Juventude trabalhadora assinalou o dia da luta que não pode parar
JORNADA Ao saudar os jovens trabalhadores, que fizeram de 26 de Março um dia de combate, a Interjovem realçou que, «independentemente das circunstâncias», a luta organizada não pode parar.
A precariedade de emprego deixa os trabalhadores mais vulneráveis
A saudação da organização de juventude da CGTP-IN foi divulgada na data em que deveria ter ocorrido em Lisboa «a nossa grande manifestação de jovens trabalhadores».
«Com um grande sentido de responsabilidade, suspendemos a manifestação nacional», recorda a Interjovem. «Mas não suspendemos a nossa luta», tal como se mantêm os seus objectivos: «exigir o fim da precariedade, o aumento geral dos salários, o fim dos horários desregulados, um vínculo efectivo para todos os que desempenham funções de carácter permanente» e garantir «uma juventude independente, emancipada e com futuro».
No dia 26 – a assinalar o Dia Nacional da Juventude, 28 de Março – os jovens trabalhadores mostraram que «estão cá para denunciar todos os ataques e abusos a que o patronato os submeta» e que «estão dispostos a lutar pelos seus direitos».
Nas ruas de várias cidades, com destaque para Lisboa, Porto e Évora, foram colocadas pancartas e faixas e foram feitas pichagens.
Nas páginas electrónicas da CGTP-IN e de sindicatos, federações e uniões, bem como nos seus espaços nas redes sociais, foram publicados vídeos com quase duas dezenas de depoimentos, glosando um tema comum: «Não há manifestação, mas a luta continua! Não somos descartáveis! Fim à precariedade!».
Expondo os problemas vividos nos seus locais de trabalho e também exemplos de luta organizada, criando resistência e alcançando vitórias, a Interjovem difundiu mensagens de dirigentes sindicais e outros trabalhadores jovens, entre os quais uma enfermeira, uma trabalhadora de um dos call centers da NOS, um trabalhador da Upfield, dirigentes do comércio e serviços (CESP), da hotelaria e restauração (Fesaht) e da indústria (Fiequimetal), trabalhadores da EDP, da Bosch (Braga), da OGMA (Alverca) e da Herdmar (Guimarães).
A resposta à emergência sanitária, comenta ainda a Interjovem, «coloca a nu não só a necessidade premente de um real investimento e valorização do Serviço Nacional de Saúde e dos seus profissionais, como a vulnerabilidade em que os trabalhadores, nomeadamente os jovens trabalhadores, trabalham e vivem».
«Multiplicam-se os casos de trabalhadores cujos vínculos precários não foram renovados, de trabalhadores forçados a tirar férias, de trabalhadores cujos baixos salários sofreram um golpe e não chegam para o aumento das despesas», ficando comprovado que «a precariedade deixa-nos mais expostos e vulneráveis».
Contudo, «independentemente das circunstâncias, a luta continua».
A CGTP-IN e os seus sindicatos «tudo farão para combater as ilegalidades», incluindo suscitar «a intervenção da Autoridade para as Condições do Trabalho e do Governo para as impedir», assegurou Isabel Camarinha.
Num depoimento emitido, no tempo de antena da CGTP-IN, a 24 de Março, a Secretária-geral salientou, entre outras prioridades, a necessidade de medidas de prevenção e equipamentos de protecção em todos os locais de trabalho. Reafirmou que a CGTP-IN «exige o pagamento dos salários a 100 por cento para todo os trabalhadores, em todas as situações provocadas pelo vírus e sem discriminações», sublinhou.
«Façam ouvir a vossa voz
No dia 28 de Março, numa declaração difundida no site central e outros meios de comunicação electrónica, o Secretário-geral do PCP saudou os jovens trabalhadores. Publicamos aqui o texto dessa saudação, em que Jerónimo de Sousa apela a que os jovens façam ouvir a sua voz.
«O mês de Março é particularmente caro à juventude portuguesa. Nele se celebram, a 24, e tendo por base um projecto de Lei do PCP, o Dia Nacional do Estudante, e hoje, dia 28, o Dia Nacional da Juventude.
É por isso que hoje estendemos o nosso abraço aos jovens portugueses. Aos estudantes e aos trabalhadores, aos que vivem no campo e na cidade, aos atletas, aos músicos, aos artistas.
Dias que são de valorização da contribuição dos jovens para a luta contra o fascismo, mas que são, principalmente, momento de afirmação do direito a ter direitos, do direito a uma vida melhor.
Dias que, ao longo das últimas décadas, foram de festa, mas foram também e sempre de luta.
E assim seria este ano, fosse nas escolas, com acções do movimento estudantil, fosse a partir das empresas e locais de trabalho, com a manifestação nacional da juventude trabalhadora, que estava convocada para anteontem pela CGTP--IN e pela Interjovem.
As novas circunstâncias, com a eclosão do surto epidémico, impediram as acções de rua.
Mas não limitaram nem os direitos, nem os sonhos das jovens gerações. E não impediram também a sua criatividade, a sua energia transformadora, desta vez espelhada nas redes sociais.
No PCP, e também na JCP, sabemos bem o quanto os jovens estão entre os primeiros afectados pelas consequências da epidemia, seja na escola, com a angústia de não saber o que vai acontecer nos dias que virão, seja nas empresas e locais de trabalho, confrontados com uma leva de despedimentos e o corte nos direitos, que sectores patronais estão a promover, com esse pretexto, e abusando já das novas regras do período experimental de 180 dias.
Apelamo-vos, para que não baixem os braços, para que não se calem perante as injustiças ou os atropelos, para que, pelos meios de que agora dispomos, façam ouvir a vossa voz.
Pela nossa parte, queremos dizer-vos que acompanhamos as vossas preocupações quanto ao momento presente e quanto ao futuro.
Estamos convosco nas reclamações tão sentidas pela escola pública, gratuita e de qualidade, pelo fim das propinas, contra os exames nacionais, pelo emprego com direitos, pelo combate à precariedade.
Assinamos por baixo a vossa luta pelo acesso à cultura, ao desporto, a uma habitação digna, ao lazer, à saúde e à educação sexual, à igualdade.
Sabemos quão verdadeiras são as dificuldades para constituir família, para decidir ter filhos, para garantir a mobilidade.
Partilhamos as vossas inquietações quanto às discriminações que perduram e quanto aos perigos para a paz, no mundo que é de todos!
Nestes dias de incerteza e inquietação, assoma-nos a confiança de quem sabe que, em todos os momentos difíceis, em todas as curvas apertadas, foi sempre o povo que olhou de frente os perigos e ameaças, que tomou nas suas mãos os seus destinos e deu resposta aos problemas que lhe surgiram pela frente. Na primeira linha, estiveram sempre os jovens portugueses, como Abril bem mostra.
É essa confiança que nos permite olhar o futuro de paz, direitos, prosperidade e felicidade para a juventude, que queremos construir.»
Lutar para derrotar a precariedade
Para o coordenador da Interjovem, os impactos da COVID-19 não podem servir para abusos e ilegalidades. «Os salários não são suficientes para viver», lembrou Dinis Lourenço, no vídeo emitido pela CGTP-IN em tempo de antena, a assinalar o Dia Nacional da Juventude Trabalhadora.
Muitos jovens trabalhadores, «com contratos a prazo», de três ou seis meses, não podem «planear a sua vida», protestou o dirigente, dando conta de novas formas de «exploração», nomeadamente através de plataformas digitais.
«É fundamental participar nas acções convocadas pelos sindicatos da CGTP-IN», pois «só com a luta podemos derrotar a precariedade e ter uma juventude com futuro», apelou.