # Rui Ricardo da Silva # Salvador da Cruz # Venceslau Ferreira Ramos # Vítor Agostinho Pedroso Leitão.
Mais vidas que o fascismo roubou
Outros comunistas, não tendo sido assassinados nos cárceres ou abatidos a tiro, viriam a morrer precocemente em consequência dos maus tratos sofridos na prisão. São os casos, entre outros, de Manuel Rodrigues da Silva, Alberto Araújo, Guilherme da Costa Carvalho, Agostinho Saboga, Luísa Paula, Albina Fernandes, António Tavares, Gomes Pereira, Manuel dos Santos.
Muitos foram, ainda, os que morreram na clandestinidade, vitimados por toda a espécie de doenças e privações e sem possibilidade de tratamento adequado, como José Gregório, Soeiro Pereira Gomes, Maria Helena Magro, Hermenegildo Correia, Rosa Teixeira, Maria Albertina e Joaquina Alves.
Vítimas da contra-revolução
Mas ao contrário do que se possa pensar, o PCP teve os seus mártires após o 25 de Abril. No Verão de 1975, quando o terrorismo bombista atacava as forças democráticas, o comunista José da Costa Lima morreu ao defender o Centro de Trabalho do PCP em Ponte de Lima, atacado por bandos fascistas. Em 1979, numa acção em defesa da Reforma Agrária no Escoural, concelho de Montemor-o-Novo, António Casquinha e João Geraldo «Caravela» foram abatidos pela GNR, ao serviço dos agrários.
Na véspera do 1.º de Maio de 1982, pouco depois da primeira greve geral convocada pela CGTP-IN, foram assassinados no Porto os jovens comunistas Pedro Vieira e Mário Gonçalves, numa provocação montada pelo governo AD e pela UGT. A 11 de Maio, uma nova greve geral juntava às demais reivindicações a denúncia destes hediondos crimes.