Jornadas apagadas

As jornadas parlamentares, até pelo que delas normalmente resultam em termos do anúncio de propostas por parte dos grupos parlamentares, são normalmente alvo de grande atenção mediática. O PCP realizou as suas primeiras jornadas parlamentares após as eleições legislativas de 2019 (e as primeiras de qualquer grupo) nos dias 5 e 6 de Dezembro, em Évora. Delas saíram várias propostas, como noticiou o Avante! na sua última edição.

Já quanto à cobertura noticiosa pelos restantes jornais, não se pode dizer o mesmo (com raras excepções). Um dos diários nacionais limitou-se a duas pequenas caixas nas últimas páginas das suas edições de sexta (dia 6) e sábado (dia 7), através das quais apenas se percebe que foi anunciada uma proposta para a concretização da regionalização. Outro dos principais diários, apesar da ampla atenção que tem vindo a dar ao tema da regionalização nos últimos meses, também resumiu as conclusões a uma caixa, um pouco maior do que a do seu concorrente mas ainda assim que não ocupava um sexto da página, na sua edição de sábado. Na sexta, também se limitou a referir a regionalização, aí com mais espaço mas recorrendo a um outro truque: mostrar a posição do PCP como se esta tivesse surgido em resposta à vontade do Presidente da República de obstaculizar a concretização deste comando constitucional – escondendo, precisamente, o património de intervenção do PCP sobre a matéria (mesmo quando mais ninguém falava do tema).

Mas o prémio para a maior operação de ocultação das jornadas parlamentares do PCP não cabe a nenhum jornal. Cabe sim a uma das estações de televisão generalista, que resumiu todo o trabalho das jornadas parlamentares, ao longo de dois dias, a uma única peça em sinal aberto. Foi no jornal das 20h00, na sexta-feira, depois de, por opção editorial, nada ter passado nos noticiários das 13h00 e das 20h00 de dia 5, assim como às 13h00 no dia 6. A mesma estação que teve tempo nestes vários noticiários para mostrar o comboio em que Greta Thunberg viajaria até Madrid, para relatar a enésima peripécia processual da Operação Marquês, ou os lamentos de uma universidade privada por não lhe ser dado aval ao sonho de ministrar um curso de Medicina. Foram estas as notícias que se impuseram e obrigaram essa estação a não dar uma imagem ou um som das jornadas parlamentares do PCP.

O lançamento da peça, na sexta à noite, até surgiu de forma estranha. Dizia o pivô que o PCP encerrou as suas jornadas parlamentares, mas aquela estação nunca deu a notícia do seu início. Nos dois minutos, viram-se imagens do exterior e do interior do Teatro Garcia de Resende, mas só nos últimos segundos passaram imagens de uma das visitas, ainda que completamente descontextualizadas. Foi também nesses últimos parcos segundos que lá apareceu a única referência a uma das muitas propostas apresentadas (também a regionalização). De resto, apenas se ouviram referências à proposta de Orçamento do Estado (que na altura ainda não existia) e ao conhecimento ou desconhecimento, ou ao acordo ou desacordo do PCP em relação a esta.



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