O Avante!, o Dia Internacional da Mulher e a sua luta emancipadora
LUTA O Avante! comemorou a 15 de Fevereiro o seu 89.º aniversário motivando dezenas de iniciativas em todo o País. Nelas se evidenciou o papel desempenhado pelo órgão central do PCP, como jornal de classe ao serviço dos trabalhadores e do povo, sem nunca se deixar submeter ou intimidar pela ditadura fascista ou pelas muitas tentativas de silenciamento por parte da ideologia e dos poderes dominantes.
Procura-se ocultar e distorcer a origem do Dia Internacional da Mulher
Num momento em que se aproxima a comemoração do Dia Internacional da Mulher é justo assinalar o importante contributo dado pelo Avante!, ao longo das suas edições, ao pulsar da luta das mulheres no âmbito do Dia Internacional da Mulher: no período do fascismo, após a Revolução de Abril, desde a sua primeira comemoração em Março de 1975, e ao longo das últimas décadas.
O Avante! e a proibição
pelo fascismo de comemoração desta data
Uma incursão pelas suas edições, entre 1953 e 1973, dá-nos ecos quer do apelo às mulheres a comemorarem esta data e às iniciativas levadas a cabo em cada ano, e como também ao valor da solidariedade internacional, designadamente com a divulgação regular das posições da Federação Democrática Internacional de Mulheres (FDIM).
Era um tempo em que esta data era proibida pelo regime fascista e em que a sua comemoração em Portugal constituía um acto de resistência e luta das mulheres.
Um tempo em que o regime fascista impunha às mulheres portuguesas uma dupla exploração e opressão, negando-lhes direitos políticos, económicos, sociais e culturais, mas em que muitas, designadamente as comunistas, também foram presas e torturadas e deram a vida pela liberdade e democracia, estiveram na primeira linha da actividade clandestina do Partido e foram dinamizadoras da luta das mulheres, incluindo no âmbito do Dia Internacional da Mulher.
Revolução de Abril e amplitude
das comemoração
do 8 de Março em Portugal
As edições do Avante! após a Revolução de Abril passaram a ser semanais e refletem não só a programação das comemorações no plano unitário como as mensagens do PCP às mulheres, designadamente por via da edição dos seus folhetos próprios, mas também por via das iniciativas do seu grupo parlamentar na Assembleia da República.
A primeira comemoração em liberdade foi assinalada, na edição do Avante! de 6 de Março de 1975: «Dia Internacional da Mulher comemorado pelo MDM», com um vasto conjunto de iniciativas a que foi dado destaque designadamente a realização de um grande desfile em direcção à Praça do Comércio, onde se realizou um comício em que este Movimento destacou a importância das mulheres trabalhadoras da participação no processo democrático em desenvolvimento.
Podemos constatar que as edições do Avante! contribuíram para projectar a amplitude que o Dia Internacional da Mulher passou a ter em Portugal em resultado da instauração das liberdades e da democracia: a data representava uma oportunidade para denunciar a situação herdada do fascismo e apelar à luta das mulheres pela consagração legal dos seus direitos, tanto na esfera privada como na pública.
Uma comemoração que se inscreveu, desde então, numa profunda dinâmica de participação das mulheres em todo o processo democrático, cabendo ao Movimento Democrático de Mulheres (MDM), no plano unitário, a dinamização das acções comemorativas logo após a Revolução de Abril.
O Avante! deu uma importante contributo na projecção pública da diversidade que tem caracterizado as comemorações desta data por todo o País – das aldeias, às vilas e cidades, dos campos às fábricas – levadas a cabo pelo MDM, mas igualmente por diferentes organizações do movimento de massas. Destaque para as acções dos sindicatos da CGTP-IN junto das trabalhadoras, mas igualmente as realizadas por autarquias, colectividades, entre outras.
A dinamização de reuniões, debates, comícios onde as mulheres tomavam a palavra, verbalizando os seus problemas, tomando consciência do seu papel na transformação da situação de subalternidade a que o fascismo as votou, ganhando consciência nas suas capacidades e no seu papel para mudar a sua vida e a vida colectiva. A realização de convívios e de acções de carácter cultural e desportivo tiveram importante expressão nas comemorações do Dia Internacional da Mulher e deram forte impulso ao valor da sua participação nos diversos domínios da sociedade.
Assume relevância a valorização dos saberes das mulheres através da realização de exposições dos seus trabalhos (trabalhos manuais, artes plásticas etc.), as acções de valorização do papel das mulheres na história das comunidades, na toponomia, no teatro ou no cinema.
A solidariedade entre mulheres do mundo inteiro, na luta contra a guerra e pela paz, é uma dimensão das comemorações do 8 de Março que igualmente estão reflectidas nas edições do Avante!.
As comemorações desta data ligaram-se sempre às reivindicações das mulheres junto dos órgãos de poder – através de abaixo-assinados, petições, cartas abertas com deslocações à Assembleia da República por delegações de mulheres, cordões humanos, concentrações. Mas, igualmente, com comícios-festa, encontros de mulheres ou a realização da manifestação nacional de mulheres, decidida pelo MDM no seu Congresso de Maio de 1996, e realizada em Março de 1997.
A ocultação da ligação do Dia
Internacional da Mulher à luta
emancipadora das mulheres
em Portugal
O Avante! contribuiu activamente para dar projecção ao importante património de comemorações do Dia Internacional da Mulher num tempo em que, tal como se afirmou no Encontro do PCP sobre os direitos das Mulheres (2008), se registavam perigosas tentativas de subversão das suas raízes históricas e da luta das mulheres no século XX pela conquista de direitos. Estas têm sido importantes jornadas de luta promovidas por organizações como o MDM e os sindicatos da CGTP-IN, que as transformaram numa importante jornada de afirmaçao do valor da luta de todos os dias, que essas organizações levam a cabo.
Assinalava-se, nesse encontro, o silenciamento por parte da comunicação social de muitas destas acções e, paralelamente, a profusão de iniciativas alusivas a esta data completamente desprovidas de qualquer conteúdo político relacionado com os direitos das mulheres.
O Avante! tem valorizado importantes iniciativas do PCP em defesa dos direitos das mulheres, algumas das quais, no âmbito das comemorações do Dia Internacional da Mulher, de que é exemplo a edição de 3 de Março de 1982: «Interrupção Voluntária da Gravidez: o debate está lançado na Assembleia da República». Nos números seguintes dava-se conta de que os projectos do PCP sobre maternidade, planeamento familiar, educação sexual e Interrupção Voluntária da Gravidez estavam em debate em todo o País, lançando uma pedrada no charco do obscurantismo (18 de Março de 1982).
O jornal Avante! tem divulgado as iniciativas do PCP e o conjunto de outras associadas a esta comemoração, com a realização de acções próprias dirigidas às mulheres, bem como as que tem lugar no quadro da nossa intervenção na Assembleia da República, nas autarquias e no Parlamento Europeu.
De resto, o Avante! é expressão da acção do PCP que, ao longo dos seus 99 de acção e luta, é o aliado mais coerente e determinado das mulheres e da sua luta pelos direitos e emancipação social.
8 de Março de 2020
Este registo do papel do Avante! é tão mais importante quando vivemos um tempo marcado pelas tentativas de distorção da origem histórica do Dia Internacional da Mulher e da sua ligação ao movimento operário e revolucionário que, pela voz de Clara Zetkin, uma destacada revolucionária alemã, propôs a sua instituição em 1910 na Conferência Internacional de Mulheres (Copenhaga). Fê-lo «em acordo com as organizações políticas e sindicais do proletariado nos respectivos países», exortando a que as mulheres de todos os países organizassem todos os anos um Dia da Mulher.
No decurso do século XX, o 8 de Março transformou-se num símbolo de luta revolucionária, numa jornada mundial de acção das mulheres pelos seus direitos próprios e contra todas as formas de discriminação. São inúmeros os exemplos, em todo o mundo, de que esta data se elevou como manifestação e luta pelas mais justas aspirações dos trabalhadores, mulheres e homens, pela igualdade, progresso e soberania dos povos.
Uma comemoração que, pela sua matriz revolucionária, pela sua ligação à luta das mulheres em cada país, e pelo seu carácter internacionalista – solidariedade entre mulheres do mundo inteiro – foi tantas vezes proibida e reprimida e, por isso, tornada invisível nos anais da historiografia burguesa. E, mais recentemente, alvo da subversão da sua origem histórica e da tentativa de instrumentalização da luta das mulheres a propósito da sua comemoração.
Mas, igualmente, por parte dos que querem reescrever a história da comemoração do Dia Internacional da Mulher, ocultando que ela tem fortes tradições na luta emancipadora das mulheres em Portugal.
Não só as comemorações do 8 de Março deste ano terão uma amplitude de massas, por via das acções programadas no âmbito da Semana da Igualdade marcada pelos sindicatos e pela CGTP-IN, como terá sobretudo um momento alto na Manifestação Nacional de Mulheres convocada pelo MDM para domingo, dia 8 de Março, para os Restauradores.
O PCP não deixará de destacar esta data nas iniciativas alusivas ao seu 99.º aniversário e dirigir-se-à as mulheres com o seu folheto Combater as injustiças. Exercer Direitos. Cumprir a Igualdade na Vida.
O Avante! continuará a dar eco a essas acções.