Trabalhadores em França em luta há mais de um mês
PROTESTOS Continuam há mais de um mês as greves e manifestações dos trabalhadores franceses, que protestam contra a proposta governamental de mudar o sistema de pensões de reforma.
Seis em cada 10 franceses consideram «justificadas» as greves
LUSA
Várias cidades francesas foram palco de novas marchas de protesto, no sábado, 4, a 31.ª jornada de paralisações contra o projecto do governo visando alterar o cálculo das reformas dos trabalhadores.
Em Paris, milhares de pessoas desfilaram entre as estações de Lyon e do Norte, num trajecto de quatro quilómetros, convocadas por organizações como a Confederação Geral do Trabalho (CGT), Força Operária, Federação Sindical Unitária e Os Solidários, que integram o bloco mais activo exigindo a retirada da proposta governamental, considerada gravosa para os trabalhadores. Também em Toulouse, Le Mans, Rennes, Caen, Nimes e outras cidades francesas registaram-se protestos populares.
Depois de organizar as gigantescas manifestações de 5, 10 e 17 de Dezembro, as centrais sindicais apelaram à realização de protestos locais para obrigar o governo a retroceder. Foram, entretanto, convocadas uma marcha nacional para hoje, quinta-feira, 9, e mais uma grande mobilização no sábado, 11, visando aumentar a pressão sobre o governo, que se recusa a renunciar ao projecto.
A proposta do governo consiste num sistema universal por pontos que substituiria os 42 regimes especiais vigentes, e uma idade de referência de 64 anos – à qual seria necessário chegar para evitar cortes nas pensões de reforma – embora mantendo a idade oficial de aposentação nos 62 anos.
Embora não esteja à vista o fim da crise, dadas a firmeza dos trabalhadores e seus sindicatos e a intransigência do governo, este parece apostar no cansaço do movimento grevista.
Mais adesões à greve
e novas manifestações
Os anúncios dos últimos dias de mais protestos e de novas adesões à paralisação sugerem que o conflito entre governo e sindicatos não tem solução à vista, apesar de as duas partes terem retomado nesta semana conversações, que no passado – em reuniões que decorreram a 18 e 19 de Dezembro – foram descritas pela imprensa como «diálogo de surdos». Agora, o primeiro-ministro, Edouard Philippe, embora insista que a proposta não será retirada, assegura que ainda não está tudo dito sobre as alterações previstas.
Tão-pouco despertou esperanças de uma saída o discurso de fim de ano do presidente Emmanuel Macron, garantindo o avanço da reforma do sistema de aposentações, acompanhada pelos actores sociais dispostos a apoiá-la.
A posição dos opositores à proposta governamental não é uniforme, já que, enquanto a CGT e outras centrais sindicais exigem a sua anulação e o começo de negociações para aperfeiçoar o actual sistema, forças mais recuadas, como a Confederação Francesa Democrática do Trabalho (CFDT), apenas pedem que seja eliminada a idade de referência.
Na semana passada, o colectivo SOS Aposentação, formado por 16 profissões beneficiadas por regimes de reforma autónomos (enfermeiros, advogados, contabilistas, entre outras), decidiu juntar-se à greve, assim como alguns sectores da companhia Air France, como o das hospedeiras.
Os franceses estão, pois, particularmente atentos às datas de 9 e 11, com as novas manifestações marcadas pelos sindicatos, e de 22 de Janeiro, em que o projecto de lei sobre as pensões de reforma será apresentado em conselho de ministros.
De acordo com uma sondagem divulgada no dia 3, feita pela Odoxa-Dentsu Consulting, 75 por cento dos franceses acha que o governo deve abandonar ou modificar o polémico projecto. O estudo, realizado para o portal FranceInfo e o diário Le Figaro, revela também que seis em cada 10 inquiridos considera «justificado» o movimento grevista. Três em cada quatro entrevistados reconhecem ter sido afectados pelas paralisações, que atingem sobretudo o sector dos transportes públicos.