O PCP tem dado o seu contributo na avaliação do impacto do surto epidémico, nas suas diversas dimensões, na situação das mulheres.
1. Desde logo, das trabalhadoras dos sectores que se mantiveram em actividade no período de confinamento: trabalhadoras da saúde, que têm sido fundamentais na resposta do Serviço Nacional de Saúde; trabalhadoras que garantiram o funcionamento da rede de equipamentos e serviços de apoio (serviços de apoio domiciliário, lares de crianças e jovens, de pessoas com deficiência e idosos); e trabalhadoras dos serviços de limpeza e de distribuição alimentar, entre outras.
Ficou evidente o valor do trabalho destas trabalhadoras que constituem a maioria dos trabalhadores destes sectores, mas igualmente ficou patente a vulnerabilidade do seu estatuto sócio-profissional, os intensos ritmos de trabalho, a par dos baixos salários, que são anteriores ao surto epidémico.
A suspensão das actividades económicas e culturais tiveram consequências dramáticas para milhares de trabalhadoras, entre as quais as trabalhadoras das áreas das artes e da cultura, das micro e pequenas empresárias e das agricultoras e rurais.
Milhares de mulheres viram o seu salário reduzido e respectivo rendimento da família face ao desemprego forçado, a terem de ficar em casa para acompanhar os filhos, e face aos cortes nos salários ao abrigo do lay off.
Uma realidade que exige a adopção de medidas que travem a degradação das condições de vida e de trabalho e façam cumprir os direitos das mulheres. E nesse sentido o PCP apresentou um vasto conjunto de propostas para responder aos problemas acrescidos com que as mulheres estão confrontadas, muitos dos quais são comuns às classes e camadas sociais que estas integram, bem como para dar resposta aos seus problemas específicos no que concerne à necessidade de impedir o agravamento das desigualdades, discriminações e violências que sobre elas incidem.
2. A situação do País está hoje marcada pela perspectiva de uma recessão económica profunda, pela ameaça de encerramento de milhares de micro, pequenas e médias empresas, pelo disparar do desemprego, pela perda de salário por parte de centenas de milhar de trabalhadores, pela desregulação dos horários, pelo condicionamento da actividade produtiva e do escoamento da produção.
Este é o fermento que perpetua a exploração laboral, as desigualdades e violências sobre as mulheres, que lhes nega o cumprimento dos seus direitos, que atrasa a necessária mudança de mentalidades, alimentando preconceitos e estereótipos que atentam contra a dignidade das mulheres e o valor da sua participação em igualdade, no trabalho, na família e na sociedade.
Acresce que o surto epidémico tornou evidente que o actual Governo não adoptou medidas de prevenção e combate à prostituição enquanto grave forma de violência e exploração que atenta contra a dignidade e os direitos das mulheres, o que ficou bem patente na inexistência de programas de saída para as mulheres prostituídas.
O cumprimento dos direitos das mulheres nas suas múltiplas dimensões não encontra resposta nas abordagens circunscritas à desigualdade de «género», nem tão pouco nos instrumentos que suportam as políticas de igualdade de género do Governo PS.
Para o PCP, a resposta que a situação exige não é a concretização da política de direita, de retrocesso nos avanços e aprofundamento das desigualdades, mas sim a implementação de uma política alternativa, patriótica e de esquerda que não dispensa, antes exige, ampliar a luta das mulheres pela melhoria das suas condições de vida e de trabalho, pelo cumprimento dos seus direitos na lei e na vida, num Portugal com justiça social e soberania.