Reforço do PCP é decisivo no presente e nos combates de classe de amanhã
RECRUTAMENTO «As prioridades do reforço do Partido são colocadas para o tempo presente, para responder às exigências imediatas que se colocam, articulando sempre a intervenção com o reforço da organização. Ao mesmo tempo, o reforço do Partido deve ter em vista as exigências futuras».
A acção dos 5 mil contactos com trabalhadores deve continuar a merecer atenção prioritária
Esta orientação consta da resolução do Comité Central aprovada a 21 de Janeiro de 2018. Nela se definem dez linhas de trabalho fundamentais para cumprir esses objectivos constantes na vida do colectivo partidário, que são cuidar do PCP para que esteja à altura das exigências colocadas pela intervenção hodierna, e, simultaneamente, preparar, em múltiplas dimensões e aspectos a organização revolucionária para as batalhas futuras.
De entre essas orientações, o recrutamento e integração dos novos militantes assume relevo, tendo mesmo sido lançada, para esse fim, uma campanha de contacto com cinco mil trabalhadores. A iniciativa, que termina em Março, continua a desenvolver-se, tendo já resultado num elevado número de novos militantes e, nos casos em que tal não sucede, numa relação mais estreita com esses trabalhadores e canais mais directos de comunicação com o Partido, seus objectivos e projecto: se em Outubro, tinham sido realizados mais de 3500 contactos e aderido ao PCP mais de mil trabalhadores, muito se avançou desde então.
Tal facto produzirá seguramente efeitos nas lutas que os comunistas prosseguem, honrando o compromisso com os trabalhadores e o povo que está na sua natureza de classe e o glorioso legado de quase um século a baterem-se pela liberdade, a democracia, a paz e a cooperação entre os povos, pelo fim da exploração capitalista, pelo socialismo e o comunismo.
Com a acção de recrutamento e integração dos novos militantes na vida partidária, sublinha a referida resolução, pretende-se «fortalecer, renovar e rejuvenescer organizações, mas também criar organizações do Partido onde não existem, designadamente novas células de empresa e local de trabalho».
Audácia
Aliás, a organização e intervenção nas empresas e locais de trabalho merece um ponto específico no texto aprovado pela direcção do PCP. Muitos dos seus pressupostos foram cumpridos nos casos da Célula da Autoeuropa e no Sector dos Transportes Rodoviários do Algarve.
Na organização do PCP na fábrica automóvel situada em Palmela, relatou João Costa ao Avante!, o secretariado da célula envolveu-se com perseverança e audácia e começou por definir um total de 60 trabalhadores a quem propor a militância comunista. Quase uma dezena aceitou integrar o Partido e muitos dos demais, para não dizer todos, estão hoje mais dispostos a assimilar as suas orientações na luta de classes que se desenrola no local de trabalho.
Alguns dos novos militantes já participaram na Festa do Avante! ou noutras iniciativas do PCP, e na célula na Autoeuropa trabalha-se, sem pressa mas todavia sem pausas, para que todos possam reunir periodicamente. A maior dificuldade é a conjugação dos horários numa unidade produtiva que funciona em laboração ininterrupta.
Mais – testemunhou João Costa – um dos propósitos imediatos é que os novos militantes se envolvam na definição e materialização do plano de acção para o ano de 2020, do qual faz parte o levantamento de mais 20 a 30 camaradas de trabalho a abordar para que integrem o PCP. O que quer dizer que ali há a consciência, e sobretudo a prática, de justamente cuidar do Partido sempre, para além dos ciclos extraordinários de recrutamento.
Mas se o exemplo da célula da Autoeuropa é digno de regidto, não o é menos o sucedido no Sector dos Transportes Rodoviários do Algarve, conforme contou Pedro Purificação ao Órgão Central do PCP.
O ponto de partida eram dois camaradas dispersos geograficamente. Mas tal não constituiu um obstáculo insuperável, tendo-se apurado condições para abordar, inicialmente, dez trabalhadores.
Das conversas resultaram três recrutamentos, mas tão interessante quanto o saldo numérico é, por um lado, o facto de a iniciativa ter assentado num contexto de luta contra os abusos patronais e em defesa dos direitos, com os rodoviários a reconheceram a justeza das posições e têmpera dos comunistas.
Por outro, sublinhe-se que esse reconhecimento de que «o PCP é o osso mais duro de roer», como disse Pedro Purificação, desencadeou potencialidades organizativas quer no desenvolvimento da luta quer na consolidação e crescimento do Partido. Tanto mais que o funcionamento do organismo partidário está bem encaminhado e, entretanto, outros dois trabalhadores foram identificados como tendo condições para aderirem ao PCP.
Sem fronteiras
Já para relatarmos o caso da entrada de Patrícia Gouveia no PCP, tivemos que «ir» a França, para onde esta ex-trabalhadora da WashClean Laundries, no Barreiro, emigrou muito recentemente. Pelo telefone contou-nos no entanto as voltas de uma vida que se cruzou com o Partido.
Na empresa de lavagem industrial de roupa, a exploração assumia contornos brutais: repressão laboral, negação do direito a folgas, pausas ou férias; pagamento de salários e subsídios com atraso ou o seu não-pagamento. Patrícia Gouveia não se resignou e foi reivindicando os seus direitos juntamente com o Sindicato dos Têxteis, no qual se integrou e do qual, passado algum tempo em luta, passou a ser dirigente.
«As minhas colegas começaram a ver que eu ia conquistando o cumprimento dos direitos, sindicalizaram-se também e começaram a seguir-me», resumiu. Mas a história é bem mais complexa e feita de suor e lágrimas, pelo menos. Em Novembro de 2018, já com salários em atraso, as trabalhadoras foram confrontadas com a retirada das máquinas pelo patrão. Organizaram-se e ficaram de vigília. Durante meses. Noite e dia. Mas venceram e acabaram por receber boa parte do que lhes era devido, assim como protecção social por desemprego.
Patrícia Gouveia, que esteve à porta da WashClean Laundries todos os dias e viu ao seu lado e ao lado das suas colegas, «sempre, mas sempre o PCP» (que tudo fez para proteger os trabalhadores e não faltou à chamada na hora de maior aperto no estômago, literalmente), decidiu dirigir-se ao Partido. Inscreveu-se assim como militante, dando sequência lógica a um percurso que a levou a tomar nas suas mãos a organização e acção concreta contra a exploração.
Hoje, a trabalhar em França, Patrícia Gouveia procura reorganizar a sua vida profissional. Mas dela já faz parte a militância comunista e assegura que vai procurar os camaradas do PCP, «os nossos camaradas».
«Para ajudar», diz, lembrando-nos a todos que um comunista, para onde quer que vá, leva consigo a determinação de nunca mais se calar ou subjugar às injustiças e desigualdades, de contribuir com o melhor da sua energia, saber e experiência para o crescimento e prestígio do Partido dos explorados e oprimidos.
Aderir e assumir
Outra das dimensões realçadas na resolução de 21 de Janeiro de 2018 sobre o reforço do PCP é o trabalho de direcção, a responsabilização de quadros e a formação política e ideológica, considerando-se, entre outros, que se trata «de assegurar o funcionamento regular e eficaz dos organismos de direcção, o seu fortalecimento, renovação e rejuvenescimento; de assegurar que um número maior de camaradas se disponibilizem para assumir tarefas regulares de acordo com a sua disponibilidade; de proceder ao levantamento dos membros do Partido que se destacaram em diversas tarefas e trabalhar para a sua responsabilização; de contribuir para que milhares de pessoas que não são ou ainda não são do Partido, mas que se revelaram na luta de massas, na intervenção social e política e também nas eleições autárquicas, se integrem com uma activa participação em estruturas e acções unitárias».
Sandra Jesus vive e trabalha em Vila Nova de Cacela, concelho de Vila Real de Santo António (VRSA). Em 2017 aceitou integrar as listas da CDU e foi eleita para a Assembleia de Freguesia. O desenvolvimento do trabalho no quadro da intervenção autárquica aproximou-a cada vez mais do PCP, ao qual aderiu em meados de 2018. Desde então, não mais parou e no seu testemunho perpassou o entusiasmo de quem ganhou o gosto de fazer mais um pouco porque, como notou o poeta Pablo Neruda, com o Partido não terminamos em nós mesmos.
Actualmente, esta professora do Ensino Básico é membro da Direcção Regional do Algarve, da Comissão Concelhia de VRSA e responsável pela organização freguesia de VN de Cacela do PCP, onde a prioridade, frisou, é fortalecer a participação na vida e intervenção do Partido.
Para além de já ter trazido à militância o seu marido, Sandra Jesus motivou para a adesão ao PCP uma professora entre os seus colegas de trabalho, junto dos quais, admite, pode também contribuir para reforçar a presença e acção comunistas.
Já a ligação de Rute Pinheiro ao PCP é mais antiga. Filha e irmã de comunistas, salientou, o Partido, os seus ideais e intervenção não eram para si um elemento desconhecido. Pelo contrário, esta técnica de laboratório num instituto público «já realizava tarefas como muitos militantes».
Nos últimos anos, Rute Pinheiro sentiu, contudo, que o facto de não ser membro do PCP a deixava «de fora de algumas discussões», o que sendo natural determinou a decisão e o momento de «dar o passo». Foi a seguir às Legislativas, já tem na sua posse o cartão de militante do PCP e muito em breve conta integrar a organização da sua residência, onde tem uma história e percurso mais sólidos, e para cujo sucesso demonstrou entusiasmo em contribuir, considerando que pode fazer a sua parte para a «pôr as coisas a mexer mais».