- Nº 2401 (2019/12/5)

Não há garantias na Bolívia para novo processo eleitoral

Internacional

CRISE A Bolívia vive uma profunda crise política no meio de uma aparente paz, após o golpe de Estado contra o presidente constitucional Evo Morales, forçado a renunciar ao cargo e desde então asilado no México.

Na Bolívia, fala-se em eleições, avança-se com a formação do Tribunal Supremo Eleitoral e surgem os primeiros nomes de possíveis candidatos presidenciais. Embora a ex-presidente do Senado, Adriana Salvatierra, advirta que não existem garantias para novo processo eleitoral, sobretudo pela perseguição e detenções arbitrárias desencadeadas contra o MAS pelo governo de facto instalado em La Paz

Para os apoiantes de Evo Morales e em representação do Movimento para o Socialismo (MAS), o vice-presidente da coordenadora das Seis Federações do Trópico de Cochabamba, Andrónico Rodríguez, perfila-se como possível candidato. Numa entrevista à agência Sputnik, Rodríguez disse que poderia candidatar-se se tiver o apoio de Morales, mas esclareceu que nada está definido, a questão está a ser debatida.

Asilado no México, impedido pelas autoridades golpistas de se apresentar a votos, Evo Morales, em entrevista ao diário argentino Página 12, afirmou que o candidato do MAS deve representar os humildes, ter consciência social, capacidade de gestão pública e formação ideológica. O importante, realçou, é «continuar com o processo de mudança» iniciado há 13 anos.

No outro lado do espectro político, nos sectores mais reaccionários da direita boliviana, um dos cabecilhas do golpismo, Luis Camacho, anunciou que vai candidatar-se às eleições presidenciais, ainda sem data marcada.

Prometidas pelo governo de facto em La Paz, as eleições serão, caso se realizem, a institucionalização do golpe de Estado contra Evo Morales, vencedor do escrutínio de 20 de Outubro, com mais de 10% de vantagem sobre o principal candidato oposicionista, Carlos Mesa. Antes e depois dessa votação, forças políticas da direita agitaram a ideia de fraude eleitoral, o que foi avalizado pela Organização de Estados Americanos (OEA), mas não foram provadas quaisquer irregularidades eleitorais.

Para evitar o derramamento de sangue, Evo Morales renunciou a 10 de Novembro ao cargo de presidente da República, pressionado pelos altos comandos militares, pela polícia amotinada e por uma onda de violência promovida pela direita, num golpe desde há muito preparado, com o apoio dos Estados Unidos e seus aliados na região.

Em menos de 72 horas, uma senadora oposicionista, Jeanine Áñez, proclamou-se presidente interina e, nos dias seguintes, começou a desmantelar a estrutura de governação que em 13 anos transformou, em benefício da maioria dos bolivianos, a economia do país.

Após a onda de repressão policial e militar sobre os populares que se manifestaram contra o golpe de Estado – registaram-se 30 mortos, 800 feridos e 1500 detidos –, continua hoje a perseguição política aos membros do MAS e de outras forças democráticas e a imposição de figuras da direita em postos decisórios do país.