Nas janelas, nas ruas e nos corações

Um grande Abril, com a força do povo

REVOLUÇÃO O 46.º aniversário do 25 de Abril foi celebrado de forma especial, por todo o País, comprovando um enraizamento muito forte no povo.

Foi muito grande a adesão ao apelo para celebrar Abril mesmo em casa

Devido às restrições impostas pela emergência sanitária, os 46 anos da Revolução de Abril não foram festejados com as grandes manifestações populares que marcaram os aniversários anteriores. Mas, por todo o País, com uma vontade pessoal mais evidenciada, por não se amalgamar na multidão, milhões de portugueses fizeram deste 25 de Abril uma celebração única.

Deram-lhe formas muito variadas, destacando-se desde logo a adesão ao apelo para, das janelas e varandas, fazer palcos e cantar «Grândola, Vila Morena» e o Hino Nacional, às 15 horas, o horário de início, em condições normais, do desfile popular na Avenida da Liberdade, em Lisboa, e de inúmeras manifestações semelhantes em muitas outras localidades.

Imaginação
e alegria

A festa, como se foi vendo, começou a ser preparada nas semanas anteriores.

O poster incluído na edição do Avante! da semana passada serviu para decorar muitas janelas. Também houve cravos, bandeiras, faixas, colocados a rigor ao longo de vários dias.

Não é de um dia para o outro que se convoca 250 pessoas para, a partir da casa de cada uma, cantarem «Grândola» na versão coral de Fernando Lopes-Graça. Fizeram esta proeza o Coral de Letras e a Casa Comum da Universidade do Porto.

Também não é frequente reunir(ainda que cada um na sua casa), para cantarem como coro do cante, 50 profissionais do nosso mundo da música, de Afonso Dias a Zeca Medeiros, ordenados pelo alfabeto. E isto foi feito neste 25 de Abril pela associação cultural Fungo Azul.

Fiquemos mais um pouco na Internet e nos coros virtuais, porque a Tuna Académica da Universidade dos Açores canta «Acordai», para «homenagear todos aqueles que fizeram a História cumprir-se». O poema de José Gomes Ferreira, musicado por Lopes-Graça, teve ainda interpretação, publicada dia 23, do Coro Misto da Universidade de Coimbra, alargado até 80 elementos.

Uma lista de iniciativas semelhantes seria sempre incompleta, pelo que terminamos com a «Grândola» da JCP, cantada a 22 vozes, na madrugada de dia 25, à hora a que, em 1974, a composição de José Afonso serviu de segunda senha para o início das operações do Movimento das Forças Armadas.

Muitas autarquias locais promoveram sessões solenes, hastearam a bandeira nacional e diversos autarcas divulgaram mensagens de saudação ao 25 de Abril. Muitas fizeram também questão de programar, para os seus espaços na Internet, iniciativas culturais, algumas desde a semana anterior e durante o domingo, dia 26, recuperando actividades passadas e mostrando novas produções, juntando artistas mais conhecidos com rostos anónimos e músicos indígenas, envolvendo associações. Houve programação especial em rádios locais e acções simbólicas no dia 25, junto a paços de concelho e monumentos a heróis antifascistas, mas também foi feita distribuição de cravos nos automóveis ou nas caixas de correio. Os acordes da «Grândola» e de outras músicas foram levados em carros de som a bairros mais populosos, por vezes com actuações ao vivo em autênticos palcos ambulantes.

De punho
erguido

Amplificação sonora e decoração especial marcaram o dia 25 em muitos centros de trabalho do PCP, por todo o País, onde compareceram alguns camaradas, cantando de punho erguido, às janelas ou no exterior.

Às aprazadas 15 horas, o Secretário-geral do Partido e vários outros camaradas dos organismos executivos do Comité Central e outros dirigentes perfilaram-se à frente do painel da sede nacional, na Rua Soeiro Pereira Gomes. Entoaram «Grândola, Vila Morena» e o Hino Nacional, reafirmando que as circunstâncias de confinamento não calam a voz da liberdade e o valor do 25 de Abril, como na ocasião disse Jerónimo de Sousa aos jornalistas.

O 25 de Abril foi também comemorado pelo movimento sindical unitário e por inúmeras estruturas do movimento associativo e popular.

Na RTP1 e na RTP2, a essa hora, «Grândola» foi executada pela Sociedade Musical Fraternidade Operária Grandolense (com cada músico na sua casa). Em fundo, ilustrado com imagens de quem combate a COVID-19 na «linha da frente», seguiu-se o Hino Nacional.

A intervenção do Secretário-geral do Partido na sessão solene que se realizou, de manhã, na Assembleia da República (como noticiamos na pág. 23), foi apenas uma parte da programação especial que ocupou os meios electrónicos do PCP (sítio e redes sociais), na noite de 24 de Abril e durante o dia 25.

Na Avenida da Liberdade, onde durante a tarde, com o distanciamento aconselhado, foram ocorrendo «manifestações» espontâneas, um mini-concerto não anunciado de Dino D’Santiago com Branko terminou às 15 horas. A esta hora, do CT Vitória, a pouca distância, começou a fazer-se ouvir «Grândola». Aproximando-se do centro de trabalho distrital do Partido, algumas dezenas de pessoas logo passaram de espectadores a entusiasmados cantores.

Semeado
para crescer

Por essa altura, noutras cidades, como em vilas e aldeias, indiferentes à presença ou ausência da comunicação social (mas alguns mostrando a festa nas redes sociais), muitos e muitos homens, mulheres e crianças vieram para as janelas e varandas das suas casas, com ou sem apoio de aparelhagens sonoras, e cantaram Abril com os seus vizinhos. Para alguns, terá sido certamente a primeira comemoração de um aniversário da Revolução. Para muitos, foi uma especial repetição de outros convívios de vizinhos, confinados há mais de um mês, e que assim se aproximam mais do que em anos de rotinas que não deixam tempo para conviver.

Esta foi uma comemoração como nunca. E garante, com uma certeza que o empenho de todos cimentará, que o próximo 25 de Abril vai ser ainda melhor.

 

Em casa e em coro

Grupos e artistas consagrados, afastados das salas e do público e até uns dos outros, prepararam actuações especiais para estas comemorações, nos «palcos» da Internet.

 

O cravo do Avante!

Com a publicação de um poster na edição de dia 23, o Avante! ajudou a colocar a Revolução nas janelas.

 



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