- Nº 2419 (2020/04/8)

Solidariedade, opressão e pirataria em tempo de pandemia

Internacional

O Fundo de Investimentos Directos da Rússia (RFPI) entregou aos Estados Unidos um sistema russo-japonês para diagnóstico do coronavírus, anunciou em Moscovo o director do organismo, Kiril Dimitriev.

«Queremos apoiar os EUA. Entregámos os nossos sistemas de diagnóstico que, em nossa opinião, são dos melhores do mundo. Trata-se de testes russo-japoneses portáteis e capazes de fazer provas até 20 pacientes por hora», indicou Dimitriev à CNN. «Creio que temos de potenciar a cooperação e mostrar boa vontade. Chegou a hora dos bons gestos e creio que este é importante», disse, pedindo que os dois países juntem esforços e colaborem na luta contra a pandemia de COVID-19.

Já antes, a 31 de Março, a Rússia enviou por via aérea a Nova Iorque equipamentos médicos para ajudar a travar a propagação do coronavírus nos EUA.

Nesta matéria, o governo russo assegurou que está disposto a continuar a colaborar com os EUA. «Tomámos nota da declaração do Departamento de Estado norte-americano sobre a importância dos esforços comuns na luta contra o coronavírus, uma posição que partilhamos completamente», afirmou em Moscovo a porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros, Maria Zakhárova.

No dia 1, após a chegada aos EUA do segundo avião com ajuda russa, o Departamento de Estado emitiu um comunicado destacando que ambos os países tinham trocado ajuda humanitária no passado e voltariam a fazê-lo no futuro.

O envio da ajuda humanitária da Rússia para os EUA, que inclui meios de protecção individual e outros materiais, foi acordado previamente pelos presidentes dos dois países.

Bloqueio a Cuba

Como a muitos outros países no mundo, a companhia chinesa Alibaba, de comércio electrónico, decidiu em finais do mês passado doar a Cuba um lote de máscaras faciais e kits para diagnóstico da COVID-19 e assim ajudar o país a enfrentar a pandemia.
No último momento, a empresa norte-americana contratada para transportar o donativo renunciou ao compromisso, intimidada pelas sanções que penalizam romper o bloqueio económico, financeiro e comercial imposto pelos EUA à ilha.
O embaixador de Cuba em Pequim, Carlos Miguel Pereira, denunciou que o «nobre, enorme e louvável» gesto do fundador da Alibaba, Jack Ma, não pôde chegar a solo cubano, por mais necessários que esses recursos fossem. «As coisas são sempre mais difíceis para Cuba. Mesmo em tempos de pandemia, nós, cubanos, não podemos respirar facilmente», comentou o diplomata, citado pelo jornal Granma.

Guerra de máscaras

O primeiro-ministro canadiano, Pierre Trudeau, advertiu o governo dos EUA que seria um erro limitar as exportações de equipamentos médicos para o seu país no meio da pandemia de COVID-19.
O governante revelou que responsáveis do Canadá têm estado em contacto directo com a administração Trump para reforçar a necessidade de colaboração entre os dois países vizinhos nas suas trocas.
A declaração de Trudeau surgiu após a companhia norte-americana 3M ter divulgado que o presidente Donald Trump lhe pedira para deixar de exportar para o Canadá e a América Latina máscaras e respiradores, materiais fundamentais no combate à pandemia.
A empresa, com sede no Minnesota, mostrou-se contra tal medida, explicando que existem implicações humanitárias significativas na interrupção desses equipamentos para os trabalhadores da saúde desses países.
Vários incidentes deste tipo têm sido noticiados nos últimos dias.
A Alemanha denunciou que um lote de 200 mil máscaras pedidas pela polícia de Berlim e já pagas foi confiscado no aeroporto de Bangkok, na Tailândia, devido a pressões dos Estados Unidos. «Consideramos isto um acto de pirataria moderna», disse Andreas Geisel, um responsável da cidade de Berlim.
A França também acusou Washington de estar a pagar mais dinheiro para ficar com as encomendas de máscaras já realizadas por outros países. E a revista L’Express denuncia que mesmo dentro das fronteiras da União Europeia se trava estas batalhas, dando como exemplo a recente apreensão, por parte da França, de um lote de máscaras proveniente da Suécia e que deveria chegar a Espanha.