Acto de guerra e escalada de agressão dos EUA no Médio Oriente
AGRESSÃO Os ataques militares no Iraque e o assassinato de um dos mais altos responsáveis militares do Irão, perpetrados pelos EUA, constituem, para o PCP, um inequívoco acto de guerra cujos desenvolvimentos podem ter consequências profundamente negativas para os povos do Médio Oriente e repercussões em todo o mundo. Os acontecimentos sucedem-se a um ritmo vertiginoso.
Uma nova guerra pode eclodir a qualquer momento
O Partido reagiu assim à morte – na sexta-feira, 3 de Janeiro – de Qassem Soleimani, comandante do Corpo de Guardiões da Revolução Islâmica (IRGC), Al-Qods, num ataque, ordenado pelo presidente dos Estados Unidos da América (EUA), Donald Trump, com um drone (aparelho aéreo não tripulado), junto ao aeroporto internacional de Bagdade. No mesmo ataque morreram também o «número dois» da coligação da Mobilização Popular (Hachd al-Chaabi, iraquiana),Abu Mehdi al-Muhandis, e outras pessoas.
Quatro dos cinco membros permanentes do Conselho de Segurança das Nações Unidas – Rússia, França, Reino Unido e China – alertaram, de imediato, para o inevitável aumento da tensão na região. O quinto elemento são os EUA.
Violação grosseira
Este «ataque militar» representa um «gravíssimo passo na escalada de tensão, provocação e agressão protagonizada pelos EUA e Israel no Médio Oriente – em que se integra a violação pelos EUA do “Acordo Nuclear sobre o Irão” e a ofensiva contra este país –, visando impor a hegemonia do imperialismo norte-americano em toda a região», afirma o PCP, em nota do seu Gabinete de Imprensa de 5 de Janeiro.
O assassinato do general iraniano foi considerado pelas autoridades iraquianas como uma «violação grosseira da soberania» e uma «agressão» ao Iraque, país invadido e ocupado pelos EUA, na sequência duma campanha de mentiras e guerra.
«Após três décadas de agressões imperialistas que semearam a morte e a destruição no Médio Oriente, a política belicista e agressiva dos EUA ameaça conduzir o planeta a uma nova guerra de grandes proporções», acrescenta o comunicado.
Silêncio cúmplice
Registando a«não condenação desta clara afronta dos EUA ao direito internacional por parte de entidades como a União Europeia», o PCP considera que o Governo português, que acolheu recentemente em Portugal um encontro entre dois dos mais importantes protagonistas da política belicista e de violação do direito internacional – Michael Pompeo, secretário de Estado dos EUA, e Benjamin Netayahu, primeiro-ministro de Israel – deve, de forma clara, «condenar este acto de guerra e escalada de provocação, sob pena de se tornar cúmplice dos crimes de guerra» de Donald Trump e Benjamin Netayahu e «associar ainda mais Portugal às políticas incendiárias e criminosas do imperialismo».
Reclamando o «não envolvimento de forças militares ou militarizadas portuguesas em agressões e intervenções contra outros povos, contrárias ao interesse e à segurança nacional», o Partido considera «urgente a retirada do contingente militar português estacionado no Iraque».
Ameaça à paz
O Conselho Português para a Paz e Cooperação (CPPC) recorda, por seu lado, o «papel fundamental» que Qassem Soleimani teve «nas vitórias alcançadas sobre os grupos terroristas criados, financiados e armados pelos EUA e seus aliados, que operam na Síria e no Iraque», desde logo o chamado Estado Islâmico.
«O assassinato do general iraniano, cuja ordem partiu directamente do Donald Trump, é um acto de guerra destinado a escalar ainda mais o conflito no Médio Oriente e na Ásia Central», considera o CPPC, alertando para o perigo de que o «atentado» possa ser «o rastilho para um novo conflito», cuja responsabilidade «só poderá ser imputada aos EUA». Este é, conclui, mais um exemplo que revela que são os EUA a «principal ameaça à paz» em todo o mundo.
Intensificação da tensão
O Movimento pelos Direitos do Povo Palestino e pela Paz no Médio Oriente (MPPM), também em comunicado, assinalou o facto de os EUA terem definido, há muito, «o Irão como um alvo central, nomeadamente pelo seu apoio à resistência do povo palestino contra a ocupação israelita e pelo seu papel decisivo para conter a agressão externa à Síria».
«Os EUA, que continuam a ocupar militarmente o Iraque, escolheram deliberadamente a via da intensificação da tensão, rompendo o acordo de limitação nuclear com o Irão e agravando as sanções contra este país, arrogando-se até para tal uma jurisdição extraterritorial que impõem a outros países», aponta o MPPM, frisando: «É elucidativo que os grandes impulsionadores da campanha anti-iraniana dos EUA sejam dois dos países mais agressivos da região, Israel e a Arábia Saudita».
«Israel desvia as atenções do mundo da violação reiterada de resoluções da ONU, da sua criminosa política de ocupação, repressão e massacre do povo palestino, da sua arrogante intervenção contra os países da região, ao ponto de levar a cabo bombardeamentos ao território iraquiano. Por seu lado, a rica, retrógrada e repressiva petromonarquia saudita procura fazer esquecer a sua permanente ingerência nos assuntos de outros povos e a sua primordial responsabilidade pela guerra de extermínio lançada contra o Iémen, o mais pobre país da Península Arábica», esclarece o Movimento.
Milhões despedem-se do general Qassem Soleimani
Anteontem, 7, na cidade de Kerman, no Sul do Irão, dezenas de milhares de pessoas participaram no último adeus a Qassem Soleimani, que contou com a presença, uma vez mais, do líder supremo iraniano, ayatollah Ali Khamennei. No dia anterior, segundo as autoridades iranianas, milhões de pessoas concentraram-se em Teerão – e noutras cidades do país – para prestar homenagem ao general e às restantes vítimas do ataque aéreo norte-americano. As cerimónias fúnebres contaram, entre muitos outros, com a presença do líder do grupo palestiniano Hamas, Ismail Haniyeh.
No domingo, o Irão anunciou que deixará de respeitar os limites impostos pelo tratado nuclear assinado em 2015 com os cinco países com assento no Conselho de Segurança das Nações Unidas – Rússia, França, Reino Unido, China e EUA – mais a Alemanha. Recorde-se que os EUA abandonaram unilateralmente o acordo em Maio de 2018, impondo violentas sanções contra o Irão e iniciando uma escalada de provocação, incluindo com o aumento da sua presença militar junto às fronteiras desse país.
No Iraque, o parlamento aprovou uma resolução em que pede ao governo para terminar com a presença das forças militares estrangeiras no país e com o acordo estabelecido com os EUA em 2016, que justifica a presença de mais de cinco mil militares norte-americanos em território iraquiano a pretexto do combate ao designado Estado Islâmico.
TUDEH apela à paz na região
O Comité Central do Partido do Povo (TUDEH) do Irão – que continua ilegalizado no seu país e mantém uma firme oposição ao poder iraniano – sublinha a urgente necessidade de intensificar os esforços para preservar a paz na região e enfrentar as políticas aventureiras e perigosas do imperialismo americano.
O assassinato de Qassem Soleimani, por ordem do presidente dos EUA, em clara violação da soberania nacional iraquiana e de todo o direito internacional, pode, sem dúvida, representar riscos mortais para toda a região do Médio Oriente, adverte, em comunicado, frisando que a acção da administração norte-americana ocorre quando Donald Trump está confrontado com um julgamento de impeachment no Senado dos EUA por abuso de poder e se aproximam as eleições para escolher um novo presidente.
O TUDEH acredita que todos os esforços devem ser feitos para evitar a escalada da crise na região e a condução de tensões em direcção a perigosos conflitos militares. E acrescenta que, no Irão, o povo se encontra bem ciente das catástrofes que o guerra trouxe no passado, pelo que se preocupa com a perspectiva de outra guerra.
Os conflitos no Médio Oriente beneficiarão apenas as formas mais reaccionárias e anti-populares da região e do mundo, acentua o Partido do Povo do Irão, que, ao contrário de outras forças, como os monárquicos e a Organização dos Mujahidin do Povo Iraniano (agentes da administração Trump que exigem uma intervenção militar contra o Irão), considera que a intensificação de conflitos militares certamente prejudicará os povos iraniano e iraquiano.
A luta para preservar a paz e impedir as forças de guerra na região do Médio Oriente, a fim de defender os interesses dos trabalhadores e da nação iraniana, é de extrema importância, reafirma o TUDEH, que apela às forças progressistas, amantes da liberdade e da paz do Irão, da região e de todo o mundo, para envidarem todos os esforços para mobilizar a opinião pública contra a escalada de tensões e os perigosos e letais conflitos militares na região.