Água é direito humano ameaçado
Desde há dias que a água passou a ser cotizada na Bolsa de Wall Street, nos Estados Unidos da América, do mesmo modo que o ouro, o petróleo ou o trigo, «para se conseguir um uso mais eficiente dos recursos hídricos», propagandearam os meios de informação e as agências noticiosas.
Os peritos financeiros de Wall Street utilizam a escassez de água que afecta o planeta pelo desperdício e a contaminação, como pretexto para criar o mecanismo financeiro bolsista. As Nações unidas já vieram alertar que a cotização da água no mercado de acções de Wall Street, como se tratasse de ouro ou petróleo, viola os direitos humanos básicos.
O relator especial da ONU sobre o direito à água potável e ao saneamento, acentuou que «não se pode atribuir um valor à água como se faz com outros produtos básicos comercializados», já que «a água é de todos e é um bem público» que «está estreitamente ligado a todas as vidas e meios de subsistência e é um componente essencial para a saúde pública».
A água é um recurso vital para a economia, mas o seu valor é «mais que isso», acentua o relator especial da ONU, enfatizando que o facto de a água ser comercializada no mercado de Wall Street mostra que «o seu valor como direito humano básico está ameaçado».
Povos indígenas reunidos na Bolívia
condenam a mercantilização da água
Um encontro internacional de povos indígenas condenou, no sábado, 19, na Bolívia, a inclusão da água como mercadoria na Bolsa nos Estados Unidos da América, apesar do acesso ao líquido vital constituir um direito humano.
Assim o assinala uma das conclusões do Encontro de Povos e Organizações do Abya Yala [América] rumo à construção de uma América Plurinacional, realizado na cidade central de Cochabamba, com a participação de um milhar de representantes de povos indígenas de diversos países.
A declaração afirma que «a água é o sangue da Mãe Terra que alimenta todos os seres, pelo que a água não pode comercializar-se, não pode estar em mãos privadas, porque o acesso à água é um direito dos povos». Acrescenta que se trata de um recurso para «produzir os alimentos que nos garantem uma alimentação digna e com identidade».
«A água é a fonte de vida que deve ser respeitada e preservada pelos povos do mundo, para evitar que o capitalismo, o imperialismo menospreze o seu valor vital, a sua qualidade de bem social e cultural, e o seu vínculo sagrado com a Mãe Terra», afirma o documento, citado pela Agência Boliviana de Informação.
Por iniciativa do Estado Plurinacional da Bolívia, a Organização das Nações Unidas declarou a 28 de Julho de 2010 a água e o saneamento como um direito humano que garante a saúde e a vida.
«Nós, os povos do mundo devemos impedir que o capitalismo, o imperialismo privatize e mercantilize a água na bolsa de valores, pelo que devemos assumir a nossa responsabilidade de lutar, cuidar e preservar a fonte de vida que nos deixaram os nossos ancestrais e a Pachamama (Mãe Terra)», enfatiza o texto aprovado.