A ausência de solidariedade da União Europeia é gritante

SEM RES­POSTAS O Con­selho Eu­ropeu de 26 de Março con­firma, no es­sen­cial, a au­sência de res­postas aos pro­blemas re­sul­tantes do surto de COVID-19, de­clarou João Fer­reira, membro do Co­mité Cen­tral do PCP.

Impõe-se que o País tome as me­didas in­dis­pen­sá­veis face à do­ença

O di­ri­gente co­mu­nista e de­pu­tado ao Par­la­mento Eu­ropeu de­nun­ciou que «a au­sência de so­li­da­ri­e­dade da União Eu­ro­peia é gri­tante», desde logo no mais bá­sico: «pro­teger a saúde das pes­soas; salvar vidas; con­certar es­forços para ad­quirir, de acordo com as ne­ces­si­dades, equi­pa­mentos e ma­te­rial mé­dico».

Numa de­cla­ração no dia 27 sobre as con­clu­sões do Con­selho Eu­ropeu, João Fer­reira re­vela que «o pe­dido feito à Co­missão Eu­ro­peia para reunir in­for­mação sobre a si­tu­ação nos vá­rios países, e para di­na­mizar a con­tra­tação con­junta de ma­te­rial ne­ces­sário, es­conde si­tu­a­ções la­men­tá­veis, que se têm ve­ri­fi­cado nas úl­timas se­manas: com vi­o­lentos atro­pelos na cor­rida ao ma­te­rial dis­po­nível no mer­cado in­ter­na­ci­onal; com a re­tenção ar­bi­trária de equi­pa­mentos nas al­fân­degas de al­guns países (ma­te­rial ad­qui­rido e des­ti­nado a ou­tros países); blo­queios às ex­por­ta­ções de ma­te­rial que al­guns ne­ces­sitam ur­gen­te­mente». E acentua: «É nada menos do que a lei da selva, aquilo a que se as­siste. É o cada um por si».

No plano das con­sequên­cias eco­nó­micas, se­gundo João Fer­reira, o guião que agora é se­guido pa­rece de­cal­cado da res­posta à crise de 2008: «Aí temos no­va­mente os blo­queios, as con­tra­di­ções, os im­passes no Con­selho Eu­ropeu, as ma­ni­fes­ta­ções de in­to­le­rância e de ar­ro­gância, o em­purrar com a bar­riga o que po­derão ser reais so­lu­ções para ajudar os Es­tados-mem­bros, o que con­trasta com a agi­li­dade das me­didas de as­sis­tência ao ca­pital fi­nan­ceiro, como as que foram de ime­diato de­sen­ca­de­adas pelo BCE (Banco Cen­tral Eu­ropeu)».

Afirma João Fer­reira: «Por­tugal e o povo por­tu­guês não podem correr o risco de fi­carem no­va­mente presos nestas con­tra­di­ções, de serem ma­ni­e­tados por estes im­passes. A fac­tura, como muito bem sa­bemos, será pe­sada. Um país des­pro­vido de so­be­rania eco­nó­mica e mo­ne­tária, com uma dí­vida co­lossal às costas e que é no­va­mente em­pur­rado para o en­di­vi­da­mento, presa fácil dos es­pe­cu­la­dores, não terá con­di­ções para res­ponder às suas ne­ces­si­dades, para pro­teger as pes­soas, o em­prego, os sa­lá­rios, a ac­ti­vi­dade pro­du­tiva, se ficar eter­na­mente de­pen­dente de ac­ções que ou­tros não estão dis­postos a tomar».

O que se impõe neste con­texto, su­blinha o di­ri­gente do PCP, é que, in­de­pen­den­te­mente da res­posta da União Eu­ro­peia, ou apesar dela, o País tome as me­didas in­dis­pen­sá­veis para «res­ponder às suas ne­ces­si­dades, de­fender os seus in­te­resses – os in­te­resses dos tra­ba­lha­dores e do povo».




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